I.O.U.S.A (um título brilhante) acompanha o périplo de dois homens, Dave Walker e Robert Bixby, pelos Estados Unidos da América para transmitir uma mensagem que muito poucos estão dispostos a ouvir: a América, a maior super-potência do mundo, está falida.
Refere-se por duas vezes no documentário que maior perigo para os EUA do que um terrorista algures escondido numa gruta não se sabe bem aonde, é o colapso total iminente do sistema fiscal e económico dos EUA.
Os dados e gráficos apresentados são chocantes para qualquer pessoa minimamente interessada no rumo que o país está a tomar, como por exemplo a dívida pessoal, empresarial e, sobretudo, estatal, atingir em 2007 um total de quase 9 biliões de dólares, ou ainda o facto de a dívida externa ser superior à soma de todos os países do mundo.
Além de entrevistas a cidadãos comuns e outros bem mais responsáveis pela situação actual como Alan Greenspan, o presidente da Reserva Federal, o uso de imagens de arquivo e os gráficos que analisam a história da dívida nacional, I.O.U.S.A transmite-nos uma sensação de que mesmo não percebendo a fundo os números e os mecanismos fiscais em jogo, existe algo de profundamente errado e catastrófico no horizonte. A certa altura pergunta-se se será moral deixar às gerações vindouras uma dívida que as impossibilite de ter um nível de vida digno, algo que ninguém hoje se parece importar minimamente. Os
baby-boomers estão à beira da aposentação e não há dinheiro para lhes pagar a reforma ou os serviços de saúde.
O documentário encontra-se dividido em quatro secções que analisam os 4 défices dos EUA: défice orçamental, défice de poupança, défice comercial e défice de liderança, analisando-os um a um quanto às causas e efeitos na economia actual e futura. A mistura destes défices coloca uma nuvem muito negra sobre o futuro dos EUA e sobre os jovens que nada parecem saber sobre a situação actual porque ninguém parece interessado em explicar-lhes o que os espera.
Um dado importante é o facto de os EUA serem o país que mais dinheiro pede emprestado, ultrapassando em mais do dobro o país que vem logo a seguir. Isto é importante porque o país fica dependente de quem lhe empresta o dinheiro, neste caso a China e o Japão. E dá um exemplo que eu desconhecia e que ilustra bem a queda de um império (EUA) e a ascensão de outro (China). Em 1956, durante o conflito do Canal do Suez, a Inglaterra declarou guerra ao Egipto por este ter nacionalizado o Canal do Suez. Por motivos políticos, os EUA não concordaram com esta posição devido ao possível envolvimento da União Soviética e obrigou a Inglaterra a retirar-se da região. Como? Os EUA detinham na altura a maior quantidade de títulos do tesouro britânico devido aos empréstimos concedidos após a Segunda Guerra Mundial e ameaçaram arruinar a libra esterlina desfazendo-se das obrigações, naquele que foi um dos maiores actos de guerra financeira do século XX. Neste momento, os EUA encontram-se na posição inversa em relação à China.
E porque é que isto é tão importante? Poder-se-á perguntar.
Porque o que se passa nos EUA pode equiparar-se ao resto do mundo ocidental, nomeadamente à Europa e, em particular, a Portugal.
As recentes medidas de austeridade implementadas pelo governo são um reflexo do estado da dívida portuguesa que é tão grande que o governo só a consegue pagar pedindo mais dinheiro emprestado, uma espécie de D. Branca, como disse recentemente um ex-ministro das finanças.
É um documentário que nos devia fazer pensar no rumo que estamos a seguir (gastar sem ter com que pagar) e no futuro que vamos deixar aos que cá ficarem.
No final, deixa-nos algumas sugestões para agirmos, mas fica uma sensação de total impotência perante uma máquina que já não tem combustível para consumir mas que avança descontroladamente colina abaixo.
Dentro em breve, a docsPT lançará as legendas para o
Crash Course para todos aqueles que pretendem perceber melhor o que se passa de modo a agir e preparar-se para tempos que não se adivinham nada fáceis.
Este documentário podem encontrá-lo
aqui, ainda só com legendas em espanhol.
