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Ajuda e dicas de tradução e legendagem

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FragaCampos:
Orientações para legendagem
Importante: Consultar o tutorial de Subtitle Workshop, o melhor programa gratuito para traduzir e legendar.


•01
O tempo mínimo de uma legenda deve ser de 1 segundo e o tempo máximo de 7, embora este último possa variar. No entanto se uma frase de 5,6 segundos, por exemplo, puder ser lida facilmente em duas de 2,8 segundos, esta segunda alternativa é sempre preferível.


•02
O número máximo de caracteres por linha deve ser de 38, podendo excepcionalmente ir aos 40. Atenção que os símbolos de itálico, o i entre <>, "não contam" como caracteres, já que não vão aparecer quando estivermos a visionar o vídeo. Por isso, uma linha que tenha 43 caracteres, com os caracteres < i> no início, é válida.


•03
Colocar em itálico as frases que estiverem a ser proferidas pelo narrador, mesmo que seja este o único a falar durante todo o documentário. Em itálico também devem ficar: frases vindas de gravações, televisão, rádio, telefone, etc., ou de uma voz de alguém que não esteja presente no espaço filmado.

•04
Sempre que houver uma frase que não a do narrador que contenha um estrangeirismo, neologismo, calão, uma palavra inventada ou sem tradução, esta deve ficar também em itálico. Ex: O cowboy caiu.


•05
Uma legenda deve coincidir sempre em tempo ao que está a ser dito.
Por exemplo, uma pessoa está a dizer 2 frases, mas a legenda correspondente à sua frase só aparece quando a pessoa já a começou a dizer. Isto não deve acontecer e é muito importante.


•06
O aspecto visual da legenda tem bastante importância, especialmente se esta tiver duas linhas.
Sempre que possível, a legenda de cima deve ficar com menos caracteres do que a de baixo e não o contrário.


•07
As legendas nunca devem terminar da seguinte forma:

legenda 1 -> Ele foi a Lisboa e ficou por
legenda 2 -> lá a passear.

É sempre preferível a seguinte forma:

legenda 1 -> Ele foi a Lisboa
legenda 2 -> e ficou por lá a passear.

O "e" que serve de elemento de ligação deve ficar, de preferência, no início e nunca no fim de uma linha.


•08
No caso de um diálogo, o travessão deve ser seguido de um espaço.


•09
As aspas devem utilizar-se quando estamos a citar alguém, quando se traduz um termo irónico ou nomes de obras literárias, cinematográficas e outras.
Exemplos:
- Ele disse: "Tenho algo para te dar."
- O livro "O Código de DaVinci" foi um sucesso de vendas.



Orientações para tradução
Sítios de auxílio à tradução:
» Ciberdúvidas
» Priberam (consultar "Dúvidas linguísticas", "Gramática" e "Abreviaturas".
» Flip
» Infopédia
» Léxico
» MacMillan Dictionary
» Merriam-Webster
» Dictionary.com
» Convert World
» Online Conversion
» Xe




•01
Tentar traduzir o mais fielmente possível, ou seja, traduzir exactamente aquilo que está a ser dito, de modo a não distrair quem vê e a ser o mais exacto na mensagem que se está a querer passar. No entanto, traduzir fielmente não quer dizer que se tenha de traduzir tudo. É preciso saber manter um equilíbrio entre o que se pode omitir de modo a não estender demasiado as frases. O poder de síntese é muito importante e requer alguma prática para não deturpar o sentido da frase.


•02
Nomes próprios, devem ser o mais exactos possíveis, especialmente quando a tradução é de raiz. Pesquisar no Google ajuda em 90% dos casos. Os nomes devem ser sempre começados por uma maiúscula.


•03
A pontuação é importante. Não esquecer de terminar as frases sempre com ".", "!" ou "?". Nunca repetir estes dois últimos.
No caso de uma frase que indica admiração, espanto ou indignação, a forma de terminá-la é com "!?"


