Autor Tópico: Islândia: Já não é Notícia, porquê??  (Lido 1696 vezes)

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Gipsyco

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Islândia: Já não é Notícia, porquê??
« em: Sábado, 03 de Março, 2012 - 16h13 »
Deixo-vos o texto abaixo.

Eu não pesco de Economia, mas acho que dá par perceber o texto acerca da bancarrota na Islândia.

LiBeRdAdE!


GOD Bless
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Islândia, lembram-se?!! Já não é notícia, porque...
MUITO BOM! TEM DE SER LIDO E DIVULGADO!!!

 O grupo de Bilderberg controla quase a totalidade dos governos ocidentais, através do controlo dos mídia e da alta finança.
 Contudo, a Islândia resistiu e venceu!!!

E porque, com isso, se tornou um mau exemplo para os donos do mundo, deixou de ser notícia em todo o mundo!...................
 
 Veja-se como!? -  no artigo abaixo.
 
Por Deena Stryker*

À medida que um país europeu atrás do outro atinge ou fica próximo de atingir a bancarrota, pondo em perigo o Euro e com repercussões para o mundo inteiro, a última coisa que os poderes em questão querem é que a Islândia se torne um exemplo. Eis a razão:

Cinco anos de um regime puramente neoliberal fizeram da Islândia (população de 320 mil habitantes, sem Exército) um dos mais ricos países do mundo.

Em 2003 todos os bancos do país foram privatizados e, num esforço para atrair o investimento estrangeiro, passaram a oferecer serviços on-line, cujos custos reduzidos lhes permitiram oferecer taxas internas de rendibilidade relativamente elevadas.

Estas contas, designadas "IceSave", atraíram muitos pequenos investidores ingleses e holandeses. Mas, à medida que os investimentos cresciam, também a dívida externa dos bancos aumentava.

Em 2003, a dívida islandesa equivalia a 200 vezes o seu PIB e, em 2007, era de 900%.

A crise financeira de 2008 foi o golpe de misericórdia.

Os três principais bancos islandeses, o Landbanki, o Kapthing e o Glitnir caíram e foram nacionalizados, enquanto o Kroner perdeu 85% do seu valor em relação ao Euro.

No final do ano, a Islândia declarou a bancarrota.

Ao contrário do que se poderia esperar, da crise resultou que os islandeses recuperaram os seus direitos soberanos, através de um processo de democracia participativa directa, que acabou por conduzir a uma nova Constituição.
 
Mas só depois de muito sofrimento.

Geir Haarde, primeiro-ministro de um governo de coligação social-democrata, negociou um empréstimo de dois milhões e cem mil dólares, ao qual os países nórdicos acrescentaram mais dois milhões e meio.
 
Mas a comunidade financeira internacional pressionou a Islândia a impor medidas drásticas.
 
O FMI e a União Europeia quiseram apoderar-se da sua dívida, alegando que este era o único caminho para que o país pudesse pagar à Holanda e ao Reino Unido, que haviam prometido reembolsar os seus cidadãos.
Os protestos e as revoltas continuaram, acabando por forçar o governo a demitir-se.

As eleições foram antecipadas para Abril de 2009, resultando numa coligação de esquerda, que condenou o sistema económico neoliberal, mas logo cedeu às exigências daquele, de acordo com as quais a Islândia deveria pagar um total de três milhões e meio de Euros.

Isto exigia que cada cidadão islandês pagasse 100 euros por mês (cerca de US $ 130) por quinze anos, a juros de 5,5%, para pagar uma dívida contraída por particulares perante particulares.

Foi a gota de água que fez transbordar o copo.

O que aconteceu depois foi extraordinário.
 
A crença de que os cidadãos tinham que pagar pelos erros de um monopólio financeiro, que uma nação inteira deveria ser tributada para pagar dívidas privadas caiu por terra, transformando a relação entre os cidadãos e suas instituições políticas, e acabando por trazer os líderes da Islândia para o mesmo lado dos seus eleitores.
 
O Chefe de Estado, Olafur Ragnar Grímsson, recusou-se a ratificar a lei que teria feito os cidadãos da Islândia responsáveis pelas dívidas seus banqueiros, e aceitou o repto para um referendo.
 
É claro que isto apenas fez com que a comunidade internacional aumentasse a pressão sobre a Islândia.
 
O Reino Unido e a Holanda ameaçaram com represálias terríveis, que isolariam o país.
 
Quando os islandeses foram a votos, os banqueiros estrangeiros ameaçaram bloquear qualquer ajuda do FMI.
 
