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Secção de Debate => Discussões => Discussão geral => Tópico iniciado por: Madeira em Sábado, 24 de Novembro, 2007 - 17h05

Título: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: Madeira em Sábado, 24 de Novembro, 2007 - 17h05
Já ouviram falar disto: http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=307437&visual=26  ?   :eek: :cry: :rant:

Eu só ouvi hoje (oje) e fiquei boquiaberto.  :oh:  :eek:



Então mas será que eu tenho que abdicar de 1,6% da minha Língua Materna para que esta fique "Uniformizada" com as dos países onde a levámos e que depois aí sofreram uma evolução diferente da nossa? Mas será que isto tem alguma lógica na cabeça de alguém? Se isto tivesse mesmo que ir para a frente e se houvesse (ai esperem se calhar tenho que escrever "ouvesse" Sad ) algo de proveitoso a retirar desta uniformização, porque não deveriam ser os outros países aos quais levámos a nossa língua a adoptá-la (adotá-la) na integra?

Será que em Inglaterra, penso eu, o berço da Língua Inglesa, também é possível acontecer algo do género em relação aos países que adoptaram (ooops. adotaram Sad . Há medida que começo a ver as palavras que virão a ser alteradas ainda começo a ficar mais estupefacto.) o seu idioma? Tipo passar "hello" a "ello", "hell" a "ell". Isto se se verificasse que acontecia noutros países, está claro. Não tenho conhecimento que se escrevam essas palavras desse modo em algum país, mas por certo têm diferenças entre si. Quem fala dos ingleses, fala dos espanhóis, holandeses (lá estou eu, "olandeses", alemães e por aí em diante.

E porque carga de água não foi pedido a opinião pública sobre este assunto? Será por o governo brasileiro estar desejoso que este acordo seja "finalmente" posto em prática no final do ano - pudera, só verão cerca de 0,45% do seu vocabulário modificado - devido a algo que nos tenham oferecido em troca? Não me admiro nada...
Afinal parece que vivemos no mundo dos favorzinhos, especialmente se estes não afectarem (afetarem) os seus autores, mas as pessoas que representam, neste caso apagando todo um passado linguístico que é urgente preservar.

Em suma, bem sei que o Brasil é bem maior que nós e mais poderoso, mas será que temos que ser nós a abdicar de parte do nosso vocabulário.
Parece que estamos a assistir a uma "colonização inversa".  :rant:

P.S. Espero que não pensem com isto que tenho algo contra os países de Língua Portuguesa. Tenho tudo a favor, e não quero de modo algum comparar as colonizações que foram feitas, com a que referi em cima. Talvez se possam comparar numa escala de 1000:1, mas não deixa de ser possível comparar. O mais forte leva vantagem sobre o mais frágil. Enfim... é o mundo em que vivemos.  :nah:

Deixo-vos alguns exemplos pelo que eu depreendi:

" Os portugueses deixarão, por exemplo, de escrever «húmido» para usar a nova ortografia - «úmido».
Desaparecem também da actual grafia em Portugal o «c» e o «p» nas palavras em que estas letras não são pronunciadas, como em «acção», «acto», «baptismo» e «óptimo»."
"Passará a escrever-se: creem, leem, deem e veem."
"Com a incorporação do «k», «w» e «y», o alfabeto deixará de ter 23 letras para ter 26."

Vai ser bonito vai.  :cry:
Já estive a ver se vou dando uns toques, para me ir habituando (abituando. Esta não me passou despercebida. :no: )

Assinem todos a petição...
Todos os que tiverem de acordo, claro.  :<)
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: kirin em Sábado, 24 de Novembro, 2007 - 17h20
E pronto... acabei de apagar o tópico em que falei disto 5 minutos depois de ti...  :tongue:

Para não estar a voltar a pensar no assunto, fica aqui o conteúdo do outro:
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A intenção já não é nova e mesmo a notícia já tem umas semanas, mas acho que merece uma discussão.

Notícia 1 (http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=4&id_news=303923)
Notícia 2 (http://www.observatoriolp.com/cgi-bin/main?mmod=newsdet&id=867)

De uma forma resumida, pretende-se harmonizar a grafia nos vários países de língua portuguesa. Apesar de me parecer haver algumas mudanças benéficas, como a introdução das letras k, w e y no alfabeto, sou da opinião que se arranjou uma solução para a qual não havia um problema... :hmmm:

Pessoalmente, acho que a língua é um dos muitos elementos identificativos de um região, e parece-me um erro tentar harmonizá-la por decreto. Se um português é diferente de um brasileiro, porque hão-de escrever da mesma forma? Não terá havido uma razão para cada divergência na grafia? Não estará isto ao nível de uma qualquer proposta de abolição do mirandês? Ou da proibição de dialectos regionais? Resumindo, acho que a língua é, acima de tudo, um conjunto de normas que as pessoas definiram para comunicar entre si. Desta forma, não me parece que a manutenção dessas normas deva ser definida à força por um conjunto de governantes. Por que razão me posso pronunciar sobre quem dirige a minha Junta de Freguesia ou quem representa o meu país no estrangeiro, mas não tenho qualquer palavra a dizer acerca do modo como falo ou escrevo?

Porque havemos de adoptar as influências que o português do Brasil teve dos imigrantes italianos ou alemães, ou do contactos com falantes de castelhano no Sul? E ao contrário, porque têm os brasileiros que adoptar influências que o português de Portugal teve dos galegos? E se a grafia portuguesa ainda revela a influência da multitude de povos que por cá passaram, que importância tem isso na história de Timor ou Cabo Verde para terem que mudar a sua língua devido a isto?

Provavelmente haverá muitas opiniões contrárias, mas por alguma a secção se chama "de Debate"... Venham elas  :cool:
De resto, acho que focaste o ponto essencial: "o Brasil é bem maior que nós e mais poderoso"  :...:
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: Madeira em Sábado, 24 de Novembro, 2007 - 17h31
Estava a achar estranho não conseguir postar uma resposta ao teu post...  :tth:

Foi mesmo coincidência... ou não!  ;)


Ooops... Esqueci-me foi de deixar o link da petição:
http://www.petitiononline.com/naoacord/    :doh:
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: Netyon em Sábado, 24 de Novembro, 2007 - 18h12
Agora o pessoal já vai ter desculpa para os erros ortográficos na escola.  :lol: :x:

Que confusão que vai ser daqui para a frente... :cry:
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: kirin em Sábado, 24 de Novembro, 2007 - 18h45
Ainda não vi muitas referências aos aspectos económicos, mas até me custa imaginar o preço que terá uma coisa destas: todos os dicionários obsoletos do dia para a noite; gramáticas; manuais escolares; novas edições de qualquer livro; formações para qualquer pessoa que escreva ou reveja seja o que for; formação de professores; reescrita de qualquer legislação, incluindo a reformulação da constituição; substituição de documentos; adaptação de software; reescrita de sites; alteração de fachadas; etc, etc, etc...

ah... e novas versões das nossas legendas  :assob:
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: FragaCampos em Sábado, 24 de Novembro, 2007 - 18h49
Este não é um assunto novo. Já tem décadas. Dá-me a impressão que todo este tempo espelha a incapacidade e falta de vontade política dos responsáveis nesta matéria. Parece que a preocupação é "unificar" uma língua, que por si só é provavelmente a mais rica do mundo, para competir com as outras línguas, o inglês, o espanhol, o mandarim e provavelmente o francês. Queremos tanto ser como os outros que abdicamos de toda a beleza que reside na diferença. Reparem que nisto não está implícito um repúdio por Brasileiros, Angolanos, Moçambicanos e todos os falantes de língua portuguesa. pelo contrário, todos os países de expressão portuguesa têm uma riqueza de linguagem que não pode, nem deve, ser atropelada por decreto. Perder toda a diversidade linguística para uniformizar em prol do progresso e, quem sabe, só porque sim, é um golpe violento num pilar tão importante como a língua de um povo.
Não sei que género de alterações serão propostas, mas o que mais me preocupa é que depois de tantos anos na gaveta, este assunto venha agora ser tratado à revelia das pessoas.
A língua de um povo é o bem mais precioso da sua cultura, é o que o distingue, é o que faz de nós Portugueses. Só no Brasil, em Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, existem dezenas e dezenas de idiomas e dialectos. Milhares e milhares de pessoas que nunca ouviram sequer falar português. E é essa a riqueza deles, milhares de anos de história e cultura que correm o risco de desaparecer com a uniformização da linguagem a nível global. Poder-se-ia dizer: "É consequência inevitável da globalização".
Eu diria que o dinheiro e a ganância se podem globalizar, mas a cultura e a língua, é o que nos liga às nossas raízes e à nossa essência.

Para terem uma ideia da importância deste assunto, veio uma pequena notícia na edição da National Geographic deste mês, que fala exactamente sobre este tema.
No topo da página diz:
"Um mundo que perdeu a língua. Quase todas as quinzenas morre mais uma linguagem, levando consigo milénios de história e de conhecimento humano".

Deixo o link para a página do Enduring Voices, um projecto apoiado pela National Geographic Society.
:arrow: http://www.nationalgeographic.com/mission/enduringvoices/
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: FragaCampos em Segunda, 26 de Novembro, 2007 - 20h43
Aconselho a leitura do seguinte artigo:
:arrow: http://www.ciberduvidas.sapo.pt/idioma.php
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: kirin em Terça, 27 de Novembro, 2007 - 08h53
Embora tenha o mérito de explicar com algum detalhe as alterações efectuadas, parece-me que esse artigo demonstra tudo o que, no meu entender, tem de errado todo este processo. Quando leio o texto, vejo as certezas absolutas de um dos supostos iluminados que decidiu efectuar alterações à língua à revelia e à margem de quem a usa, e depois a dá a conhecer de uma forma absolutamente demagógica.

Ao contrário do que é dito, o debate não existe desde 1990. O que existe desde 1990 é uma proposta que nunca foi lançada a debate. Mesmo que consideremos debate as poucas intervenções feitas nesse sentido, aquelas de que me lembro são críticas à proposta. E sendo um texto elaborado essencialmente por Portugal e Brasil, acho significativo que só um (e mais tarde um outro) dos outros cinco países em causa o tenha ratificado.

Depois, por muito que goste do Brasil, causa-me uma certa confusão ver uma proposta destas justificada com frases como:
Citar
o Brasil, essa impressionante potência do futuro
Citar
uma língua unificada (...) é fundamental para uma grande potência
Citar
O nosso filho, e nosso orgulho
Citar
(Que o Brasil) a ame e não queira outra já é motivo de grande contentamento para os portugueses

Será que a melhor justificação para alterarem à língua vem do crescimento económico de um dos países que a usa? E o Brasil agora é meu filho e meu orgulho? Não me lembro disso... Eu até nunca lá fui...
Estará a opinião do Madeira a tornar-se a explicação oficial? :cry:
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: FragaCampos em Terça, 27 de Novembro, 2007 - 16h19
Pelo que tenho lido nos últimos tempos aqui e ali, quer-me parecer que as alterações (os tais 1, qualquer-coisa % em relação a Portugal) não são significativas e algumas não me aquecem nem me arrefecem. Ontem no Público dizia que a língua só tem a ganhar com o aproximar da fonética com a grafia. Mas não dizem o que implica esse simples aproximar na nossa língua. "Aproximar", por exemplo. Ou mesmo a palavra "exemplo". Vamos passar a escrevê-las aprocimar e ezemplo? Sei que parece um pouco estúpido, mas é o que depreendo das palavras dos intelectuais na matéria.
Não sou contra mudanças, nem alterações, quando estas são baseadas em motivos claros e bem intencionados.
Acho que o kirin referiu um ponto nevrálgico de toda esta discussão. Todo este processo se vem a arrastar desde 1990, mas daí até ter havido um debate público vai uma diferença abismal.