•04
Não utilizar as reticências "..." quando se passa de uma legenda para a outra. Apenas quando a frase fica suspensa, quando alguém muda abruptamente de assunto ou quando se faz uma pausa muito grande.


•05
Os nomes próprios (pessoas, instituições, disciplinas, países, planetas), acontecimentos importantes devem começar por letra maiúscula. (ver igualmente o ponto 28)


•06
A referência a séculos deve ser sempre feita em numeração romana.
Ex: Chegámos à Índia no séc. XV.


•07
Os números nunca devem ser separados por pontos. Ex: Aos 5800 metros é difícil respirar.
Portanto, deve escrever-se:
1 437 385,327 61
e não 1.437.385,327.61
nem 1437385,327661
nem tão-pouco 1:437:385,327:61

Quando se trata de números decimais, separar por vírgulas. Ex: Ele saltou 4,98 metros.
Dica: no caso de milhares exactos, como 2000, visualmente fica melhor colocar "2 mil".


•08
Deve sempre procurar-se fazer as conversões para o nosso sistema. Fahrenheit para graus celsius, milhas para metros ou quilómetros, galões para litros, câmbios, etc.
As grandezas devem ser separadas dos valores.
Ex: 15 km e não 15km. 40 ºC e não 40ºC.


•09
Traduzir Mr. e Mrs. para Sr. e Sra.


•10
Evitar as redundâncias do tipo:
O João vai pela IC2, mas, depois, ele volta pela A1 - aqui o "ele" é escusado pois já está implícito que se está a referir ao sujeito inicial.


•11
Atenção aos falsos cognatos (o que é?)
Existe uma lista muito boa aqui.


•12
No final de cada tradução, utilizar sempre um corrector ortográfico. Há sempre qualquer coisa que escapa. O do Microsoft Word que é muito bom e o Subtitle Workshop também o tem incorporado (Ctrl+I).



Dúvidas gramaticais

Sítios de auxílio:
» Ciberdúvidas
» Priberam (consultar "Dúvidas linguísticas", "Gramática" e "Abreviaturas".
» Flip



•01 "à" ou "há"?
•02 "Havia" ou "Haviam"?
•06 "Porque" ou "Por que"?
•08 "Demais" ou "De mais"?
•09 "Se não" ou "Senão"?
•10 "Ter de" ou "Ter que"?
•13 "Enquanto que" ou "Enquanto"?
•14 "Presidir a" ou "Presidir ao"?
•15 "Estar para" ou "Estar por"
•16 A tradução de "eventually"
•17 "Informar que" ou "Informar de que"?
•18 Maiúsculas em símbolos químicos
•19 O uso das vírgulas
•20 O uso da vírgula e do vocativo




•01
"à" ou "há"?
"Há" deriva sempre de algo relacionado com tempo e do verbo haver.
Exemplos:
Há 50 anos era tudo diferente. (nota que é escusado escrever "Há 50 anos atrás", porque seria uma redundância, já que o verbo haver já implica passado)
Há 50 pombos no pombal.
Há vários pontos a considerar.

"À" é um artigo definido e utiliza-se antes de um substantivo:
À Maria vou dar um queijo.
Sábado vou à Serra da Estrela.



•02
Havia ou haviam?

A flexão do verbo haver varia consoante o seu emprego. Assim, quando este é empregue como verbo principal, com os sentidos de “existir” (em 1.a), de "ter decorrido" (em 2.a) e de “acontecer” (em 3.a), ele é impessoal, i.e., utiliza-se apenas na 3ª pessoa do singular. Daí a má formação das frases 1.b), 2.b) e 3.b), assinaladas com asterisco (*):

1. a) Houve muitos deputados investigados.
b) * Houveram muitos deputados investigados.
2. a) Havia duas horas que estava à espera.
b) * Haviam duas horas que estava à espera.
3. a) Na semana passada houve muitos acidentes.
b) * Na semana passada houveram muitos acidentes.

