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Sobre ovos, omeletes e o sorriso de BartlebyEssa ''identidade especulativa'' de opostos nessa ''guerra ao terrorismo'' que está em andamento nos compele a esboçar uma série de consequências teórico-políticas cruciais, sendo a primeira delas sobre as teorias de conspiração, Todos conhecemos o clichê segundo o qual teorias de conspiração são a ideologia dos pobres: quando falta aos indivíduos capacidade e recursos de mapeamento cognitivo elementar que lhes permitam localizar seu lugar dentro da totalidade social, eles inventam teorias de conspiração que ofereça, um mapeamento substituto e expliquem toda a complexidade da vida social como resultado de um conspiração oculta. Entretanto, como ressaltou o próprio Frederic Jameson (autor da expressão ''mapeamento cognitivo''), essa rejeição crítico-ideológica não basta: no capitalismo global de hoje, lidamos todos, com demasiada frequência, com ''conspirações'' reais (o sucateamento da rede de transporte públicos de Los Angeles no início da década de 1950 não foi a expressão de uma ''lógica objetiva do capital'', mas o resultado de uma ''conspiração'' explícita entre órgãos públicos, indústria automobilística e empresas de construção de estradas - e o mesmo serve para muitas ''tendências'' nas atuais obras urbanas) A rejeição da dimensão ideológica ‘‘paranóica” das teorias de conspiração (a suposição de um misterioso Mestre todo-poderoso etc.) deveria nos alertar para as ''conspirações'' reais que acontecem o tempo todo: hoje, a principal ideologia é a rejeição crítico-ideológica e autocomplacente das conspirações como mera fantasias. Em outras palavras, se nos velhos tempos do capitalismo tradicional a aparência de Ordem, de uma agência central controladora, mascarava o caos subjacente, o caráter ''histórico-natural'' e descontrolado dos processos sociais, hoje a aparência de ''caos'' (em todas as sua dimensões, até a celebração do capitalismo ''pós-moderno'' que se baseia em processo autopoiéticos caóticos, decisões descentralizadas etc.) é a máscara ideológica do crescimento sem precedentes dos aparelhos de Estado e de outras formas de regulação e de controle social e econômico. A escravização neocolonial dos países do Terceiro Mundo, por exemplo, não é um processo natural ''cego'' que obedece à anônima ''lógica do capital'', mas um processo bem organizado e coordenado. Ou, em termos foucaltianos, não é que o poder, que de fato funcione como uma rede complexa e caótica de micropráticas localizadas, queira ser visto como se emanasse de um ponto central de decisão, o supremo Sujeito do Poder; é antes que o poder atual segue a estratégia de negar a si mesmo, apresentando seus aparelhos organizados como elementos de uma rede caótica. ...
não é que o poder, que de fato funcione como uma rede complexa e caótica de micropráticas localizadas, queira ser visto como se emanasse de um ponto central de decisão, o supremo Sujeito do Poder; é antes que o poder atual segue a estratégia de negar a si mesmo, apresentando seus aparelhos organizados como elementos de uma rede caótica.
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