O governo britânico ameaçou congelar poupanças islandesas e contas correntes.
 
Como afirmou Grimsson: "Foi-nos dito que, se recusássemos as condições da comunidade internacional, nos tornaríamos na Cuba do Norte. Mas, se tivéssemos aceitado, ter-nos-íamos tornado antes no Haiti do Norte." (Quantas vezes escrevi que quando os cubanos olham para os problemas do seu vizinho, o Haiti, consideram que têm sorte.)

No referendo de Março de 2010, 93% dos islandeses votou contra o pagamento da dívida.
 
O FMI imediatamente congelou o seu empréstimo.
 
Mas a revolução (apesar de não ter sido transmitida nos EUA), não se deixaria intimidar.
 
Com o apoio de uma cidadania em fúria, o governo colocou sob investigações civis e penais os responsáveis pela crise financeira.
 
A Interpol lançou um mandado internacional de captura para o ex-presidente do Kaupthing, Sigurdur Einarsson, à medida que outros banqueiros envolvidos no crash fugiram do país.
 
Mas os islandeses não pararam por aí: decidiram elaborar uma nova constituição que iria libertar o país do poder exagerado da finança internacional e do dinheiro virtual. (A que vigorava havia sido escrita quando a Islândia ganhou sua independência à Dinamarca, em 1918, sendo que a única diferença relativamente à Constituição Dinamarquesa a de que a palavra "presidente" a palavra substituiu a palavra "rei".)
 
Para escrever a nova constituição, o povo da Islândia elegeu 25 cidadãos, de entre 522 adultos que não pertenciam a nenhum partido político, mas recomendados por pelo menos trinta cidadãos.
 
Este documento não foi obra de um punhado de políticos, mas foi escrito na Internet.
 
Reuniões da Constituinte são transmitidas on-line, e os cidadãos podem enviar os seus comentários e sugestões, vendo o documento tomar forma.
 
A Constituição que resultará deste processo participativo e democrático será submetida ao Parlamento para aprovação depois das próximas eleições.
Alguns leitores lembrar-se-ão de que a crise agrícola da Islândia do século 9 foi tratada no livro de Jared Diamond que tem esse nome.

Hoje, esse país está a recuperar do colapso financeiro de forma exactamente oposta àquela geralmente considerada inevitável, como foi confirmado ontem pela nova presidente do FMI, Christine Lagarde, a Fareed Zakaria.

Foi dito ao povo da Grécia que a privatização de seu sector público é a única solução.

Os povos da Itália, da Espanha e de Portugal enfrentam a mesma ameaça.

Estes povos devem olhar para a Islândia. Recusando curvar-se perante os interesses estrangeiros, este pequeno país afirmou, alto e a bom som, que o povo é soberano.

É por isso que já não aparece nas notícias.

* Deena Stryker é jornalista


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FragaCampos

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Re: Islândia: Já não é Notícia, porquê??
« Resposta #1 em: Segunda, 05 de Março, 2012 - 04h05 »
É um artigo relevante e que não veremos nos nossos meios de comunicação até ser tarde demais.

No entanto, há uma grande diferença entre Islandeses e Portugueses resultante das diferenças históricas, culturais e essencialmente demográficas que é a forma participativa e informada com que eles actuam na condução dos destinos do seu país. E essa diferença faz toda a diferença.
Saiba como pesquisar corretamente aqui.
Como transferir do 1fichier sem problemas de ligação? Veja aqui.
Converta os links antigos e aparentemente offline do 1fichier em links válidos. Veja aqui como fazer.
Classifique os documentários que vê. Sugestão de como o fazer.

RafaelaRodri

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Re: Islândia: Já não é Notícia, porquê??
« Resposta #2 em: Segunda, 05 de Março, 2012 - 12h35 »
FragaCampos tem toda a razão. Infelizmente, não me acredito que isso iria resultar em Portugal. Estamos demasiado mal-informados sobre a actual crise e sobre formas de resolução, quer experienciadas quer hipotéticas. Além disso, os portugueses actualmente só querem uma solução, só querem que alguém com "punho forte" tome conta do país, daí que a Troika e o FMI não sejam tão mal-vistas como deveriam. Algumas pessoas chegam a dizer que devíamos deixar que eles governassem o país e esquecem-se que perdemos a nossa independência tanto financeira como geográfica.

