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"As palavras que dizes tornam-se na casa em que vives."Esta citação de Hafez, poeta persa do século XIV, evidencia a importância que a casa, enquanto centro da vida familiar e social, possui na cultura iraniana. Será talvez por isso que a cena de abertura de Radiografia de Uma Família, o filme da iraniana Firouzeh Khosrovani, é um plano que percorre lentamente uma casa vazia com a mobília coberta com lençóis. Esta é a casa de família de Firouzeh, em Teerão, que é revisitada em diferentes momentos do enredo, ao longo dos 82 minutos do documentário. A decoração, o ambiente, a luz da casa, servem de metáfora às alterações e conturbadas inflexões da vida de Firouzeh.Este filme vencedor de melhor longa-metragem no conceituado festival IDFA, bem como do prémio de Melhor Utilização Criativa de Imagens de Arquivo, no mesmo festival, é uma viagem autobiográfica da realizadora por um dos períodos mais interessantes e turbulentos da história recente, A Revolução Islâmica.Filha de um pai educado na cultura ocidental e de uma mãe religiosa e conservadora, a infância da pequena Firouzeh decorre no seio desta dicotomia, que não é mais do que o espelho da agitação que percorre a sociedade da época.A toada de Radiografia é a de uma viagem pelas memórias: lenta, compassada, repleta de imagens descoloridas e confusas, entrecortada pela recordação de diálogos esquecidos e de momentos parcialmente perdidos.E, no fim... o regresso a casa. Porque a casa também é uma construção e um percurso.