Depois há a sempre omnipresente vertente política das coisas. São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, que ratificaram o tratado com o Brasil, essa "grande potência do futuro", obrigando à aplicação do acordo, fazem parte da CPLP, e devem ser respeitados. Embora me pareça que vão um pouco "a reboque" da vontade brasileira, a questão também se coloca em termos económicos. Embora eu ache que as editoras tenham vistas curtas em relação ao argumento com que acenam, dizendo que o custo da alteração dos manuais, livros, dicionários, etc. será enorme, pois o dinheiro que fariam ao repor todas essas novas páginas no mercado talvez não fosse mau para os seus cofres. A questão prende-se com "o sucesso obtido pelas editores portuguesas em Angola e Moçambique"... ou seja, têm receio de perder o freguês para as próprias editoras angolanas e moçambicanas, ou brasileiras... aqui imperará as leis de cada país. Mas mesmo a oposição das editoras não lhes é favorável, umas vez que caso Portugal se visse sozinho neste processo, ficando com uma ortografia sua e orgulhosamente só, elas passariam a vender apenas no seu "quintal".

As letras k, w e y serão (re)introduzidas no nosso vocabulário, mais uma importação estrangeira, que no meu entender vem contaminar a beleza da nossa língua. No início do século passado, pessoas houve que se opuseram à abolição de palavras como pharmacia, telephonico, commércio ou cryptographico e provavelmente a muitas outras alterações que foram introduzidas na altura. Parece que numa das cimeiras da CPLP foram exigidos dois textos de resolução final, ambos na mesma língua, e argumenta-se que é contra estes exemplos que o acordo serve, agilizar processos, unificar a língua para facilitar trocas comerciais, intercâmbios universitários, educacionais e profissionais.
Sempre em prol da vontade dos que mais se fazem ouvir e da globalização. Fala-se em reduzir as diferenças entre os países lusófonos, mas eu entendo que a piada de mau gosto em relação à língua do outro, não pode sobrepor-se à riqueza da língua falada em cada região.

Penso que é uma inevitabilidade, a que todos nós nos teremos de (h)abituar. Mais tarde ou mais cedo o Acordo Ortográfico será aprovado por todos. Resta saber se na prática os resultados serão os mesmos que em 1931 e 1945. A ver vamos, como diz o cego.
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: cab em Terça, 27 de Novembro, 2007 - 22h26
Estive atentamente a seguir esta discussão e esperei pelo momento em que as posições expostas não estivessem tão extremadas. Dito isto, compreendo o porquê de instintivamente nos opormos a algo a que chamamos "mudança". Mudança de (h)ábitos, de formas, de ritmo, mas se não (h)ouverem mudanças tudo o que gira à nossa volta estagna. As alterações à forma como escrevemos o português de Portugal? Acho isso de somenos importância porque se não tivermos uma língua forte e bem unificada entre todos os falantes do português arriscamo-nos a daqui umas décadas a língua principal em Portugal ser o inglês  :blink: . Num mundo que gira à velocidade dos mercados comuns, dos interesses comuns, dos desejos comuns, só os fortes terão capacidade para sobreviver nesse mesmo mundo em que a força, do dinheiro, do número de habitantes, do número de falantes, ditarão as prioridades (Ou seja, dos interesses dos mais fortes). 
Pessoalmente prefiro perder uma virgula "e não sei quantos e tal" por cento da forma como escrevo a minha língua materna a ter de assistir a uma completa britanização da língua dos meus filhos e netos.

Por mim, venham os "K", os "Y", os "W", desde que não venha o que realmente não é nosso, o inglês.
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: kirin em Quarta, 28 de Novembro, 2007 - 09h18
É estranho concordar com alguém que parece ter a opinião contrária, mas agora aconteceu-me isso contigo. :tongue:

Ao contrário do que possa parecer pelos posts que fiz, o meu principal problema não é com as alterações efectuadas, mas com o modo como o processo decorreu.

Quanto à britanização da língua, estamos perfeitamente de acordo. O que me parece é que o facto de uns escreverem "úmido" e outros "húmido" não coloca isso em perigo (naturalmente, posso estar enganado...). Acima de tudo, gostaria que os linguistas que estiveram nos últimos anos a trabalhar nisto tivessem antes estado a não deixar morrer a língua, achando que não valia a pena estar a traduzir a miríade de termos ingleses que hoje usamos em áreas como a informática, o design ou o marketing.
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: cab em Quarta, 28 de Novembro, 2007 - 13h32
É estranho concordar com alguém que parece ter a opinião contrária, mas agora aconteceu-me isso contigo. :tongue:

É normal porque raramente uma situação tem apenas uma forma de ser analisada positiva ou negativamente, e esta não fugia a essa "quase regra".

Ao contrário do que possa parecer pelos posts que fiz, o meu principal problema não é com as alterações efectuadas, mas com o modo como o processo decorreu.

Acho que esta alteração já devia estar em vigor à tempos para dar mais vigor à lingua portuguesa no seu geral. Depois de se iniciar um processo de alteração destes (pensando no global dos falantes de português) é esperar que não estagne apenas neste "uma vírgula e não sei quantos e tal por cento" para que o português possa evoluir para uma lingua competitiva, porque infelizmente a sociedade em que vivemos exige competição em todos os campos dela, e o bom senso cada vez tem menos espaço para se movimentar.

Quanto à britanização da língua, estamos perfeitamente de acordo. O que me parece é que o facto de uns escreverem "úmido" e outros "húmido" não coloca isso em perigo (naturalmente, posso estar enganado...). Acima de tudo, gostaria que os linguistas que estiveram nos últimos anos a trabalhar nisto tivessem antes estado a não deixar morrer a língua, achando que não valia a pena estar a traduzir a miríade de termos ingleses que hoje usamos em áreas como a informática, o design ou o marketing.

Nem mais, era exactamente isso que me referia. Novamente: Que venham os "K", os "Y", os "W" mas que não venha o que realmente não é nosso, o inglês.
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: Madeira em Quarta, 28 de Novembro, 2007 - 23h21
Bem primeiro de tudo gostava de frisar aqui que não sou nenhum extremista, e não o digam assim em público, senão qualquer dia tenho a brigada anti-terrorista cá à porta.  :tth:
Agora se me compararem aos extremistas islâmicos que provocaram o 11 de Setembro, já não me importo tanto, uma vez que eles não tiveram nada a ver com isso, pelo menos não da forma que os "americanos" nos querem fazer crer.  :assob:
Bem, depois deste pequeno à parte (brincadeira/verdade), aqui fica o meu parecer sobre algumas das coisas que têm sido ditas.

Ora bem começando pelo fim...  :evil:

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Nem mais, era exactamente isso que me referia. Novamente: Que venham os "K", os "Y", os "W" mas que não venha o que realmente não é nosso, o inglês.

Não entendo muito bem o que pretendes dizer... Se cada vez mais introduzimos mais palavras inglesas no nosso vocabulário, no que é que a introdução dessas letras estrangeiras - pelos vistos só até daqui a uns dias - vão diminuir esse facto. Não será precisamente o contrário? Dizes que venham os "K", os "Y", os "W", mas que não venha o inglês... Sinceramente parece-me um contra-censo. Pode não vir o inglês, mas com a existência dessas letras no vocabulário, ou muito me engano, ou vamos adoptar cada vês mais palavras estrangeiras, como alemãs, bem chinesas penso que ainda virá longe  :tongue:, e sobretudo inglesas.

Quanto às alterações, estou completamente de acordo em relação a elas, quando vejo nelas um sinal de evolução, evolução no sentido positivo da palavra, e não uma evolução apenas referente a mudança, a disparar para a frente. E sinceramente não vejo isso neste caso. Não vejo em que sentido nos irá ajudar retirarmos os "h" no início das palavras e as consoantes não pronunciáveis, quando o são, ou não, mediante  pronuncia, vão ser facultativas. Então mas é para uniformizar de vez? Ou para ir de mansinho, e quando já estivermos mais que amansados pelo nosso "querido filho", ou o "comummente (comumente) chamado "irmão" em parceria com os nossos governantes, puderem dar a estocada final? Talvez daqui a uns anos tenhamos uma pronuncia parecida como o Brasil para sermos alguém. Até hoje muita gente do mundo pensa que somos uma província de Espanha, pode ser que daqui uns anos já o sejamos do Brasil.

Não digo que estas mudanças não pudessem trazer vantagens, mas sinceramente não vejo quais. Será que não nos entendemos por termos diferenças de 1% qual quer coisa entre nós? Se o "h" no início de certas palavras foi visto como necessário, porquê agora tirá-lo e não adicioná-lo no Brasil? Será que ele foi colocado por capricho de algum linguista?

Por fim, prefiro continuar a lutar pelo o que nos diferencia, sem nos separar, na manutenção da nossa cultura, da nossa e sobretudo até dos restantes países que usam o nosso idioma, que por certo se virão em risco de perder cada vez mais idiomas com o dito progresso/evolução, desenraizando-se das suas terras, dos seus costumes, abandonando as suas terras em busca de um lixeira junto a uma cidade para ajudar a enriquecer cada vez mais os tubarões do nosso mundo.
Prefiro também lutar por algo que ainda não morreu, do que dar algo como morto antes de tempo.

Se calhar ainda continua um pouco inflamado e extremado...  :D
Se alguém o sentir, não é minha intenção.  ;)

Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: cab em Quinta, 29 de Novembro, 2007 - 03h18
Ora bem começando pelo fim...  :evil:

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Nem mais, era exactamente isso que me referia. Novamente: Que venham os "K", os "Y", os "W" mas que não venha o que realmente não é nosso, o inglês.

Não entendo muito bem o que pretendes dizer... Se cada vez mais introduzimos mais palavras inglesas no nosso vocabulário, no que é que a introdução dessas letras estrangeiras - pelos vistos só até daqui a uns dias - vão diminuir esse facto. Não será precisamente o contrário? Dizes que venham os "K", os "Y", os "W", mas que não venha o inglês... Sinceramente parece-me um contra-censo. Pode não vir o inglês, mas com a existência dessas letras no vocabulário, ou muito me engano, ou vamos adoptar cada vês mais palavras estrangeiras, como alemãs, bem chinesas penso que ainda virá longe  :tongue:, e sobretudo inglesas.

Acho ser preferível adoptarmos essas letras no nosso vocabulário a termos, mais tarde ou mais cedo, de adoptar palavras por inteiro (Infelizmente isso cada vez é mais abitual (Não me enganei a escrever), e deve ser por aí, lutar contra os verdadeiros estrangeirismos que lutar contra algo que é "nosso", mesmo que seja apenas de nossos irmãos.(Retirem os "H" do abitual mas não me façam dizer "common")

Quanto às alterações, estou completamente de acordo em relação a elas, quando vejo nelas um sinal de evolução, evolução no sentido positivo da palavra, e não uma evolução apenas referente a mudança, a disparar para a frente. E sinceramente não vejo isso neste caso. Não vejo em que sentido nos irá ajudar retirarmos os "h" no início das palavras e as consoantes não pronunciáveis, quando o são, ou não, mediante  pronuncia, vão ser facultativas. Então mas é para uniformizar de vez? Ou para ir de mansinho, e quando já estivermos mais que amansados pelo nosso "querido filho", ou o "comummente (comumente) chamado "irmão" em parceria com os nossos governantes, puderem dar a estocada final? Talvez daqui a uns anos tenhamos uma pronuncia parecida como o Brasil para sermos alguém. Até hoje muita gente do mundo pensa que somos uma província de Espanha, pode ser que daqui uns anos já o sejamos do Brasil.

Não nos ajuda a nós portugueses mas poderá ajudar a "nós" falantes do português. Não será isso mais importante que o só "nós portugueses"? (Para mim é)
Como para mim, é "mil vezes" preferível ter uma pronuncia aproximada à dos meus irmãos brasileiros que ter uma britanizada. (Venha a pronuncia brasileira, por favor)

Não digo que estas mudanças não pudessem trazer vantagens, mas sinceramente não vejo quais. Será que não nos entendemos por termos diferenças de 1% qual quer coisa entre nós? Se o "h" no início de certas palavras foi visto como necessário, porquê agora tirá-lo e não adicioná-lo no Brasil? Será que ele foi colocado por capricho de algum linguista?