Os Islandeses são, sem dúvida, um óptimo exemplo, mas a sua realidade é muito diferente da nossa. Não quero ser pessimista e dizer que isso não resulta, mas num país que nem sequer chega a votar nos seus representantes ou importar-se com quem lá está, unir-se e enfrentar isto é um pouco (para o muito) complicado. Era necessário mudar radicalmente a mentalidade do nosso país e tirar todos os que actualmente estão no poder, trocar por economistas que vejam pela primeira vez o problema e que vejam soluções simples! Os nossos actuais líderes andam à roda sem saber o que fazer, daí ser preciso que alguém de fora olhe para o que se está a passar e dê sugestões de resolução. Às vezes, a solução está mesmo à nossa frente e nós não conseguimos olhar sequer para ela.

Afonsoaero

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Re: Islândia: Já não é Notícia, porquê??
« Resposta #3 em: Segunda, 05 de Março, 2012 - 15h37 »
Desculpem a intromissão de um leigo que pode estar dizendo asneiras, mas...
Aqui na "parte debaixo do Equador", na prática, a coisa funcionou assim:
Lá por meados da década de 80, tínhamos uma dívida externa considerada por muitos "impagável". O FMI entrou de sola exigindo planos de contenção, arrocho da economia, etc.. etc... Toda aquela cantilena que diz que é para acertar as contas, mas na prática só visa transferir a riqueza do país para alguns poucos bancos às custas do bem estar do povo. A gente fazia manifestações nas ruas, pixava as paredes com "Fora FMI" e outros slogans. Recebíamos as "delegações" do FMI no aeroporto com cartazes, tomates e ovos. Mas, na minha percepção de leigo em economia, o que foi feito - e funcionou - foi o seguinte: Negociava-se com o FMI, e prometia-se o arrocho, aperto no cinto, etc... Pegávamos os empréstimos e simplesmente não cumpríamos os acordos, ou cumpríamos apenas parcialmente. Vinha de novo a delegação do FMI, novos protestos nas ruas, novos acordos que acabavam ficando só no papel ou eram cumpridos apenas de forma cosmética. Foi-se cozinhando, cozinhando e hoje em dia estamos emprestando dinheiro para o FMI.
A meu ver, às vezes acho que a turma aí de cima do Equador é certinha demais. Esse tipo de acordo nem sempre é para ser cumprido. Os banqueiros jogam sujo, então pague-se-lhes na mesma moeda. Não precisa enfrentá-los. Basta fazer os acordos, prometer mundos e fundos, arrochos homéricos, pegar a grana e no fim não cumprir nada na prática ou cumprir apenas parcialmente. Me parece, inclusive, que é essa mais ou menos a tática que os gregos estão começando a tomar (estive em Atenas em outubro passado). Mesmo porque, cumprir à risca tudo que foi exigido deles é suicídio político e econômico.
« Última modificação: Segunda, 05 de Março, 2012 - 15h40 por Afonsoaero »

FragaCampos

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Re: Islândia: Já não é Notícia, porquê??
« Resposta #4 em: Terça, 06 de Março, 2012 - 18h13 »
E quando aqueles que assinam os acordos (ou são "mandados" ou "pressionados" por outros) têm muito a perder caso as regras não sejam as do FMI?
Há uma coisa que é preciso perceber e que quase nunca é referido: esta crise é diferente da que o Brasil, a Argentina, o Equador (e até Portugal) viveram no passado. Esta é uma crise global e sistémica. Basta uma peça do dominó cair, para todo o castelo de cartas ir atrás.
Os nossos actuais líderes andam à roda porque não percebem o que se passa, e os poucos que percebem, ou não têm voz, ou fazem parte do sistema. Neste momento, a dívida tóxica está a ser transferida dos bancos para os contribuintes europeus. Salva-se a banca, salva-se os investidores privados e fundos de investimento, transfere-se a riqueza real da base para o topo da pirâmide, e cria-se um caldeirão de instabilidade que abrirá caminho para mudanças políticas e geoestratégicas que irão sendo paulatinamente implementadas como "incontornáveis".

Independentemente de tudo isto, e voltando à notícia, o que a Islândia está a fazer é mostrar que a democracia é possível. Que a responsabilização dos políticos (não sabemos se o ex-primeiro-ministro será considerado culpado ou não, mas isso não é o mais importante) é possível, se para tal o povo estiver informado e quiser participar na construção da sua sociedade. A questão demográfica e geográfica é importante, já que comunidades mais pequenas e com menos recursos (como as nórdicas) têm de colaborar mais entre si, criar sinergias para sustentar o bem-estar de todos, e isso reflecte-se numa maior co-responsabilização e empenho no que realmente importa.
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