Quando é empregue como verbo principal com outros sentidos que não os de "existir", "ter decorrido" ou "acontecer", é flexionado em todas as pessoas:

4. a) Os organizadores do colóquio houveram por bem encomendar uma sondagem. [achar, considerar]
b) E que bem se houveram os portugueses no confronto! [avir-se]

O verbo haver emprega-se ainda como auxiliar em tempos compostos, sendo também flexionado em todas as pessoas:

5. As encomendas haviam sido entregues.

Como se pode ver pelas frases 4-5, a 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do verbo haver existe, pelo que o conjugador deve incluí-la, não podendo é ser utilizada nos casos em que o verbo é impessoal.

em Priberam



•03
Hífen com o prefixo re-

O uso do hífen deve seguir o disposto no texto legal em vigor para a ortografia portuguesa, o Acordo Ortográfico de 1945, especialmente nas bases XXVIII a XXXII. Não há, nesse acordo, qualquer referência ao prefixo re-, pelo que, por omissão de especificação, não deverá usar-se hífen com este prefixo, havendo, quando necessário, adaptações para respeitar as regras da ortografia (ex. re- + ratificar =rerratificar; re- + surgir =ressurgir; re- + hidratar = reidratar). É esta a posição de Rebelo Gonçalves no seu Tratado de Ortografia, integrando o prefixo re- entre os que "não serão, em caso algum, seguidos de hífen".
Como esta é uma dúvida muito frequente com outros prefixos (ex. pre-), o utilizador da língua deve aprender a fazer inferências de regras a partir de outras palavras registadas pela tradição lexicográfica portuguesa. Assim, em casos como reensaio ou reemissão, será pertinente procurar em dicionários portugueses outras palavras com o prefixo re- seguido da letra e. No Dicionário da Língua Portuguesa On-line, por exemplo, se fizer esta pesquisa escrevendo ree* (que corresponde ao início da palavra seguido de quaisquer caracteres), poderá verificar que há um largo conjunto de palavras que têm o mesmo contexto ortográfico, o que indica que estas palavras estarão assim bem formadas. Se, por outro lado, pesquisar re-e*, não encontrará nenhuma outra palavra registada com o mesmo contexto ortográfico, o que poderá indicar que as grafias re-ensaio ou re-emissão estariam incorrectas.

Bibliografia: REBELO GONÇALVES, Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, Coimbra: Atlântida, 1947, pp. 252-256.



•04
Maiúsculas e minúsculas. Quando utilizar?

1 A letra minúscula inicial é usada:

a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes.

b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera.

c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais vocábulos podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo em grifo): O Senhor do Paço de Ninães, O Senhor do paço de Ninães, Menino de Engenho, Menino de engenho, Árvore e Tambor ou Árvore e tambor.

d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano.

e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas: SW sudoeste).

f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste caso, também com maiúscula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o Cardeal Bembo; santa Filomena (ou Santa Filomena).

g) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também com maiúscula): português (ou Português), matemática (ou Matemática); línguas e literaturas modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas).

 

2 A letra maiúscula inicial é usada:

a) Nos antropónimos/antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D. Quixote.

b) Nos topónimos/topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro, Atlântida, Hespéria.

c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno/ Netuno.

d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da Previdência Social.

e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos.

f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São Paulo (ou S. Paulo).

g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático.

h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H­2O, Sr., V. Ex.ª.

i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em início de versos, em categorizações de logradouros públicos: (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).

Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente.

em Ciberdúvidas



•05
Ganho ou ganhado?