Upppssss...Aqui não posso dizer mais nada que: "Discordo em absoluto!!!!!!!". Se ninguém quizer ceder de seu lado para ajudar o outro.... e nem pensar sequer retorquir dizendo: "O outro é que deve ceder"... O bem-senso por mais raro que seja deve ser sempre "abusado" em questões em que o que difere é a localização geográfica e não o bom-senso!

Por fim, prefiro continuar a lutar pelo o que nos diferencia, sem nos separar, na manutenção da nossa cultura, da nossa e sobretudo até dos restantes países que usam o nosso idioma, que por certo se virão em risco de perder cada vez mais idiomas com o dito progresso/evolução, desenraizando-se das suas terras, dos seus costumes, abandonando as suas terras em busca de um lixeira junto a uma cidade para ajudar a enriquecer cada vez mais os tubarões do nosso mundo.
Prefiro também lutar por algo que ainda não morreu, do que dar algo como morto antes de tempo.

Como te compreendo. Como gostava de conscientemente dizer que isso era o correcto, mas não consigo. Infelizmente vivemos num mundo em que, ou nos adaptamos ou seremos adaptados, e por isso penso ser melhor adaptarmo-nos que sermos forçosamente adaptados. (Lutemos contra aquilo que nos irá ferir e não contra aquilo que nem cócegas nos fará.)

Não acho ser bom-senso "obrigar" o João Washington, ou o Ricardo Káka, ou o Filipe York, a não puderem registar os seus filhos em Portugal, como portugueses, porque no nome dos pais está uma letra que não faz parte do alfabeto utilizado em Portugal, mas que são tão ou mais portugueses que os portugueses que por cá moram. (Eu sou descendente de Finlandeses, provavelmente serei muito menos português que a maior parte do povo brasileiro)
Sejamos justos... connosco (conosco)e com os nossos irmãos que falam a mesma língua que nós.

O que - nós sociedade - precisamos é de abuso de "bons-sensos" e de vontades... mais nada!
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: Madeira em Sexta, 30 de Novembro, 2007 - 21h25
Pelos vistos o motivo dos nossos pontos de vistas, aparentemente opostos, é o facto de tu, não sei com que dados que eu desconheça, pensas que possamos vir a ser "colonizados" pela língua inglesa brevemente se não dermos este passo. Isso é algo que não me passa pela cabeça, pelo menos não nos próximos 100... anos. Penso também que a acontecer, muitos países teriam que ser "colonizados" em primeiro lugar pela língua inglesa, o que não tem acontecido, nem parece estar para acontecer. E julgo que mesmo que isso tivesse para acontecer, não seria o facto de mudarmos 1,6% da nossa grafia que iria mudar isso, mesmo que isso significasse uma uniformização, sendo esta aparente, entre os povos de língua portuguesa. Aparente porque várias palavras serão facultativas devido à pronuncia. Será que isto também acontece com a língua inglesa.
É claro que se visse em risco a minha língua materna e tão amada pela língua inglesa, não hesitaria adoptar a grafia e até pronúncia de Brasil, Angola, ou qualquer um dos outros países.

Isto é apenas o que eu penso, não é nenhuma certeza que tenho, uma vez que nem sequer foi feito nenhum debate para informar as pessoas sobre as vantagens que eles encontram neste acordo, e as desvantagens, claro.

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Não nos ajuda a nós portugueses mas poderá ajudar a "nós" falantes do português. Não será isso mais importante que o só "nós portugueses"? (Para mim é)
Como para mim, é "mil vezes" preferível ter uma pronuncia aproximada à dos meus irmãos brasileiros que ter uma britanizada. (Venha a pronuncia brasileira, por favor)

Pensei que compreendesses que quando digo que não vejo vantagem para nós também não vejo vantagens para os restantes. Ainda se houvesse grandes discrepâncias na grafia entre nós. Provavelmente na semântica até existe... Nem quero pensar numa uniformização a este nível. É bem verdade que é mais fácil modificar as palavras.

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Upppssss...Aqui não posso dizer mais nada que: "Discordo em absoluto!!!!!!!". Se ninguém quizer ceder de seu lado para ajudar o outro.... e nem pensar sequer retorquir dizendo: "O outro é que deve ceder"... O bem-senso por mais raro que seja deve ser sempre "abusado" em questões em que o que difere é a localização geográfica e não o bom-senso!

Bem, não gosto muito de ter que explicar algo que escrevi, mas já vem sendo (abitual), e constata-se mais uma vez que é um pouco difícil expressarmo-nos por palavras e fazermos passar a mensagem que temos em mente.
O que quis dizer com esse exemplo do "h" no início das palavras, tal como posso dar o exemplo das consoantes que não são pronunciadas nas palavras, é que não compreendo porque estas foram adicionadas em Portugal. Têm uma razão de ser, ou foi um capricho dos linguistas da altura? Se tem razão de ser, como eu acredito que tenham - talvez esteja a confiar demais nos linguistas daquela altura - não percebo porque têm que ser retiradas em Portugal e não adicionadas no Brasil. Agora, se não têm razão de ser, pois muito bem, retirem-nas que então não estão lá a fazer nada. Costuma-se dizer que é inteligente aquele que sabe aprender com, e se possível reparar os erros que cometeu no passado.

Tal como tu aprecio bastante o bom-senso, tal como a coerência. Pois bem, mas as mudanças a ser feitas têm que ser feitas com base nessas duas premissas e não na "Lei do Mais Forte". Penso que somos inteligentes o suficiente para não nos deixarmos levar pela teoria de Darwin nesta questão. Se bem que, infelizmente, como sabemos, é a essa a lei pela qual a maior parte de nós se rege.

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Não acho ser bom-senso "obrigar" o João Washington, ou o Ricardo Káka, ou o Filipe York, a não puderem registar os seus filhos em Portugal, como portugueses, porque no nome dos pais está uma letra que não faz parte do alfabeto utilizado em Portugal, mas que são tão ou mais portugueses que os portugueses que por cá moram. (Eu sou descendente de Finlandeses, provavelmente serei muito menos português que a maior parte do povo brasileiro)
Sejamos justos... connosco (conosco)e com os nossos irmãos que falam a mesma língua que nós.

Concordo plenamente contigo, os nomes que as pessoas pretendem dar aos seus filhos, ou mesmo escolher para si próprias, deve ser inteiramente da sua responsabilidade. E devem ser aceitadas em toda a parte do mundo.
Ah, e que bela origem tens.  :)   Como são todos elas de resto.  :<)
Será que és mesmo menos português, do que a maioria do povo brasileiro? Do que alguns, talvez. Do que a maioria, só se for a nível de sangue. E para mim, o ser português não está no sangue, mas sim no sentimento. No ser, sentir-se português e não no facto de ser descendente de portugueses. Em boa verdade te digo  :) ,és bem mais português do que muitos portugueses que apenas são descendentes de portugueses a viver em Portugal.  :bow:

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O que - nós sociedade - precisamos é de abuso de "bons-sensos" e de vontades... mais nada!

 :good:

Penso que, como o kirin já referiu, o que mais me perturba nesta questão é tudo isto estar a ser feito "nas costas" dos portugueses e talvez também dos outros países envolvidos no acordo. Não nas costas "nas costas"  :lol:  uma vez que já foi falado, se bem que muito timidamente. Mas o que precisávamos era de debates para nos podermos esclarecer sobre esta questão e até termos mesmo voto na matéria. E como esta existem muitas outras.

P.S: É pena não teres conhecimentos na RTP, para que colocá-ses lá uma cunhazita para pelo menos fazerem um Prós e Contras sobre este assunto.  ;)

Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: kirin em Sábado, 01 de Dezembro, 2007 - 15h47
Deixando uma opinião muito pessoal... pela minha parte, identifico-me muito mais com a maioria dos europeus que conheço (e conheço especialmente nórdicos, com quem teoricamente temos pouco a ver) do que com o brasileiro típico. Isto não é de forma alguma um comentário depreciativo, e não envolve qualquer consideração qualitativa, mas a história, a distância, o contexto político, etc., moldaram dois países muito diferentes. Uma vez que entendo que a língua é, não um factor identificativo de um povo, mas uma das consequências da sua identidade (pelo que entendo que a defesa da língua apenas faz sentido no contexto de uma defesa mais abrangente de toda a identidade), acho injusto para ambos os lados que se esteja a esquecer a razão, ainda que acidental ou aleatória, que determinou cada uma das diferenças.

Ainda em relação à introdução das letras k, w e y, apesar de compreender as razões que podem levar a estar reticente (nomeadamente a possibilidade de servir de "desculpa" para algo mais), não deixa de ser verdade que já há várias palavras em português que as usam (p.ex. kwanza), ou termos "intraduzíveis" (p.ex. unidades de medida como Watt, Newton ou Kelvin, abreviaturas como km ou kg, topónimos, ou os já referidos antropónimos). Para além disso, a sua inclusão no alfabeto não é uma novidade completa nem necessariamente uma "importação", uma vez que representa a recuperação do alfabeto que estava em vigor até ao início do século XX. Já a Rua Sésamo as tinha e muito boa gente aprendeu muito com aquilo :D

É pena não teres conhecimentos na RTP, para que colocá-ses lá uma cunhazita para pelo menos fazerem um Prós e Contras sobre este assunto.  ;)
Isso parece-me muito bem! :good: Penso que vale a pena fazer a proposta, quem sabe como uma das primeiras acções "oficiais" da própria DocsPT  :D


E só para provocar um bocado :tth::
O facto de se recear ser "colonizado" por uma língua que não está uniformizada não será um forte indício de que isso não é um factor impeditivo?
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: craa em Quinta, 20 de Dezembro, 2007 - 00h45
Eu acho que tenho uma opinião algo diferente da vossa embora reconheça que mesmo algo discordantes têm algo de correcto.

Eu como a maioria dos portugueses nem sequer sabe quem define como se escreve correctamente português, e seja quem for, não anda a fazer nada para ajudar ninguém. Dizem que se escreve mal, e escreve-se mal porquê? Porque a escrita não representa a maneira como se fala, e nunca se preocuparam em tornar a língua mais simples dado que todos sabemos que é difícil.
O inglês neste momento sobre uma maior ameaça que o próprio português. Sim é mais falado, mas tem o seu preço. Agora existe até o inglês simplificado que os linguistas e outros ditos intelectuais deitaram às mãos à cabeça quando ouviram isso. O inglês simplificado surgiu na Internet, nasceu pela necessidade de comunicar facilmente com poucas ambiguidades, creio que nasceu espontâneamente do que foi forçado por alguém. O inglês rico e digamos profundo, rico em história da sociedades americanas e inglesas acabou, o inglês é o mundo agora, e por força das circunstância não pode conter muita herança cultural.

Concluindo, se querem aumentar a diferença entre o escrito "correcto" e falado, e que as pessoas ignorem mais linguistas e afins que aprovem, se querem melhorar a língua, que o façam de outra forma.

p.s.: Espero não ter dado muitas calinadas no português :D

p.s.: p.s. ou post-scriptum é latim e ninguém se importa...
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: FragaCampos em Quarta, 02 de Janeiro, 2008 - 18h04
Um artigo bastante interessante:
http://www.ciberduvidas.sapo.pt/controversias.php?rid=1563
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: FragaCampos em Terça, 22 de Janeiro, 2008 - 13h33
Mais um artigo que demonstra bem a polémica que este assunto suscita:
arrow: http://ciberduvidas.sapo.pt/controversias.php?rid=1584
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: kirin em Terça, 22 de Janeiro, 2008 - 14h37
Embora não refira nada de propriamente novo, este último artigo parece-me especialmente interessante e explicativo :up:
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: FragaCampos em Terça, 22 de Janeiro, 2008 - 19h38
Sim, penso que aborda o assunto de uma forma bastante lúcida e clara sobre questões aqui já debatidas.
E uma vez que os links para o Ciberdúvidas não parecem perdurar muito tempo, deixo aqui um outro artigo que me parece importante:


(https://ciberduvidas.sapo.pt/Images/VGM.jpg)
O editorial do Expresso de 1 de Dezembro estranha aquilo a que chama a minha defesa do proteccionismo como modelo, no tocante ao Acordo Ortográfico. E, face ao lead que o encima, terei de ver a minha posição displicentemente catalogada nos "nacionalismos balofos".

