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Há no Brasil um mito poderoso, o da não-violência brasileira, isto é, a imagem de um povogeneroso, alegre, sensual, solidário que desconhece o racismo, o machismo e a homofobia, querespeita as diferenças étnicas, religiosas e políticas, não discrimina as pessoas por sua classe social,etnia, religião ou escolha sexual, etc. Nossa auto-imagem é a de um povo ordeiro e pacífico, alegree cordial, mestiço e incapaz de discriminações étnicas, religiosas ou sociais, acolhedor para osestrangeiros, generoso para com os carentes, orgulhoso das diferenças regionais e, evidentemete,destinado a um grande futuro.Muitos indagarão como o mito da não-violência brasileira pode persistir sob o impacto daviolência real, cotidiana, conhecida de todos e que, nos últimos tempos, é também ampliada por suadivulgação e difusão pelos meios de comunicação de massa. Ora, é justamente no modo deinterpretação da violência que o mito encontra meios para conservar-se. O mito da não-violênciapermanece porque graças a ele admite-se a existência de fato da violência e pode-se, ao mesmotempo, fabricar explicações para denegá-la no instante mesmo em que é admitida. Para isso,precisamos examinar os mecanismos ideológicos de conservação da mitologia.