"O verbo secar tem duplo particípio passado: secado e seco. Nos verbos em que este fenómeno acontece, o particípio regular (ex. secado) é geralmente usado com os auxiliares ter e haver para formar tempos compostos (ex. a roupa já tinha secado; havia secado a loiça com um pano) e as formas do particípio irregular (ex. seco, seca, secos, secas) são usadas maioritariamente com os auxiliares ser e estar para formar a voz passiva (ex. a loiça foi seca com um pano; a roupa estava seca pelo vento) e assumem mais facilmente o papel adjectival (ex. este bolo ficou demasiado seco). Por este motivo, é usual não haver flexão do particípio regular, pois este não é geralmente usado como adjectivo, não flexionando em género, número ou grau (ex. *secada, *secados, *secadas; *muito secado; o asterisco indica agramaticalidade).
Estas considerações, tomadas da gramática tradicional, têm no entanto muitas excepções, o que evidencia a problemática da questão e a ausência de respostas peremptórias para certas questões linguísticas. A título de exemplo, podemos referir que há verbos cujo particípio abundante não é consensual (com resoluto e resolvido, por exemplo, não é claro se o primeiro é particípio irregular de resolver ou adjectivo cognato; relativamente ao verbo ganhar não é unânime a existência do particípio ganhado a par de ganho); há verbos cujo particípio regular, ao contrário de secado, também tem uso adjectival (ex. confundido,empregado); há até indicações de alguns gramáticos para diferenças de utilização dos dois particípios baseadas em critérios semânticos e não sintácticos (por exemplo, Cunha e Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo [lisboa: Ed. João Sá da Costa, 1998, p. 442], sugerem que o verbo imprimir só tem duplo particípio quando significa 'estampar, gravar', com o exemplo Este livro foi impresso em Portugal, e não quando significa 'imprimir movimento', com o exemplo Foi imprimida enorme velocidade ao carro)."



•06
"Porque" ou "Por que"?

1 – Escreve-se porque:
a) Quando é conjunção causal:
– "Não saio, porque está a chover."
 b) Quando é conjunção final:
 – "Os portugueses foram para o mar, porque (=para que) descobrissem novos mundos."
 A(c)tualmente, pouco se usa porque como conjunção final, mas era vulgar nos nossos clássicos. No entanto, ainda às vezes se emprega:
 – "Faço votos porque (= para que) sejas feliz."
 c) Quando é advérbio interrogativo:
 – "Porque é que ele não veio?"
 – "Porque fizeste isso?"
 – "Diz-me lá porque faltaste à aula?"
 2 – Escreve-se por que, quando são duas palavras diferentes:
 a) Por (preposição) + que (pronome relativo):
 – "Vinte mil contos é a quantia por que (= pela qual) vendi a minha casa."
 – "Os motivos por que (pelos quais) não vou, já os disse."
 b) Por (preposição) + que (pronome interrogativo adjunto):
 – "Por que (= por qual) razão não vieste?"
 – "Por que (= por quais) livros estudaste?"
 – "Não sei o motivo por que (= pelo qual) não vieste".
 – "Por que esperas? (= por que coisa) esperas?"
 Nota – Não confundir com:
 "Porque esperas?" (= Porque estás à espera?)
 c) Por (preposição) + que (conjunção integrante):
 – "Anseio por que venhas (= anseio que venhas)."