Se defender a preservação, a valorização e a divulgação da língua portuguesa como elemento identitário, meio de criação e expressão cultural ao longo de séculos, instrumento de comunicação quotidiana, traço de união entre Portugal e o resto do mundo corresponde a ser proteccionista, devo dizer que tenho a maior honra em sê-lo, tanto no plano nacional como no internacional.

E se se entende por proteccionismo o propósito de acautelar legitimamente os não menos legítimos interesses da edição portuguesa que, pelo seu mérito, qualidade e capacidade de resposta, tem batido a concorrência dos grandes grupos internacionais nos países africanos, também faço questão de apoiar as modalidades adequadas de salvaguarda desses interesses também geostratégicos, chamem-lhe proteccionismo ou apito. Nem percebo o que é que o Expresso acha de criticável nisso. Temos ou não temos determinados interesses vitais a defender?

"Se Portugal não se preparou, devia tê-lo feito", diz o editorial. O que é que isto quer dizer? Que se devia ter posto o carro à frente dos bois e feito uma preparação ruinosa, demorada e inútil quanto a uma trapalhada que ninguém podia levar a sério nem acreditar viesse a entrar em vigor?

Saberá o Expresso que na grafia brasileira se optou por suprimir as consoantes mudas na esteira de intelectuais empenhados na construção de uma brasilidade autóctone e distanciada, quando não rejeitadora, de raízes e matrizes portuguesas? Lembro-me de um texto de Mário de Andrade em que o autor de Macunaíma anunciava passar a escrever desse modo.

Só posso ver na concepção subjacente ao editorial em apreço um darwinismo sociocultural mais do que ultrapassado e que pode traduzir-se assim: temos de sujeitar-nos à lei do mais forte, pois, de outro modo, "se Portugal não avançasse para um acordo com o Brasil (.), em breve o português de Portugal não seria mais do que uma bizarria falada por uns meros 10 milhões de pessoas".

Isto é deveras extraordinário, quando não balofo: há mais de 60 anos que o Brasil não dá cumprimento ao acordo anterior e há perto de vinte que se vive sem o acordo de 1990. Em tantas décadas, acaso o português de Portugal se tornou uma bizarria? É assim que o Expresso vê o estado actual da nossa língua? É assim que encara as nossas relações com os PALOP nesse plano?

Por ironia do destino, o suplemento Actual da mesma edição de 1.12.07 publica um artigo muito interessante sobre a língua inglesa no mundo e as suas múltiplas e significativas variantes. Não consta que haja qualquer veleidade de negociar acordos ortográficos e também não se afigura que o inglês de Inglaterra esteja em risco de se transformar numa "bizarria" falada por muito menos milhões de pessoas do que a totalidade dos falantes de inglês à escala do planeta. O mesmo se diga do espanhol.

Nem vale nada a invocação dos programas informáticos e do software dos correctores, ou então os computadores de língua inglesa não poderiam operar com termos como action ou exception e coitados dos alemães e dos franceses! O Expresso não entendeu que são as relações da grafia com a etimologia e com a pronúncia, e mais nenhumas, que estão em discussão.

Mas o mais absurdo, e nisso o editorial acompanha as luminárias que engendraram o Acordo, está em se pensar que cerca de 1,5% de vocábulos do português de cá e cerca de 0,5% de vocábulos do português lá, desde que alterados, asseguram a unidade da língua. Nem parece do Expresso supor uma coisa dessas! É evidente que não contribuem absolutamente para nada, a não ser para que ela seja desfigurada e para aumentar exponencial e inutilmente confusões, dificuldades e custos de toda a espécie, pelo menos do lado português.

Terá o Expresso o provinciano complexo de inferioridade de pensar que o que acontece no mundo com o inglês e com o espanhol não pode acontecer com a língua portuguesa? Mas pode sossegar: felizmente, não corre o risco de ser publicado em "bizarrês".
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: FragaCampos em Quarta, 26 de Março, 2008 - 01h59
Ontem calhou ver o programa "Notas Soltas" na RTP com António Vitorino, em que ele abordou este assunto, que ao que parece esteve sobre a mesa na visita que Cavaco Silva fez a Moçambique.
Não se alongou muito sobre o assunto, mas deu para tecer alguns comentários.
Referiu por exemplo que o Espanhol e o Inglês são línguas globais e não precisaram de acordos ortográficos para o efeito. Pelo contrário, cresceram e tornaram-se no que são hoje muito graças à "expansão" da língua, falada fora das suas metrópoles de origem, por outros povos, que a enriquecem, que a moldam com imaginação, com a sua própria cultura e estatuto social. É exactamente essas diferenças que enriquecem a língua e não a uniformização, como fez, ou tentou fazer, a França com o francês, que resultou numa língua sem expressão a nível global e que se "perdeu no tempo".

Penso que apesar de curta, não deixa de ser uma reflexão interessante, que vem apoiar a desconfiança e desconsideração que tenho por todo este processo, principalmente com a forma como está a ser conduzido.
Título: Re: Mas será que é possível?
Enviado por: FragaCampos em Sexta, 11 de Abril, 2008 - 17h42
Perguntas e respostas sobre o Acordo Ortográfico


1. Porquê fazer um Acordo Ortográfico?

    Porque o Português é língua oficial em oito Estados soberanos mas tem
    duas ortografias, ambas correctas, a de Portugal e a do Brasil. Existem
    desvantagens na manutenção desta situação e a língua será
    internacionalmente tanto mais importante quanto maior for o seu peso
    unificado.

    A existência de dupla grafia limita a dinâmica do idioma e as diferenças
    criam obstáculos, maiores ou menores, em todos os incontáveis planos em que
    a forma escrita é utilizada: seja a difusão cultural (literatura, cinema, teatro); a
    divulgação da informação (jornais, revistas, mesmo a TV ou a Internet); as
    relações comerciais (propostas negociais, textos de contratos) etc., onde o
    Português escrito é utilizado. Isto, se considerarmos apenas as relações
    intracomunitárias (nos oito países da CPLP).

    Nas relações internacionais, recorde-se que existem quatro grandes línguas
    (Inglês, Francês, Português e Espanhol) e que o Português é a única com duas
    grafias oficiais.

    Assim, no plano intracomunitário, a dupla grafia dificulta a partilha de
    conteúdos, no plano internacional, limita a capacidade de afirmação do idioma,
    provocando, por exemplo, traduções quer literárias quer técnicas diferentes
    para Portugal e Brasil.

2. Mas como se explica que exista mais do que uma ortografia?

    No rescaldo da Implantação da República em Portugal, deu-se a 1ª
    Reforma Oficial da Ortografia Portuguesa que, em 1911, estabeleceu uma
    ortografia simplificada, consagrada nos textos oficiais de ensino.
    Esta profunda reforma não foi concertada na altura com a República
    Brasileira, e desde essa data a língua tem comportado duas grafias.
    Sucede que a língua, como realidade dinâmica que é, está sujeita a
    evolução. A ortografia do Português não é excepção e as duas ortografias
    então existentes trilharam caminhos diferentes, não obstante várias iniciativas
    dos dois países, singulares e concertadas, no sentido da unificação.

3. Quais são os Estados signatários (partes) do Acordo Ortográfico?

    Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São
    Tomé e Príncipe. O Acordo encontra-se aberto à adesão de Timor-Leste que
    em 1990 ainda não tinha reconquistado a independência.

4. Qual a estimativa de pessoas no mundo que falam a língua
portuguesa?


    Calculam-se em mais de 200 milhões as pessoas que falam Português em
    todo o mundo.

5. O Acordo foi assinado em 1990, mas só entraria em vigor com a
ratificação de todos os países? O que mudou com os Protocolos
Modificativos ao Acordo?


    O Acordo Ortográfico na sua versão original, de 1990, previa entrada em
    vigor apenas quando se verificasse a ratificação (recepção do Acordo no
    ordenamento jurídico interno do Estado) por todos os signatários.
    Os Protocolos Modificativos alteraram apenas a modalidade de entrada em
    vigor do Acordo. O conteúdo, i.e., as alterações ortográficas do Acordo Original
    mantém-se.

6. Por que foi necessário um segundo Protocolo? O primeiro não tem
valor?


    Foi necessário um Segundo Protocolo Modificativo pois a alterações
    produzidas pelo primeiro (alargando o prazo para entrada em vigor)
    demonstraram-se ineficazes. A assinatura do 2º Protocolo estabelece que, o
    Acordo Ortográfico entrava em vigor com a ratificação por três dos Estados
    signatários (naturalmente, para os Estados que procedessem à ratificação).
    O Primeiro Protocolo Modificativo, não apresenta hoje qualquer conteúdo
    prático.

    Saiba mais sobre o tema em http://www.cplp.org/comunicados.asp

7. O Acordo Ortográfico já está em vigor? Em que países?

    Sim, na ordem jurídica internacional e no Brasil, em Cabo Verde e São
    Tomé e Príncipe, por força da ratificação pelos três Estados do Acordo
    Ortográfico e do Segundo Protocolo Modificativo.

    O terceiro signatário a ratificar, S. Tomé e Príncipe, depositou os
    documentos correspondentes em Dezembro de 2006 e, por esse efeito fez com
    que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrasse em vigor no dia 1 de
    Janeiro de 2007.

    Saiba mais sobre o tema em http://www.cplp.org/comunicados.asp

8. Porquê da demora na ratificação por parte dos demais países
signatários?


    As razões que cada um dos signatários do Acordo Ortográfico tem para
    proceder ou não à sua ratificação são matéria do foro interno de cada Estado.
    A CPLP remete assim para os Estados a divulgação de informações quanto
    a esta questão.

9. Foi definida data para os Estados signatários ratificarem o Acordo?

    O Acordo, na sua redacção original (1990), previa a entrada em vigor a 1 de
    Janeiro de 1994, após o depósito dos instrumentos de ratificação de todos os
    Estados signatários. Esta disposição tornou-se letra morta quando a data foi
    ultrapassada sem terem sido efectuadas as ratificações.

    Esta redacção foi alterada pelos Protocolo Modificativos e em bom rigor,
    visto que não se extrai dos textos qualquer outra data, não existe um prazo
    para ratificação do Acordo.

10. O que acontece à ortografia do Português nos países que não
ratificarem?


    Nada. Caso não seja ratificado, o Acordo Ortográfico não se torna parte dos
    ordenamentos jurídicos nacionais dos signatários e assim as alterações que
    estabelece não se verificarão na ortografia desses países.

11. Mas podem uns países avançar com a implementação do Acordo
Ortográfico sem os demais?


    Sim, dado que está prevista a entrada em vigor desde que ratificado por
    três Estados, o que já aconteceu. Todavia, é de lembrar que o objectivo é
    unificação, e que o ideal seria que todos os países avançassem em uníssono.
    Com efeito, a medida do sucesso do Acordo Ortográfico depende da sua
    ratificação e implementação por todos os Estados signatários. Só com todos
    poderá atingir o pleno dos seus objectivos originais.

12. Existe uma estimativa quanto ao número de palavras alteradas?

    Segundo os dados disponibilizados pela Academia de Ciências de Lisboa, à
    data da celebração do Acordo, o número de palavras cuja ortografia seria
    alterada não ultrapassaria os 2 por cento! Pouco mais de 2.000 palavras num
    Universo de 110.000.

