Autor Tópico: Ciclo de Conferências Mutações: Fontes Passionais da Violência (2014)  (Lido 1686 vezes)

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Ciclo de Conferências Mutações: Fontes Passionais da Violência



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1. Observação preliminar: o ciclo de conferências de 2014 – que integra a série mutações – propõe uma análise das relações entre violência e civilização. Esse novo ciclo pretende, mais precisamente, discutir o papel das paixões nos destinos da humanidade. Em geral, as análises tendem a pensar a violência apenas como o efeito de causas objetivas, atribuídas quase sempre a razões econômicas e sociais. É isso, mas é mais do que isso, pois sabe-se que a violência é parte do humano; isso que alguns teóricos chamam de dialética da criação e da destruição, virtualmente presente nas convenções sociais (que procuram esconder) e na política (que procura racionalizar), como bem nota Franklin Leopoldo e Silva. Trata-se de saber: “Se seria a violência a forma das relações humanas?”. É certo que somos seres passionais, e a violência é uma espécie de força apaixonada.


http://www.youtube.com/watch?v=NXPu8ebnZvE#

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A negação do sujeito | Franklin Leopoldo e Silva
Um sistema físico pode excluir os elementos contrários à sua funcionalidade, mas um “sistema” social não pode excluir um indivíduo por sua inadaptação. Ele continua presente na forma da exclusão, o que alimenta a necessidade de negá-lo pela violência, que, no limite, é a eliminação. Quando a morte acontece como exclusão, que se pretende definitiva, os mortos continuam sendo nossos mortos: eles nos assombram e nos afligem, por mais que tentemos esquecê-los.

http://www.youtube.com/watch?v=d5X_d_1drSg#

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As novas formas da violência | Pedro Duarte
Na época moderna do século 19, a violência foi glorificada como agente transformador fundamental da história. Karl Marx, em célebre passagem de O Capital, afirmou que “a violência é a parteira de toda velha sociedade que traz uma nova em suas entranhas”. O papel revolucionário da violência era, assim, destacado em seu valor de negação do passado e de afirmação do novo futuro. No sistema filosófico de Hegel, pouco antes, a violência já tinha função decisiva para o pensamento. Leríamos, pouco depois, por parte de Nietzsche, a aprovação da guerra. Remontando historicamente à antiga doutrina grega de Heráclito, para a qual o combate é pai de todas as coisas, os autores modernos buscaram na violência o princípio da mudança – fosse ela direcionada para uma utopia final conciliadora, como em Hegel e Marx; fosse ela apenas realização do devir, como em Nietzsche. A violência seria aniquiladora e criadora.

http://www.youtube.com/watch?v=qvhFLdnEuWQ#

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Terror e política | Newton Bignotto
No dia 5 de fevereiro de 1794, Robespierre, o então mais importante líder revolucionário francês, pronunciou diante da Convenção, principal órgão legislativo da época, um discurso que procurava indicar o que caracterizava “os princípios da moral política”, que deveriam guiar a administração interior do país. Algumas semanas antes, ele havia falado para o mesmo público sobre a política externa da França e havia afirmado que, para combater os muitos inimigos, que ele acreditava que estavam ameaçando os destinos da Revolução, era preciso dar ainda mais poder aos governantes de então, pois: “O governo revolucionário deve aos bons cidadãos toda a proteção nacional, ele deve aos inimigos do povo somente a morte”. No discurso seguinte, ele voltou ao tema das conspirações que ameaçavam a constituição de um Estado republicano, tratando, dessa vez, dos inimigos internos. Herdeiro de Montesquieu, insistindo na ideia de que o que caracteriza um governo republicano é a virtude, ele criaria uma oposição destinada a marcar a prática e o pensamento político da modernidade. Para ele: “Se o mecanismo do governo popular em períodos de paz é a virtude, o mecanismo do governo popular na revolução é ao mesmo tempo a virtude e o terror: a virtude sem a qual o terror é funesto; o terror sem o qual a virtude é impotente”.

http://www.youtube.com/watch?v=ozEYUYSk5l0#

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A Guerra de Tróia não acontecerá: reflexões sobre a não-violência | Olgária Matos
Nossa cultura é tributária de tradições militares e heroicas que concederam grande espaço à violência, preterindo a questão da não-violência; pois, se a coragem é a virtude dos que não temem arriscar sua vida e a do Outro em nome de causas socialmente valorizadas, como a Justiça e a Liberdade, a não-violência é a fraqueza dos covardes. Se a violência e a crueldade possuem analogias em todas as épocas e lugares, elas também se alteram no tempo. Razão pela qual, ao se referir à Guerra de Tróia, Walter Benjamin a diferencia da guerra moderna: “Na época de Homero, a humanidade oferecia-se em espetáculo aos deuses olímpicos; agora, ela se transforma em espetáculo para si mesma. Sua auto-alienação atingiu o ponto que lhe permite viver sua própria destruição como um prazer estético de primeira ordem”. Se é possível reconhecer na Ilíada e nos trágicos antigos o lamento acerca da violência e da morte – o erro trágico, a um só tempo, reponsabilidade do homem e das forças que o ultrapassam –, a violência moderna é responsabilidade dos crimes sem culpa, que recusam o campo ético para ingressar naquele do pragmatismo e do cálculo, fundamentando a cultura da violência. O que garante a violência não é ela mesma mas sua justificação, quando legitimada como motor do progresso. Assim, o enunciado “os fins justificam os meios” significa que os fins justificam todos os meios.


http://www.youtube.com/watch?v=9qwgIn60wvY#

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Transfiguração do caos | Oswaldo Giacoia Junior
Dando seguimento à série Mutações, o ciclo de conferências deste ano, cujo tema envolve relações entre violência e civilização, suscita a seguinte pergunta: não seria a própria violência a forma das relações entre os homens? Com isso, oferece-se a possibilidade de pensar os destinos do humano em suas múltiplas dimensões, uma vez que violência e paixão são termos constitutivos do humano, tanto como paixão da violência como quanto violência das paixões. A intenção, aqui, é desenvolver esse tema a partir da imbricação entre direito, violência e força, tendo por base a filosofia de Friedrich Nietzsche.
"O que nós queremos, o que não gostamos, o que pensamos, o que sentimos: tudo é impermanente. As palavras de elogios ou críticas são impermanentes. Todas vêm e vão. Se entendermos isso, não vamos ficar tão desorientados com os dramas da vida cotidiana."
Chagdud Tulku Rinpoche

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Re: Ciclo de Conferências Mutações: Fontes Passionais da Violência (2014)
« Resposta #1 em: Quarta, 22 de Abril, 2015 - 20h18 »
Estão sendo publicadas uma palestra por semana, então estarei adicionando as outras 17 palestras restantes conforme forem disponibilizadas.
"O que nós queremos, o que não gostamos, o que pensamos, o que sentimos: tudo é impermanente. As palavras de elogios ou críticas são impermanentes. Todas vêm e vão. Se entendermos isso, não vamos ficar tão desorientados com os dramas da vida cotidiana."
Chagdud Tulku Rinpoche