em Ciberdúvidas


•07
Uso do se reflexo

 Sendo o se reflexo objecto directo do verbo, a sua posição normal, no português europeu, é enclítica (depois do verbo): «Lavou-se, vestiu-se e olhou-se ao espelho.»
 Existem, todavia, casos em que não é aceitável, na norma culta, esta colocação:
 1 – Quando o verbo está no Futuro ou no Condicional, o pronome é colocado em situação mesoclítica (no meio do verbo): «Lavar-se-á, vestir-se-á e olhar-se-á ao espelho»;
 2 – Quando o verbo é precedido de palavra negativa, o pronome fica em situação proclítica (antes do verbo): «Nunca se lavou», «Ninguém se olhou ao espelho»;
 3 – Nas orações iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos, é também a próclise que prevalece: «Quem se levantou a meio da noite?», «Por que razão se olha ela ao espelho?»;
 4 – Idem, nas orações iniciadas por palavras exclamativas ou nas que exprimem desejo: «Que se vista rapidamente!», «Deus se compadeça dos vencidos»;
 5 – Também nas orações iniciadas por «quando» se deve colocar o pronome em próclise: «Quando se levantou, era noite escura»;
 6 – Com o gerúndio regido da preposição em: «Em se levantando virá falar consigo».
 Além destes casos, outros há em que a língua portuguesa tende a usar o se reflexo em situação proclítica, tornando-se demasiado longo enumerá-los exaustivamente. Sugiro, pois, que o nosso consulente nos apresente contextos em que a colocação do pronome lhe pareça duvidosa.

em Ciberdúvidas


•08
Demais ou de mais?

Vejamos, então, o que significam demais e de mais. São quatro as acepções a considerar.

A. Demais, uma só palavra, pode ser um pronome ou um determinante indefinido, equivalente a «outros», «outras», «restantes». Exemplos:

(1) «Entraram na igreja só três excursionistas; os demais ficaram a apanhar sol no jardim» (= os outros, os restantes).
(2) «Daquelas senhoras, uma comeu peixe, as demais comeram carne» (= as outras, as restantes).
(3) «Toda a gente já ouviu falar de Luís de Camões, de Fernando Pessoa, de Miguel Torga e dos demais escritores indicados nos programas de Português do ensino secundário» (= os outros).

B. Demais (ou ademais), uma só palavra, também pode ser um advérbio com a função de conector, que significa «além disso», «de resto». Exemplos:

(4) «Esse trabalho é muito difícil; demais, é mal pago» (= além disso).
(5) «Não lhe obedeças; demais, essa determinação não está no regulamento» (= de resto).

C. Demais, uma só palavra, pode ainda ser um advérbio que exprime o modo ou a intensidade e significa «muitíssimo», «excessivamente», «em demasia», «demasiadamente». Emprega-se intensificando formas verbais, advérbios ou adjectivos. Exemplos:

(6) «Ele fuma demais» (= fuma excessivamente, em demasia: o acto de fumar é praticado excessivamente).
(7) «Aquele rapaz dorme demais» (= dorme excessivamente, em demasia).
(8) «A jarra é frágil demais; vai partir-se» (= muitíssimo frágil, demasiado frágil).
(9) «Ele é bom demais» (= muitíssimo bom).
(10) «Obrigada, mas não vou convosco: estou cansada demais» (= demasiado cansada).
(11) «Para aquele pasquim, ele escreve bem demais» (= muitíssimo bem).
 
D. De mais, duas palavras, é uma locução adverbial (formada pela preposição de e pelo advérbio mais) que exprime a ideia de quantidade, de quantificação. Tem um significado equivalente a «a mais», oposta a «de menos», e aparece ligada a substantivos. Traduz a ideia de quantidade, e não a de modo (a de intensidade). Exemplos:

(12) «Comprei discos de mais» (= comprei mais discos do que devia).
(13) «São de mais os livros que tenho para ler» (= são mais livros do que aqueles que tenho tempo para ler; são livros a mais).
(14) «O chá tem açúcar de mais» (= tem mais açúcar do que devia).
 
Ainda um esclarecimento acerca do conteúdo dos pontos C e D: demais emprega-se nas situações em que se empregaria um advérbio, ou seja, uma palavra invariável, enquanto de mais se emprega quando se empregaria um quantificador, ou seja, uma palavra variável que quantifica um substantivo.
Exemplos:

(15) «Ele trabalha demais» (= ele trabalha muito – invariável, pois o advérbio modifica um verbo, o verbo «trabalhar»).
(16) «A jarra é pequena demais» (= a jarra é muito pequena – invariável, pois o advérbio modifica um adjectivo, o adjectivo «pequena»).
(17) «Ele tem problemas de mais para resolver» (= tem muitos problemas – variável, pois trata-se de um quantificador do nome «problemas»).
(18) «Neste canteiro há flores de mais» (= há muitas flores – variável, pois trata-se de um quantificador do nome «flores»).