    Não estão contabilizadas: as alterações à utilização do hífen e as
    resultantes da supressão do trema, diminutas em número e de fácil apreensão.

13. Quais foram os critérios utilizados para desenvolver as novas
normas ortográficas?


    Segundo o próprio Acordo, o esforço de unificação da grafia foi presidido
    por um critério fonético, isto é, a ortografia das palavras é alterada no sentido
    de as aproximar à forma falada. (ex.: abolição das consoantes mudas).

14. Mas se o critério fonético está subjacente às alterações, o
Português falado é alterado?


    Não. A forma falada do Português não sofrerá qualquer alteração no curto
    prazo (embora não seja de excluir que, no futuro, o “p” que os portugueses
    utilizam em baptismo e pronunciam muito levemente, venha a desaparecer).
    Repare-se que no cenário actual de duas grafias, portuguesa e brasileira,
    mesmo dentro dos limites territoriais de cada um destes dois Estados, existem
    diferentes formas de falar o português, não obstante cada um dos países ter
    apenas uma ortografia.

    No mesmo sentido, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, que
    usam a ortografia portuguesa, falam o português de forma diversa, quer entre
    si, quer da falada em Portugal ou no Brasil.

    Os cambiantes da língua falada não serão afectados pelo Acordo.
    Altera-se a ortografia no sentido de a unificar, utilizando a fonética apenas
    como um dos instrumentos dessa unificação ortográfica.

15. Quais os prazos e custos para a implementação das alterações?

    O Acordo ocupa-se apenas das regras ortográficas e define um patamar de
    compromisso em termos ortográficos. Cabe a cada um dos Estados envidar
    esforços no sentido de chegar a esse patamar. O processo de implementação
    não se encontra definido no Acordo.

    Entende-se assim que caberá a cada Estado estudar as suas necessidades
    específicas e definir o plano de acção nacional, no sentido de concretizar o
    Acordo. Assim, remete-se para as autoridades nacionais qualquer informação
    sobre prazos e custos.

16. Quando se começarão a sentir os efeitos práticos? Será imediato
ou faseado?


    Sendo que cada país definirá o seu plano de acção, os efeitos do Acordo
    começarão a sentir-se à medida que as autoridades nacionais avançarem com
    a sua implementação.

    Assim, será o plano de acção nacional de implementação de cada Estado
    que definirá as áreas (ensino, administração pública, comunicação social, etc.)
    onde as alterações se farão sentir em primeiro lugar.

    Dada a complexidade relativa em termos técnicos (Ex. manuais escolares)
    e financeiros, cada Estado adoptará, provavelmente, planos de acção
    faseados.

    Recorda-se que não será a entrada em vigor, per se, do Acordo que levará
    os cidadãos a respeitarem as novas regras ortográficas. Existe uma nova
    ortografia, mas a sua implementação não é instantânea. Serão possivelmente
    definidos, pelos próprios Estados, períodos de transição para as áreas onde tal
    faça sentido, ex.: manuais escolares, gramáticas e dicionários, formulários de
    serviços públicos, contratos, etc.

17. É isto que se entende por “moratória” de aplicação do Acordo?

    Tem sido por vezes referido na imprensa que o Acordo prevê uma
    “moratória” para a sua aplicação. Tal informação é incorrecta.
    Não obstante, e como já foi abordado acima, a introdução das alterações
    ortográficas dificilmente será instantânea.

    Naturalmente existirá um período de convivência entre as duas grafias, que
    será diferente consoante o contexto. Isto é, qualquer livraria terá, durante os
    anos vindouros, livros nas suas prateleiras escritos nas duas grafias, mas
    dificilmente se encontrará, uma vez implementado o Acordo, um jornal diário
    que não reflicta as alterações.

    Por este exemplo se vê que as diferentes manifestações da língua escrita
    terão, pelos seus ciclos naturais, diferentes prazos para absorver as alterações.

Fonte: Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (http://www.cplp.org/)
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: FragaCampos em Sábado, 12 de Abril, 2008 - 22h18
Penso que estes são dois textos essenciais para analisar mais profundamente esta polémica em redor do Acordo Ortográfico.

Opiniões contra (http://ciberduvidas.sapo.pt/controversias.php?rid=1675) e a favor (http://ciberduvidas.sapo.pt/controversias.php?rid=1674), de Vasco Graça Moura e Carlos Reis, respectivamente.
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: kirin em Sábado, 12 de Abril, 2008 - 23h09
Nem de propósito, o assunto vai ser discutido no Prós e Contras na próxima 2ª-feira. Pode ser tardia, mas é uma discussão que se impunha.
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: Netyon em Domingo, 13 de Abril, 2008 - 10h02
Opiniões pró (http://ciberduvidas.sapo.pt/controversias.php?rid=1675) e a favor (http://ciberduvidas.sapo.pt/controversias.php?rid=1674), de Vasco Graça Moura e Carlos Reis, respectivamente.

Contra e favor, talvez, não?  :P
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: FragaCampos em Domingo, 13 de Abril, 2008 - 17h59
 :shy: :shy: :...2: :tth:
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: JRoqueDias em Quarta, 16 de Abril, 2008 - 11h57
A minha opinião contra o malfadado acordo está nesta página do meu site:
http://www.jrdias.com/jrd-acordo-nao.htm (http://www.jrdias.com/jrd-acordo-nao.htm)
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: cab em Quarta, 16 de Abril, 2008 - 15h15
Depois de ler grande parte da excelente explanação, na mesma fiquei em relação ao que constantemente sinto naqueles que defendem a posição contrária ao acordo ortográfico. Não será apenas uma reacção institiva de defesa da soberania linguística tipo imperialismo inato que os séculos enraizou na forma dos portugueses olharem para as suas antigas colónias? A humildade é a base dos entendimentos entre várias facções (Facções, porque por vezes parece uma guerra).
Citar
Saramago (...) «se for preciso, sentem-se outra vez à mesa, puxem as esferográficas e avancem»Citação retirada daqui (http://www.jrdias.com/jrd-acordo-nao.htm)
Como considero ser normal em todos os casos em que seres humanos tenham de tomar decisões que mais e melhores soluções possam existir que ainda não tenham sido exploradas, não consigo concordar com o extremar de posições em relação a algo que no seu cômputo geral benificia um colectivo em relação a um individual. Portugal sendo um estado soberano, que pode tomar as suas decisões com base nos seus interesses particulares, a meu ver, não deve afastar-se em demasia do colectivo em que se tornou a vivência dos mercados comuns, vulgo "interesses comuns". Penso ser de interesse nacional essa mesma aproximação entre escritas do português.
Há debates que devem ser efectuados? Há.
Há pontos em que o dito acordo não está correcto? Há.
Há falta de humildade no seu debate? Há.
Somos apenas humanos e como tal erramos. Sentemo-nos e melhoremos o que houver para melhorar (aproximar de posições) e não neguemos apenas... porque é muito mais fácil simplesmente negar que avançar...
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: kirin em Segunda, 21 de Abril, 2008 - 22h30
Demorou a ler tudo, mas finalmente está feito. :)

Não havendo nada que me pareça novo, o que é natural num assunto com quase 100 anos e, quanto a mim, discutido demais quando tudo poderia (deveria?) estar calmo e discutido de menos quando alguém o ressuscita, penso que o texto resume muito bem os argumentos contra o acordo. Também há, obviamente, argumentos a favor, e a opinião que já aqui manifestei leva-os em conta.

Não sou contra a evolução da língua. Muito pelo contrário, penso que a estamos a menosprezar ao absorver alegremente todos os estrangeirismos que têm surgido nos últimos anos. E quando tal não acontece, é pior a emenda que o soneto, criando-se uma nova palavra de acordo com a fonética e não com a etimologia, como "dossiê", "stresse" ou, a cereja no topo do bolo, "brífingue".
Tenho a maior simpatia por qualquer movimento, não motivado por razões políticas ou económicas, que defenda a língua e que proponha acções concretas para a sua defesa e actualização. Estou, inclusivamente, a favor de várias alterações propostas no acordo, como a introdução das letras K, X e Y (o que é diferente de dizer que novas palavras as devam usar incondicionalmente). Poderei mesmo estar de acordo com a eliminação de algumas consoantes mudas, mas tendo em conta a origem da palavra, e evitando as confusões que advêm das milhentas excepções ou de situações estranhas como as de "Egito" e "egípcio".
Quanto a alterações como as das minúsculas em meses e pontos cardeais, não tenho nada particularmente contra. Mas acho que quase se podia falar em ónus da prova. Acho que "ninguém ter nada contra" não é um motivo para alterar a língua. Alterá-la "para ser igual aos outros" não me parece melhor. Quando digo que quero defender o português, apenas o faço na medida em que falo essa língua e estou ligado à sua história. A defesa do português do Brasil ou de Moçambique é algo que não me diz absolutamente nada. Eles seguiram o seu caminho, e adaptaram a língua conforme achavam desejável. Isso é que, para mim, é a verdadeira defesa da língua, e é com essa que me identifico.

Dito isto, resta-me referir os dois (com a quantidade de opiniões manifestada, são muito poucos) pontos com que menos concordo no texto.
Em primeiro lugar, o pouco destaque que é dado àquele que sempre me pareceu o argumento mais forte, e a favor do qual nunca ouvi qualquer justificação digna de crédito - a politização e a "economização" da língua.
Em segundo lugar, em alguns momentos, o que me parece ser a excessiva personalização da crítica. Eu critico o acordo e quem o defende por motivos "ocultos", mas não (pelo menos destrutivamente) quem o defende porque realmente acha ser a melhor solução. Não conheço o Professor Malaca Casteleiro, e não sei o que o move. Discordo da sua opinião, mas respeito-a, até porque denota coerência com o seu trabalho anterior, nomeadamente no dicionário da Academia de Ciências referido no texto. E respeitando o seu trabalho, reservo-me também o direito de o ignorar, pelo que dificilmente me verão a escrever palavras como as que já referi em cima, já para não dizer "bué".

E bem-vindo à docsPT  :hand:
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: cab em Terça, 22 de Abril, 2008 - 02h07
Já escrevi isto algures...  :D

Acho que se está a dar demasiada importância às "pequenas" alterações que são apresentadas no acordo ortográfico.

Está para vir o dia em que as normas de escrita alterem a cultura de um povo.
A forma como se aplica uma escrita é influênciada pela cultura de um povo e não o inverso. Não é como se escreve as palavras mas sim as contextualizações com elas criadas que é a real identidade da escrita de um povo. Não será por se escrever "ação" em Portugal que a cultura portuguesa será colocada em causa. Até todos os povos falantes do português podem vir a escrever de forma igual "ação" que a aplicação dessa "norma" de escrita variará quase sempre, no seu sentido frásico, consoante a cultura de cada povo. (Ação--- apenas como exemplo)
Os portugueses de Portugal só perderão parte do seu "orgulho nacionalista", mas quase nada, - atrevo-me até a dizer - ou nada, daquilo que é a sua cultura linguística e frásica... :assob:

Se isso é um problema, então o que dizer da errónea transcrição do português falado para o escrito? São inúmeros os exemplos que se podem dar...
Vou colocar apenas alguns:
Coelho --- "Ninguém" soletra coelho mas sim cuelho...
Acção --- "Ninguém" soletra aceção, nem áqueção, nem aqueção mas sim áção ...
Qual a diferença entre a pronuncia do "á" de água e o "a" de acção?
Etc., etc., etc.
Ainda acham que, pelo menos, não está na altura de se fazer uma revisãozinha?  :assob:

Lembrei-me dos tempos do meu avô: Pharmacia --- Será que também "lutaram" tanto contra a a alteração do "PH" para "F"? Será que essa alteração mudou a cultura dos portugueses? Será que se passou a pronunciar farmácia de forma diferente? Será que causou alterações na sua aplicação frásica? Não!
Então tantas reticências em relação ao quê? Ao mudar? Ao evoluir?
Para é morrer! :assob:
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: FragaCampos em Terça, 27 de Maio, 2008 - 15h21
Já agora, e para que conste:


Acordo Ortográfico foi aprovado no Parlamento

O Parlamento aprovou hoje, com os votos favoráveis do PS, PSD, Bloco de Esquerda e sete deputados do CDS, o Segundo Protocolo do Acordo Ortográfico, mas Manuel Alegre (PS) e dois deputados do PP e Luísa Mesquita votaram contra.

