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Várias vezes Lacan recorreu ao conceito de pacto e de senha para se referir ao estatuto da palavra em psicanálise. A palavra de honra, o juramento ou a promessa são atos que desafiam o futuro em sua incerteza e indeterminação. Juro dizer a verdade, somente a verdade e nada mais do que a verdade – juramento impossível e no entanto necessário. Este laço entre saber e verdade, que se apresenta como confiança, a noção romana da Fides, representa um problema jurídico (contrato) e religioso (fé). De sua articulação nasce o nosso conceito moderno de confiança. Mas a confiança tornou-se um valor suspeito, pois ela procede de um acordo no qual se troca proteção pela obediência, talvez como o acordo entre adultos e crianças. Nossa época está melhor anunciada pelo noivo do conto de Nelson Rodrigues, que diante de todo amor que sentia e da reciprocidade que experimentava, ainda assim se colocava a dúvida: “Como posso saber que seu amor por mim e meu amor por você ainda existirá daqui a cinco ou dez anos? Como fazer uma promessa que não se sabe que se poderá cumprir?” Neste encontro vamos tentar fazer uma crítica psicanalítica do entendimento contratualista da circulação dos desejos e da palavra que os sela e mantém ao longo do tempo. Discutiremos por que nos parece mais plausível a obrigação de “honrar” pai e mãe do que a obrigação insensata de amar pai e mãe. Nosso argumento é de que o sentimento de incerteza e precariedade dos laços deriva de uma perturbação do uso da palavra na relação entre a intimidade e sua inscrição na realidade simbólica. Christian Ingo Lenz Dunker: psicanalista AME da EPFCL-Brasil, professor associado do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (PSC-IPUSP), co-editor da revista A Peste, co-coordenador do LATESFIP. Autor de Calculo neurótico do gozo (Escuta) e Estrutura e constituição da clínica psicanalítica (AnnaBlume)
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Tópico: Palavra de Honra: Intimidade e Promessa na Precariedade dos Laços (2012) (Lido 1268 vezes)