A este propósito, gostaria de referir João Costa, que, na obra O Advérbio em Português Europeu (Edições Colibri, 2008, pp. 63-64), estabelece a diferença entre advérbios de quantidade e grau (entre os quais, refere o advérbio demais) e quantificadores. Refere este autor que muitos dos advérbios de quantidade e grau «podem ser utilizados como quantificadores no sintagma nominal» e que «a diferença entre advérbios e quantificadores pode ser detectada pelo facto de apenas estes flexionarem em género e número», acrescentando que «os advérbios, sendo palavras invariáveis, não apresentam estas marcas de flexão». E dá os seguintes exemplos:

  (19) «Tenho bastantes livros» (bastantes – quantificador)
  (20) «Já sei bastante» (bastante – advérbio)
  (21) «Tenho muitos livros» (muitos – quantificador)
  (22) «Comi muito» (muito – advérbio).



•09
O uso de "senão" e "se não"

A) Se não - Conjunção condicional se e o advérbio de negação não. Eis as seguintes frases:
1) Se não = caso não: Vou passear se não chover (= caso não chova).
2) Se não = quando não: Isso parece solução difícil, se não impossível: (=... quando não impossível) se não for impossível.
3) Antigamente, tal solução seria boa, se não óptima (= quando não óptima/se não fosse óptima).
Como vemos, nas frases 2 e 3, casos há em que podemos subentender o verbo ser.
2. Se não - Advérbio interrogativo se e advérbio de negação não:
4) Perguntei-lhe se não concordava comigo.
5) Eu queria saber se não vais ao Algarve.
Nas frases 4 e 5, à palavra se chamam no Brasil conjunção integrante. É preferível a nossa denominação.
B) Senão - Pode ser conjunção e substantivo. E entra em locuções.
1 - Conjunção, quando significa:
a) a não ser, excepto, mais do que:
6) Não fazes mais nada senão trabalhar.
7) A Maria não é mais senão (e do que) uma linda flor.
b) mas, mas sim, mas também.
8) Ajudar o próximo não pertence ao governo, senão a todos nós.
c) caso contrário, de contrário:
9) Fecha a janela, senão entra o frio.
Em frases como esta, podemos empregar se não, se subentendermos o verbo anteriormente empregado. Mas temos de modificar a pontuação:
10) Fecha a janela. Se não (a fechares), entra o frio.
2 - Substantivo
Como substantivo, significa defeito, erro:
11) O Manuel tem um senão muito grave: é egoísta.
12) Não faças isso, porque é um senão muito grande.


•10
"Ter de" ou "Ter que"?

Ter de exprime o dever, a obrigação, a necessidade. Exemplos: «ele tem de estudar mais»; «temos de nos ir embora»; «tenho de me levantar cedo», «tenho de te dar razão».

Em relação à expressão ter que, a tradição normativa considera que está subentendido «algo» ou «muito» ou «alguma coisa» entre o verbo ter e o que, devendo este ser interpretado como pronome relativo («ter alguma coisa que...»).

É de coisa ou assunto que se trata, e não de dever. Exemplos: «não têm
que comer» (= não há comida que eles tenham); «não posso ir ao cinema; tenho que fazer» (= há muitas coisas para eu fazer); «ele percorreu meio mundo; tem muito que contar» (= tem muitas coisas para nos contar); «esta resposta não tem que ver com a pergunta» (= não tem nada que ver, não tem nenhum aspecto, nenhum assunto que possa ser relacionado com a pergunta).


