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Será que ainda gostamos de actores e actrizes? Será que a formatação das telenovelas nos tornou indiferentes a esse evento maravilhoso que pode ser a transfiguração de um corpo (em boa verdade, de uma pessoa) face a uma câmara? João Canijo gosta de actores e actrizes. Gosta de os filmar, claro, mas gosta também de partilhar com eles, até às últimas consequências, os trabalhos de um filme. O seu "Sangue do Meu Sangue" é um exemplo modelar de tal atitude. Agora, temos em DVD a possibilidade de perceber melhor o que tudo isso implica como entrega e como duração, longa duração: "Trabalho de Actriz, Trabalho de Actor" é um documento fascinante sobre os dois anos de preparação de "Sangue do Meu Sangue". Documento, não exactamente documentário. É uma simples questão de nomenclatura, mas envolve uma diferença que vale a pena sublinhar. Na verdade, como o próprio Canijo teve oportunidade de sublinhar, tratou-se sobretudo de criar um registo que pudesse ser útil para quem também é actor ou actriz, em particular para as escolas de representação. Quer isto dizer que "Trabalho de Actriz, Trabalho de Actor" não obedece à lógica corrente dos making of. O que temos é um bloco notas capaz de integrar as dúvidas, hesitações e revelações de um processo que, como se prova, tem tanto de racional como de instintivo, envolvendo as decisões mais racionais e também os gestos mais impressionantes. Assistimos, assim, ao labor de um elenco (Rita Blanco, Cleia Almeida, Anabela Moreira, etc.) que se inventa e reinventa na procura das suas personagens e, com elas, da história em que existem. Mais do que uma descrição didáctica, é uma celebração da subtileza e complexidade que o trabalho cinematográfico pode envolver.