Três deputados do PSD, Henrique Freitas, Regina Bastos e Zita Seabra – que invocou “conflito de interesses” por ser editora –, além de Matilde Sousa Franco, do PS, abandonaram o hemiciclo antes da votação.

Apesar de não o ter anunciado em plenário, o deputado do Movimento Partido da Terra (MPT) Pedro Quartin Graça, eleito pelas listas do PSD, disse posteriormente à Lusa que também se ausentou do hemiciclo para não participar na votação.

O acordo teve a abstenção das bancadas do PCP, PEV e dos deputados Paulo Portas, José Paulo Carvalho e Abel Baptista (CDS-PP).

Contra votaram Manuel Alegre, PS, Nuno Melo e António Carlos Monteiro (CDS) e a deputada não inscrita Luísa Mesquita (ex-PCP).

Paulo Portas e o deputado João Oliveira anunciaram declarações de voto.

O protocolo abre a possibilidade de adesão da República Democrática de Timor-Leste, que à data do Acordo (1990) ainda não era um Estado soberano.



16.05.2008 - 14h59 Lusa
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: FragaCampos em Sábado, 21 de Junho, 2008 - 17h43
Já agora, falamos tanto do dito cujo e nem sequer olhamos para ele :D
Podem encontrá-lo aqui (http://www.priberam.pt/docs/AcOrtog90.pdf).
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: mahoutsukai em Segunda, 30 de Junho, 2008 - 15h56
Pelo amor de Deus. Todos nós só temos a ganhar com tudo isso. Imaginem: será muito mais fácil lermos um livro escrito em Portugal no Brasil e vice-versa. Até as legendas serão mais fáceis de ser compreendida!

E lembrem-se, o português do Brasil também sofrerá modificações que não agradam muito. Mas creio que seja um mal que trará coisas boas no futuro.

 :hand:
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: cab em Segunda, 30 de Junho, 2008 - 17h42
Mas creio que seja um mal que trará coisas boas no futuro.

 :hand:

Total e absolutamente de acordo  :cool:
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: csx em Segunda, 31 de Maio, 2010 - 00h00
Pelo amor de Deus. Todos nós só temos a ganhar com tudo isso. Imaginem: será muito mais fácil lermos um livro escrito em Portugal no Brasil e vice-versa. Até as legendas serão mais fáceis de ser compreendida!

E lembrem-se, o português do Brasil também sofrerá modificações que não agradam muito. Mas creio que seja um mal que trará coisas boas no futuro.


Não creio, vivemos e dialogamos perfeitamente pela diversidade e não pela igualdade, é impensável julgar-se que vai ser mais fácil ler por ser tudo a mesma escrita, só se for para ler o codigo da vinci. Quem lê regularmente filosofia entre outros sabe que precisamos é de diversidade na lingua do que uniformidade. Gostava de ter mais tempo para explicar direitinho, mas aproveito para dizer que este acordo vai ser revogado, o movimento já está em marcha, ou fazem parte dele, ou fazem parte do rebanho que não pensa e vai atrás de tudo o q é mais fácil.

Links para a Iniciativa Legislativa de Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico:

Movimento de cidadãos:    http://ilcao.cedilha.net/ (http://ilcao.cedilha.net/)
Texto da Iniciativa:          http://ilcao.cedilha.net/?page_id=92 (http://ilcao.cedilha.net/?page_id=92)
Video da entrevista no JOrnal das 9: http://ilcao.cedilha.net/?p=239 (http://ilcao.cedilha.net/?p=239)


Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: csx em Segunda, 31 de Maio, 2010 - 00h03
O Novo Acordo Ortográfico

Contributo para uma reflexão necessária
(2.ª versão, com supressão do Anexo e do Apêndice)

Sendo portuguesa e tendo dedicado trinta e quatro anos da minha vida profissional a ensinar Português, oito dos quais na Universidade de Paris III, sinto-me com direito a exprimir publicamente o meu ponto de vista.

1. Antes de mais, e para não corrermos o risco de falar à toa, parece-me importante que todos conheçamos a atribulada história dos acordos e desacordos ortográficos entre Portugal e o Brasil.

Seguindo a “Gramática Portuguesa” de Pilar Vásquez Cuesta y Maria Albertina Mendes da Luz, Editorial Gredos, S. A., Madrid, 3.ª edição, 1971, que prefiro traduzir, para que não haja perda de eficácia, gostaria de destacar no “período das reformas ortográficas” (o 3.º da história da ortografia portuguesa) os seguintes momentos, por ordem cronológica:

1907 – a Academia Brasileira de Letras efectua uma reforma ortográfica, “mas o sistema por ela proposto foi combatido inclusive dentro da própria Corporação”.

1911 – é nomeada pelo governo português “uma Comissão de filólogos, entre os quais se destacava Gonçalves Viana, a fim de estabelecer as bases da denominada Nova Ortografia, que foi implantada oficialmente cinco anos mais tarde, em 1916, sofrendo ainda em 1927 ligeiras modificações.”

“Ao entrar em vigor em Portugal a Nova Ortografia, alguns brasileiros, como Mário Barreto, propugnaram a sua implantação na antiga Terra de Santa Cruz, não conseguindo, no entanto, ver realizados os seus desejos.”

1930 – 1931 - “o problema da reforma ortográfica volta de novo no Brasil ao primeiro plano da actualidade, sendo discutido pela própria Assembleia Legislativa. Por fim decreta-se um Acordo Ortográfico com Portugal, que é assinado a 15 de Junho de 1931.”

1940 – “aparece em Lisboa um Vocabulário Ortográfico organizado por Rebelo Gonçalves.”

1943 – “é publicado o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras.”

“Ambos diferem, no entanto, em pequenos detalhes, sobretudo na questão dos acentos. No Brasil além disso continuava a usar-se a ortografia antiga, denominada mista ou usual.”

1944 – “por decreto de 1 de Junho […] as repartições do Estado foram obrigadas a observar o Acordo com Portugal.”

“Mas a imprensa continuou a velha tradição ortográfica.”

“Para resolver as diferenças entre os dois Vocabulários Ortográficos, português e brasileiro, seria nomeada outra Comissão, que se reuniu em Lisboa, examinando pacientemente em 27 sessões as divergências existentes entre a língua falada de um e de outro lado do Atlântico.”
1945 -  “Depois de inteligentes e generosas concessões por parte das Delegações dos dois países de língua portuguesa foi assinado o Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro de 10 de Agosto de 1945.”

“No Brasil foi aprovado este Convénio por decreto-lei de 5 de Dezembro de 1945, mas não foi aceite pela imprensa nem pelos particulares, e a própria Constituição – publicada em 1946 – segue a ortografia de 1943 em vez da unificada. Por fim, e perante os múltiplos protestos que se levantavam contra ele, a Assembleia Legislativa revogou o decreto-lei que oficializava o Convénio de 1945, voltando-se outra vez à ortografia de 1943.”

1947 – é publicado pela Academia das Ciências de Lisboa, “em fraterna colaboração com a Academia Brasileira de Letras”, o Vocabulário Ortográfico Resumido, que desenvolve os princípios do Acordo de 1945.

Para completar esta panorâmica histórica da ortografia até agora em vigor, nas suas duas modalidades oficiais, falta referir uma última alteração, do início dos anos 70.  Em “Saber Escrever, Saber Falar” (Edite Estrela e outros, edição Dom Quixote, 2003), pode ler-se:


“Foram abolidos os acentos circunflexos e os acentos graves com que se assinalavam as sílabas subtónicas dos vocábulos derivados com o sufixo –mente e com os sufixos iniciados por z. “

Entrada em vigor destas alterações:

1971 –  no Brasil.
1973 -  em Portugal, com o Decreto-Lei n.º 32/73 de 6 de Fevereiro.


2. Em função do percurso histórico referido no ponto anterior, parece-me legítimo concluir:

2.1. O facto de existirem duas ortografias consolidadas e oficiais para a língua portuguesa resulta da opção sistematicamente feita pelo Brasil, no exercício da sua soberania, de não aceitar os acordos assinados pelos nossos dois países.

2.2. Em Portugal – e até agora nos restantes países lusófonos – a ortografia em vigor decorre, no essencial, do Acordo Luso-Brasileiro de 1945. Parece-me que ela  funciona perfeitamente, pois traduz um saudável compromisso entre a tendência etimológica, que mantém o português próximo das outras línguas românicas, e a tendência fonética, que não se pode confundir com a pura transcrição fonética da língua falada.

2.3. A dupla ortografia da nossa língua não impede, como não impediu até agora, nem a sua unidade, no respeito pelas suas variantes, nem a sua projecção universal, nem a sua difusão através do mundo.

Em abono do que afirmo, passo a citar:

- “… esta Gramática pretende mostrar a superior unidade da língua portuguesa dentro da sua natural diversidade …” (Prefácio da Nova Gramática do Português Contemporâneo,  Celso Cunha e Lindley Cintra, Edições João Sá da Costa, 1ª edição 1984);
- e uns excertos do Manuel de Langue Portugaise – Portugal-Brésil , Paul Teyssier, Éditions Klincksieck, 1976, que traduzo do original francês, (o destaque a negro é meu):

«Ninguém hoje em dia tem dúvidas: o português é uma das grandes línguas do mundo. Falado em Portugal, no Brasil e em diversos países da África e da Ásia agora soberanos, o português ocupa vastas zonas do globo. Figura em boa posição no grupo das línguas com vocação internacional. […]


Por fim – e essa é, em nosso entender, a principal originalidade da presente obra -, considerámos o português como um todo, apesar das diferenças que separam a sua forma brasileira da sua forma europeia. A maior parte das gramáticas […] descreviam a língua segundo uma das duas normas apenas […] devido às divergências ortográficas que existiam entre Portugal e o Brasil. Mas há pouco tempo os dois países aproximaram as suas ortografias de tal maneira que, sem ser ainda completa, não deixa de ser decisiva. Pode-se portanto agora, pela primeira vez desde há muito, redigir uma gramática portuguesa sem ficar embaraçado com o problema ortográfico. […] Nem é preciso dizer que foram assinalados os pequenos detalhes para os quais a unificação da língua ainda não é total. […]


Existe de facto, com toda a evidência, uma unidade da língua portuguesa.»


Na Introdução desta mesma obra:

- veja-se ainda algo que contraria, por um lado, a ideia de que as diferenças ortográficas constituem um problema insolúvel no que toca ao ensino do português no estrangeiro, e por outro, a convicção de que uma ortografia “unificada” (?) aplanaria as dificuldades inerentes ao facto de haver, com toda a legitimidade, duas normas realmente distintas: 

«Existem diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil. Estas diferenças dizem respeito a todos os aspectos da língua, - fonética, vocabulário, morfologia, sintaxe. A própria ortografia não está ainda totalmente unificada. […] Há assim duas normas do português, formando cada uma delas um sistema autónomo e coerente. O estrangeiro que aprende a língua terá portanto de optar à partida quer pela norma portuguesa quer pela norma brasileira, e não sair dela. Mas todo aquele que quiser verdadeiramente dominar o português deverá, depois de possuir os mecanismos inerentes à norma que tiver escolhido, adquirir um certo conhecimento das principais características da outra. […]

- saliente-se também uma vantagem reconhecida à norma de Portugal, porque mais clara, consolidada  e definida, características que facilitam o ensino/aprendizagem da língua no estrangeiro:

A norma de Portugal é bastante fácil de definir, pois ela goza de um vasto consenso e foi muitas vezes estudada. A do Brasil, pelo contrário, coloca um problema específico, pois está longe de ser universalmente reconhecida pelos próprios brasileiros. Enquanto esperamos que, como em Portugal, um consenso se estabeleça no Brasil, a apresentação da norma brasileira terá de permanecer
muitas vezes incerta e imprecisa.»