•11
União das preposições com os artigos indefinidos

Devemos empregar de um, e também de o (e não do), quando a preposição de não se ligar ao artigo que se lhe segue, mas a palavra/s que vem/vêm mais à frente:
(1) O facto de uma pessoa trabalhar...
(2) O facto de um aluno ser mal comportado...
A preposição de não se encontra ligada ao artigo, mas às palavras sublinhadas à direita.
O mesmo se dá com de + pronome/determinante:
(3) Apesar de este director estar livre...
(4) A resolução de ele ir ao Porto...
(5) Já é tempo de aquelas pessoas terem juízo.
(6) Depois de isso estar estabelecido...
(7) Não quer saber o porquê de isto ter acontecido?
Etc., etc.


•12
É erro crasso dizer-se que «Fulano foi diagnosticado com», porque o que foi diagnosticado foi a doença dessa pessoa, e não a pessoa.


•13
"Enquanto que" ou "Enquanto"?

"A expressão "enquanto que" é condenada por Rodrigo Sá Nogueira no seu Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem da forma seguinte:
«Diga-se enquanto sem aquele que. Diga-se, por ex.: 'Pedro estudava enquanto o amigo brincava', em vez de: 'Pedro estudava enquanto que o amigo brincava'. - A construção 'enquanto que' deve ser resultado da analogia com 'ao passo que', que lhe é equivalente, se é que não há aqui influência do francês "pendant que".(...) - Em quanto que provém de imitação do francês "tandis que". Manuel Bernardes, na Nova Floresta, II (1759), 334, tem todavia: 'Mas d'estes conselheiros... dissera eu o mesmo em contrário sentido, em quanto res sacra quer dizer cousa maldita'. - Como se vê, há aqui três sugestões para explicar a construção 'enquanto que': 1.ª -- resultado da analogia com 'ao passo que'; 2.ª -- influência do francês "pendant que"; 3.ª -- imitação do francês "tandis que".
 O brasileiro Napoleão Mendes de Almeida, no seu Dicionário de Questões Vernáculas também mostra não apreciar a expressão:
«O que nem todos sabem é que enquanto também significa 'ao passo que', ou seja, pode ser empregado com sentido adversativo: 'João é estudioso, enquanto António não é' - 'Você se saiu bem, enquanto eu me saí muito mal'.
 «O que nos leva a tratar desta conjunção é precisamente o emprego dela com este segundo significado, pois andam por aí, talvez por causa do 'que' da locução sinônima 'ao passo que', a escrever 'enquanto que'. Nada disto; joguem fora este 'que' e passem a escrever como ficou exemplificado: 'Você se saiu bem, enquanto eu me saí muito mal'.»
 Do Brasil, no entanto, vem Domingos Paschoal Cegalla com o seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa onde se pode ler sobre «enquanto que» o seguinte:
«A conjunção enquanto une orações que expressam: a) fatos simultâneos: Malha-se o ferro enquanto está quente. b) fatos opostos: Uns trabalham enquanto outros se divertem.
 «No segundo caso, para que o contraste entre os dois fatos fique bem nítido, pode-se usar, em vez de enquanto, a locução enquanto que, equivalente a ao passo que: Uns trabalham enquanto que outros se divertem. / Somente alguns criminosos foram presos, enquanto que a maioria deles continua em liberdade. / Para as grandes empresas, o custo do dinheiro ficou em 20% ao mês, enquanto que para as pequenas a taxa atingiu 26%.»
 Nesta questão, como vê, não há unanimidade, embora me pareça que a maioria, até à data, se opõe ao «enquanto que»."

em Ciberdúvidas


•14
"Presidir a" ou "Presidir ao"?

O verbo presidir pode ser (cf. J. Malaca Casteleiro, Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, Lisboa, Texto Editora):

— um verbo intransitivo e rege a preposição a, no sentido de «ter lugar de honra»: «ele preside ao grupo»

— um verbo transitivo, quando significa «dirigir como presidente»: «ele preside o grupo».

em Ciberdúvidas


•15
"Estar para" ou "Estar por"?

Estar para indica iminência de acção: estou para sair (quer dizer: vou sair não tarda nada). Estar por, seguido de infinito, aponta para acção não realizada quanto ao verbo seguinte (está tudo por fazer = nada está feito; estes livros estão por ler = ainda não foram lidos). Estar por usa-se seguido do substantivo ajustes, no sentido de "estar disposto, estar de acordo" (ela não estava pelos ajustes), sobretudo na forma negativa. Claro que há ainda outros empregos de estar por: estar por cima, estar por baixo, estar por muito tempo, etc. (situações de lugar ou tempo). Só o primeiro caso é nitidamente forma perifrástica, por equivaler a um tempo simples, neste caso o futuro do indicativo: estou para sair = sairei (já, daqui a instantes).

em Ciberdúvidas


•16
A tradução de "eventually"

Existe um erro que se vê recorrentemente em traduções do inglês para o português relativamente à palavra "eventually". Se em português "eventualmente" quer dizer "fortuitamente", "possivelmente", "de forma incerta ou imprecisa", "eventually" não se traduz por "eventualmente" já que tem um sentido totalmente oposto, ou seja, "eventually" traduz-se "por fim", "finalmente", "com o tempo", sempre com o sentido de realização e casualidade.


•17
"Informar que" ou "Informar de que"?

Dizemos informar alguém «de alguma coisa», «acerca de alguma coisa», «a respeito de alguma coisa».
Sempre a preposição de, quando dizemos a entidade que informamos e aquilo de que a informamos. Sendo assim, o correcto é:
a) Informo V.Ex.ª de que hoje falto ao serviço.
V. Ex.ª é o complemento directo de informo.
De que hoje falto ao serviço é o complemento circunstancial de assunto de informo. É uma oração integrante.
Quando a frase não menciona a entidade a quem informamos, não se emprega a preposição de, porque a oração integrante passa a desempenhar a função de complemento directo:
b) Informo que hoje falto ao serviço.

em Ciberdúvidas


•18
Maiúsculas em símbolos químicos

Convencionou-se assinalar os símbolos dos elementos químicos com maiúscula [bem como os símbolos das unidades que derivam de nomes próprios (ex.: A, W, Hz)].

Quando os elementos químicos são escritos por extenso (assim como sempre no caso das unidades), escrevem-se com minúscula: hidrogénio, carbono, alumínio. Repare que são nomes comuns, pois designam propriedades comuns de determinadas substâncias, com essas composições atómicas; à semelhança do que fazemos como os compostos químicos com esses elementos, como água, ar, etc.

em Ciberdúvidas


•19
O uso das vírgulas





•20
O uso da vírgula e do vocativo

Esta é uma das formas que devem ser usadas «para isolar o vocativo», como forma de destacar o apelo a determinada pessoa, o destinatário da nossa mensagem.

Exemplos:
- Olá, João.
- Passas-me o sal, Joana?
- Está bem, diretor, leve os documentos amanhã.

shig:
Mais um título para o Fraga: "Professor de português" :tth:
Muito obrigado, uma verdadeira aula.

Light:

--- Citação de: FragaCampos em Sábado, 03 de Setembro, 2011 - 19h47 ---



•03
Colocar em itálico as frases que estiverem a ser proferidas pelo narrador, mesmo que seja este o único a falar durante todo o documentário. Em itálico também devem ficar: frases vindas de gravações, televisão, rádio, telefone, etc.


--- Fim de Citação ---

Não fica meio esquisito a narração em itálico no doc inteiro?
Sendo assim as legendas para os diálogos ficam em modo normal, certo?

FragaCampos:
Sim.

E esta é uma regra que a equipa docsPT usa. Nem toda a gente o faz.

Light:
Deixo aqui o link para um dicionário inglês offline, muito útil como podem calcular.
http://wordweb.info/

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