3. Qual é então o problema que este Acordo Ortográfico supostamente iria resolver?

Verificámos ser aceite por todos que – independentemente da sua unidade – a língua portuguesa tem duas normas padrão, uma americana e outra europeia, esta até agora também em uso nos países lusófonos da África e da Ásia, embora com as suas próprias variantes, o que só lhe acrescenta vida e riqueza. A dimensão universal do português está aí, reconhecida por todos – e com a ortografia dupla, o que não impede coisa nenhuma.

Vem a propósito dizer que, quando leccionei português em Paris III (1972-1980), os alunos escolhiam à partida qual a norma que pretendiam, havendo professores para cada uma delas, e que isso era perfeitamente pacífico.

Mas aqui é que intervém de facto uma questão de ordem política responsável pela tão desejada projecção universal da nossa língua:
- em que medida está o nosso país disposto a investir economicamente  na difusão da língua e da cultura portuguesa, na sua defesa nas instituições internacionais, na investigação linguística e literária, na formação de tradutores, na produção de obras, inclusive de bons dicionários (não temos um único que se possa comparar, por exemplo, com o “Petit Robert”), na qualidade dos métodos, gramáticas e outras obras didácticas para o ensino do português no estrangeiro, na formação de professores, na criação e apoio aos Leitorados…? De que meios dispõe, por exemplo, o Instituto Camões?

E mais: para quando a mudança de mentalidades tendente a valorizar o conhecimento e a aquisição da nossa língua, fora (incluso colaborando com os países lusófonos que assim o desejarem) e dentro do país (ninguém parece preocupado com o analfabetismo galopante dos portugueses)?

Recordo que, em Paris, os Leitores de Português, numa reunião com um alto representante da instituição portuguesa de que dependiam, tendo-se queixado da falta de apoio linguístico que dificultava e limitava a sua eficácia, ouviram a seguinte resposta: “Ensinar a língua não é uma tarefa de docente universitário”! Traduzindo: os pergaminhos dos nossos universitários não se compadecem com questões de tão diminuta importância!

É este preconceito, ainda hoje profundamente enraizado no espírito de muitos intelectuais e políticos portugueses, que faz com que se procure dar visibilidade e universalidade à nossa língua através de “gestos espectaculares” - como esta proposta de Acordo - a milhas de distância do trabalho de gabinete e de campo que deveria ser feito.

Vem a propósito, porque este nosso vezo já vem de longe, transcrever umas passagens do Prefácio ao “Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea”, da Academia das Ciências de Lisboa, Editorial Verbo, 2001:

“A Academia das Ciências de Lisboa deve ser talvez, de todas as suas homólogas europeias fundadas no século XVIII, uma das poucas que, na sua já longa existência de 222 anos, não conseguiu publicar um dicionário completo do seu próprio idioma. É verdade que editou logo nos seus primórdios (em 1793) um poderoso volume in-folio com o léxico português da letra «A». Em 1976 publicou novamente, com a modernização indispensável, um tomo relativo à mesma letra. Dir-se-ia que um insuperável obstáculo impedia os académicos de se adentrarem pelas restantes letras do alfabeto. […]
Para publicar um dicionário do idioma português contemporâneo eram indispensáveis fundos que bastassem para remunerar linguistas bem preparados trabalhando a tempo inteiro, sob a orientação de um filólogo competente. O orçamento da instituição mal chega para a sua sobrevivência.»
     (José Vitorino de Pina Martins, Presidente da Academia das Ciências, 15/12/2000)

Finalmente, com o apoio – decisivo - da Fundação Calouste Gulbenkian, foi possível a realização deste dicionário.
O que seria da nossa cultura sem esta poderosa instituição?

Voltando à discussão sobre o Novo Acordo Ortográfico, recordemos algumas posições públicas salientando a importância destes aspectos para uma verdadeira política da língua.

Dizia no último “Prós e Contras” (14/04/08), a escritora Lídia Jorge, defensora do dito Acordo: “só o Acordo não fará nada; é necessária uma política da língua; não há estratégia; o Instituto Camões precisa de meios” (cito de memória). Também a Professora Alzira Seixo, que se opõe ao Acordo, salientou – e foi muito aplaudida - a importância de se investir no ensino do português, sendo aí que reside a verdadeira valorização da língua.

4. A quem aproveitaria este Acordo, pergunto eu, como se costuma fazer em relação ao crime perpetrado, nos romances policiais?

Há pequenos detalhes, aparentemente insignificantes, que me parece importante assinalar.

No acima referido programa de televisão, depois de a apresentadora afirmar convictamente, “não é a pronúncia que vai ser alterada, é a escrita que vai ser alterada”, foi mostrada uma peça introdutória, a preto e branco, visivelmente destinada a dar a perspectiva histórica da questão ortográfica. Resumia-se mais ou menos a isto: em 1911, a recente República Portuguesa aprova unilateralmente uma reforma ortográfica e assim a língua portuguesa ganha duas faces, uma para Portugal e outra para o Brasil; os anos passam sem que haja uma unificação ortográfica; no final da 2.ª guerra mundial, falha a primeira tentativa de acordo, o que se repete após a adesão de Portugal à União Europeia; em 1990, surge finalmente o Acordo Ortográfico da língua portuguesa.

Se isto não é desinformação, então não sei o que isso seja! Veja-se nos pontos 1. e 2. o histórico desta questão e a responsabilidade do Brasil nesta matéria!

Mas há mais: no mesmo programa, o Professor Carlos Reis, soberanamente seguro, referiu a certa altura que “as quezílias não interessam, porque hoje não são só dois países, são oito” – outra maneira de minimizar a responsabilidade histórica do Brasil, procurando ainda insinuar que há quem esqueça os outros países da CPLP, desrespeitando a sua soberania, o que só pode ser sinónimo de reflexos neocolonialistas.
   

Vejamos agora a “Breve notícia histórica” no recém-publicado livrinho que apresenta “as novas alterações” a introduzir pelo Novo Acordo Ortográfico, da autoria de J. Malaca Casteleiro e P. Dinis Correia, da Texto Editores.
 
Como, usando uma expressão bem antiga, não convém “pôr o carro adiante dos bois”, e porque recuso, por a considerar desonesta, o recurso à táctica do “facto consumado”, passo a citar, corrigindo a ortografia, de acordo com o que está em vigor para a norma portuguesa:

   “A questão da unificação ortográfica da língua portuguesa arrasta-se desde 1911. Nesta data foi adoptada em Portugal a primeira grande reforma ortográfica. Ora, fixar legislativamente a ortografia de uma língua constitui um acto de soberania, acto praticado por Portugal, sem a participação do Brasil (então o outro grande país de língua portuguesa), o qual não acatou aquela reforma “(o sublinhado é meu).

Comentário:
 
Recordo (v. ponto 1.) que em 1907 já o Brasil tinha efectuado uma reforma ortográfica; além disso, esta passagem mostra que se ignora totalmente a época, o contexto histórico, tanto no nosso próprio país, como no que toca às relações políticas e culturais entre os dois países. É como se tudo tivesse acontecido agora, no contexto e com os valores actuais. Não será isto uma maneira tendenciosa de apresentar os factos?
Esquece-se quão recente era ainda a independência do Brasil (1822), com tudo o que isso significa de necessidade de afirmação, de distanciamento, em relação a Portugal, inclusive no respeitante à língua. E se puséssemos a questão ao contrário: não seria sentida como um desrespeito pela sua soberania uma tentativa de aproximação das duas ortografias da iniciativa da antiga “metrópole”? 

Mas continuando a citação:

“Durante todo o século XX foram várias as tentativas, entre Portugal e o Brasil, para se chegar a uma ortografia comum. Essas tentativas ocorreram em 1931, 1943, 1945, 1971/1973, 1986 e 1990. Nestas duas últimas tentativas participaram já os novos países africanos, emergentes da descolonização portuguesa.”

Comentário:

Compare-se a ideia dos factos dada por este resumo com o historial dos mesmos apresentado no ponto 1. e com o exposto no ponto 2. Os factos mostram que, se todas as tentativas de aproximação falharam, foi porque os brasileiros – no exercício da sua soberania - fizeram pressão para que isso acontecesse. E aí, deram-nos uma lição de resistência que talvez devamos aproveitar.
O objectivo do parágrafo transcrito é informar ou desinformar, pergunto eu?
Já agora, lembremos o poeta modernista brasileiro, Manuel Bandeira, em “Evocação do Recife”, defendendo “como norma a língua errada do povo / língua certa do povo / porque ele é que fala gostoso / o português do Brasil. / Ao passo que nós / o que fazemos / é macaquear a sintaxe lusíada.” (v. Gramática Portuguesa, Pilar Vasquez Cuesta y Maria Albertina Mendes da Luz, já anteriormente citada).

No mesmo livrinho, mais adiante diz-se:

“Em Julho de 2004, numa reunião da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), […] foi aprovado, por unanimidade, e já com a participação de Timor-Leste, um protocolo modificativo do Acordo, segundo o qual este entraria em vigor, desde que ratificado apenas por três países. “

Comentário dirigido à CPLP:

Para quem vem apoiando a defesa do Acordo no respeito pela soberania de todos os povos que usam a língua portuguesa, considero este ponto, no mínimo, surrealista. Gostaria mesmo de saber de qual dos países partiu esta brilhante ideia. Três países podem decidir do que diz respeito a oito? Tanta preocupação com a soberania dos povos prescinde da unanimidade numa questão vital como esta? Está-se a abrir caminho à táctica da imposição do “facto consumado”? E quem tem poder económico para impor o “facto consumado”? E não se chama a isto “traição”?
E quem é que já efectuou «esta nova ratificação» (ibid.)? O Brasil, evidentemente,  Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Dá que pensar!...

Em função destas considerações, concluo que há quem esteja muito interessado e agora muito apressado na concretização deste Acordo (por questões de imperialismo, de prestígio nacional, de gloríola pessoal, de grandes lucros em perspectiva, e outras mais certamente – que não a defesa da língua portuguesa, nem da sua universalidade, que, como já vimos, não precisa deste Acordo para nada).
 
Concluo também que alguém está sabendo muito bem tirar partido de algumas características nacionais, para melhor manipular a opinião pública, a saber:

- a atracção pelas modas, todas, inclusive as de linguagem (veja-se como tantos já optaram por escrever “dossiê”, “ateliê”, “robô” e outras grafias propostas recentemente para galicismos até agora sempre usados com a grafia original, respectivamente dossier, atelier, robot);

- o pavor de parecer antiquado, imobilista, conservador, sem coragem para mudar, incapaz de modernidade;

- depois da Revolução de Abril, o pânico de ser considerado neocolonialista ou apologista do “orgulhosamente sós”;

- uma certa falta de espírito crítico, de convicção e de coragem, o que leva muitos a antecipar atitudes, comportamentos, opiniões, que lhes parecem poder agradar aos poderosos do momento;

- uma boa dose de ignorância, associada à capacidade de opinar, com jactância e sem complexos, sobre aquilo de que não se percebe nada.

 5. Porque estou a ter tanto trabalho a reflectir sobre este Acordo?

Antes de mais, porque sou uma cidadã portuguesa e, como tal, considero a minha língua algo que faz parte da minha identidade, da minha construção e existência como pessoa, individualmente e na minha relação com os outros.

Em segundo lugar, porque me aflige ver o alheamento e a passividade de um grande número de portugueses, perante uma questão que se me afigura vital para todos nós: talvez consiga ajudar os outros a pensar.

Depois, porque somos todos responsáveis, à escala planetária, pela preservação do riquíssimo e variado património linguístico da humanidade, reagindo à lei do mais forte, uniformizadora, tendendo a impor-se, em detrimento dos mais fracos.

E, finalmente, porque sou contra este Acordo desde 1990, pelos motivos que apresentarei mais abaixo.
?Antes disso, porém,  quero lembrar as razões avançadas por quem o defende.

Voltando ao livrinho da Texto Editores, encontramos três razões:
- “de natureza histórica” – “pôr cobro a uma deriva ortográfica de quase um século”;

- “de âmbito lusófono e internacional” – sendo uma língua de comunicação tão espalhada, com tantos falantes e usada em várias organizações internacionais, é “urgente que disponha de uma só ortografia unificada”;

- “de natureza pedagógica e também internacional” – uma só ortografia “facilita a aprendizagem”.

Tendo em conta tudo o que tenho vindo a dizer, considero estas razões inconsistentes e respondo-lhes do seguinte modo:

- “a deriva ortográfica” tem explicações históricas, como vimos, e a história não se reescreve;

- a dupla ortografia não impediu que a língua ganhasse a dimensão que agora tem, nem é impeditiva de que continue a tê-la (já referi muitos dos factores que são decisivos para isso e que não têm nada a ver com a ortografia  - v. ponto 3.);

- a unificação (?) da ortografia não “facilita a aprendizagem” porque:

- as crianças dos países lusófonos não são menos capazes do que as outras, que têm por vezes de enfrentar ortografias bem mais complicadas (olhemos, para não sair das línguas românicas, para o francês, com uma ortografia marcadamente etimológica e gramatical e o italiano, carregado de consoantes duplas - como em ottimo, em que o p não desapareceu, antes foi assimilado ao t) ;
 
- a aprendizagem da língua materna não depende da ortografia e começa muito antes da aprendizagem da leitura e da escrita, nomeadamente no meio familiar e nas instituições pré-primárias; pelo contrário, segundo o linguista francês Alain Bentolila, conselheiro científico do “Observatoire de la lecture” (Observatório da leitura), o que facilita ou dificulta a aprendizagem da leitura é “o dicionário mental”, isto é, a extensão e a qualidade do vocabulário de que a criança dispõe ao abordar essa fase da escolaridade (citado pelo jornal Le monde, consultado na Internet em 12-12-2005);

- quanto à aprendizagem do português pelos estrangeiros, já vimos como a norma e a ortografia europeias têm vantagens, porque mais consolidadas, sendo objecto de um largo consenso  (v. Paul Teyssier, designadamente, ponto 2.). O problema está na convicção com que nós, portugueses, investimos na difusão do português no estrangeiro (v. ponto 3.) e no modo como defendemos e impomos a nossa língua, no nosso próprio país (ver, por exemplo, como se comportam os ingleses em Portugal).

Em suma, os argumentos dos defensores do Acordo não me convencem. Sem querer diabolizar a questão, acho mesmo que há interesses de outra ordem que não são claramente assumidos, mas que não têm nada a ver com a defesa da unidade e prestígio da língua portuguesa.

Sou contra este Acordo designadamente pelas seguintes razões:


- porque é desnecessário, como resulta do que disse atrás, já que a dupla ortografia não impediu em nada a projecção universal da língua;

- porque é inútil, visto que não unifica nada, mantendo-se divergências importantes e duplas grafias em numerosos vocábulos, em Portugal e no Brasil;
- porque aumenta o número de vocábulos em que é possível mais do que uma grafia, dentro da mesma norma e no mesmo país (veja-se o que já acontece no caso dos galicismos atrás referidos –dossier /dossiê – por influência do Dicionário da Academia das Ciências);

- porque altera essencialmente as palavras da norma europeia que mantêm, por razões etimológicas e de pronúncia, as tais consoantes mudas que o Brasil já suprimiu;

-  porque essas alterações desfiguram a nossa norma, dando-lhe um aspecto de coisa escrita “de ouvido”, o que lhe faz perder as raízes que a aparentam às outras línguas românicas e que são também factor facilitador da sua aprendizagem no estrangeiro e da compreensão mútua;

- porque é perigoso, dado que viria a ter forçosamente consequências a nível da nossa pronúncia, sobretudo junto das gerações mais novas e em zonas mais afastadas, do país ou do globo;

-  porque sendo de prever, graças aos meios de que dispõe, a predominância do Brasil, no que toca à edição, difusão e circulação de textos de toda a ordem, inclusive das suas traduções, assim como no imenso universo das novas tecnologias, corremos o risco de, por influência, não só na  pronúncia mas também noutros aspectos (nomeadamente na sintaxe, no vocabulário), a nossa norma se descaracterizar.
Note-se, por exemplo, a influência das telenovelas brasileiras na linguagem falada de jovens e não só – eu disse a ele; ela falou que vinha; eu ajudei-lhe / convidei-lhe; estive três horas na fila, por “estive três horas na bicha” - e os miúdos já corrigem os mais velhos!   

- porque a desagregação previsível da norma europeia seria grave, pois esta deve manter-se como a matriz, a referência que salvaguarda a unidade da língua, na sua diversidade e nas suas variantes, inclusive africanas e asiáticas;

- porque, dito de outro modo, uma língua viva evolui e resiste mercê do equilíbrio entre  duas forças opostas: conservação e inovação; e é à norma europeia usada em Portugal, porque mais estável, mais consolidada e mais limitada no espaço, que cabe a responsabilidade pela coesão entre todas as variantes espalhadas pelo planeta e sujeitas às mais diversas influências;
 
- porque defender a norma europeia, que é a nossa, é um dever imprescritível, para nós, que somos europeus;

- porque se nós, portugueses, não somos os “donos da língua” que espalhámos pelo mundo e que agora partilhamos com outros povos soberanos, também não perdemos o direito a ela, nem o dever de preservar a sua integridade, para que os vindouros a recebam clara e límpida, mais rica, forte e bela, como os melhores no-la deixaram;

- porque é a qualidade do ensino disponibilizado a todos os cidadãos que garante o prestígio da língua;

- porque este Acordo iria trazer uma instabilidade acrescida ao nosso já tão atribulado e pouco eficaz sistema de ensino, quando precisamos, como do pão para a boca, de reunir esforços para vencer a batalha contra a iliteracia; é por aqui que passa o futuro do país e não por serôdios sonhos imperialistas;

- porque esta “reforma da ortografia” teria para os países que usam a norma europeia custos humanos e materiais incalculáveis;
- porque, enfim, tanto nós como os outros países lusófonos, incluindo o rico, imenso, populoso Brasil, deveríamos ter como prioridade a erradicação do analfabetismo e da miséria.



Conclusão


Remeto para a leitura dos argumentos apresentados em artigos, textos, opiniões, estudos, análises que têm vindo a lume sobre esta matéria e ainda para os debates que tem suscitado. Pessoas bem mais competentes do que eu, escritores, professores, linguistas, estudaram detalhadamente o que muda e o que está em causa - é preciso ouvi-las e lê-las.

Não posso deixar de referir, muito especialmente, o incansável Dr. Vasco Graça Moura, um opositor da primeira hora, que muito nos honra e à nossa língua, pela sua obra multifacetada, e cujo talento de tradutor foi agora reconhecido pela Itália, atribuindo-lhe o Prémio de Tradução 2007.

Antes de terminar esta minha reflexão, mais uma questão que me importuna:

-  Porquê esta pressa em ratificar e fazer aplicar este Acordo?

- E porquê justamente agora, no momento em que Portugal e a nossa língua ganharam prestígio e visibilidade, a nível europeu e mundial, por mérito próprio, e graças ao modo como assumimos a Presidência da União Europeia – recorde-se o Tratado de Lisboa e as Cimeiras com o Brasil e depois com a África?

- E já agora, o que fizemos com o nosso Prémio Nobel, José Saramago, um escritor universal, uma verdadeira glória, para nós e para a humanidade? Se não fossem os espanhóis, que sabem que a cultura não tem fronteiras, quem sabe, talvez o país o conseguisse completamente esquecer?...

Seremos nós masoquistas? Ou, mais uma vez, repetindo erros passados, estaremos nós a tentar matar “a galinha dos ovos de ouro”? Ou será que, como o cuco, vamos pôr os ovos no ninho alheio, para não termos de nos ocupar deles?


Resta-me apelar aos nossos responsáveis políticos – Presidente da República, Governo, Assembleia, Autarquias, Deputados Europeus -  para que não se precipitem, pois  têm em mãos uma tremenda responsabilidade, que infelizmente nem todos terão condições para assumir em perfeita consciência.



Lagos, 25 de Abril de 2008



                                             Maria José Abranches Gonçalves dos Santos
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: csx em Segunda, 31 de Maio, 2010 - 00h16
E em jeito de conclusão, se alguns ainda serem da côr do acordo ortográfico e não valorizarem nem têm orgulho em quem são, sempre podem ir mais á frente e pedir um acordo Portunhol, Português com espanhol, que é esse que fala o nosso primeiro ministro. Tornava-se logo a língua mais falada do mundo :)
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: noob em Segunda, 31 de Maio, 2010 - 00h36
Sinceramente não percebo para quê tanta coisa com os acordos ortográficos. Os dois países já falam e escrevem de maneira diferente à centenas de anos, porque e' que agora e' que se foram lembrar (pelos vistos novamente, depois das inúmeras tentativas falhadas no passado, segundo o texto postado acima) disto?

Tudo bem que as línguas evoluem mas evoluem pelo falar do povo, que e' quem a usa no dia-a-dia, e não pela "obrigação" de o fazer devido a acordos assinados.

Fiquem bem :D
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: Atheist em Segunda, 31 de Maio, 2010 - 03h45
Brasileiros burros , português é a língua de Portugal !
O Brasil deve tomar vergonha na cara e banir o português como lingua oficial , deve se fazer uma transição usando a língua inglesa e adotar o verdadeiro idioma do Brasil que é Tupi Guarani língua dos índios nativos do Brasil que foram massacrados pelos colonizadores europeus , o Brasil diz não ser mais colônia de Portugal mais continua usando o português como língua ,atitude típica de brasileiro mesmo povo acomodado e preguiçoso ainda venera e bajula seus colonizadores .
Título: Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
Enviado por: cab em Domingo, 06 de Junho, 2010 - 14h16
csx:

Compreendo e até admiro a paixão que a língua e a escrita do português consegue gerar, é um sinal da sua riqueza, mas por vezes essa paixão tolda uma análise mais desprendida das situações.
Esta situação é de sumenos importância quando comparada com tantas outras coisas que estão a acontecer à nossa volta, não quero com isto retirar importância à defesa da nossa especificidade cultural, mas como já atrás escrevi, essa especificidade pode ser "realinhada" na forma de escrever de algumas palavras mas nunca o será no seu verdadeiro contexto social, que é a vivência diária de uma sociedade.
Portugal e Brasil partilham o português, mas nunca irão partilhar a mesma vivência social nem especificidade cultural, mais não seja porque estão separados por um oceano atlântico que cria contextos sociais totalmente diferentes. A essência de uma cultura está nas suas gentes e não na sua escrita, a sua escrita é apenas e só uma expressão cultural e não a sua cultura. Essa expressão cultural, a escrita, mesmo que seja exactamente igual nas regras de escrita nos dois países será sempre diferente na sua aplicação, novamente, porque o contexto social é diferente o que conduz a uma diferente aplicação e conjugação frásica.
Acho, que se analisarmos desprendidamente o que é proposto, acaba por ser algo com um impacto, diria, quase insignificante...

Atheist:
Lá voltamos nós a carregar as armas dos extremismos ignóbeis e absolutamente descartáveis. :wall:
O "ódio/racismo" é a mais pura das imagens de expressão de ignorância... pois num mundo multi-cultural querer ser mono-cultural é o mesmo de querer não aprender... e quem não aprende...