Autor Tópico: O Último Oleiro Da Vila (2021)  (Lido 320 vezes)

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FragaCampos

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O Último Oleiro Da Vila (2021)
« em: Sábado, 30 de Outubro, 2021 - 01h50 »
O Último Oleiro da Vila



[imdb]

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As primeiras imagens do filme, idealizado por Telma Silva Directora do Museu Municipal de Vila Franca do Campo, são da ilha de Santa Maria. É por ali que começa a ser contada a história do “Último Oleiro da Vila”, recolhendo testemunhos do filho do último explorador de barro da ilha, José Soares Pacheco, que mostra os utensílios utilizados pelo pai e por tantos outros homens que estavam encarregues de retirar a matéria-prima dos barreiros e moldá-lo em forma de bolas para seguirem depois para São Miguel. Da parte da Câmara Municipal de Vila do Porto, que também foi parceira neste filme, falou-se da importância económica do barro para a ilha e de como os carros de bois eram carregados para levar aos navios o barro que era depois transportado para São Miguel.
Enquanto ouvia os relatos de como tudo se fazia antigamente, o protagonista acenava com a cabeça à medida que ia lembrando as toneladas de barro que lhe passaram primeiro pelos pés e depois pelas mãos e roda. João Carroça, ou João “da Rita” como ficou profissionalmente conhecido, estava na plateia do Centro Cultural de Vila Franca do Campo, juntamente com a esposa e o filho – que lhe segue agora as pisadas – assentia de cada vez que um dos entrevistados para o documentário lhe fazia referência, por exemplo, quando foi referido que chegou a ir a Santa Maria para falar com José Soares Pacheco para pedir algum tipo de barro específico, misturando vários tipos e cores da matéria-prima.
João “da Rita” passou depois a ser o protagonista deste documentário realizado pelo Museu Municipal de Vila Franca do Campo, da responsabilidade da sua Directora,  Telma Silva, testemunhando a vida que já lhe estava traçada desde nascença já que “do lado da minha mãe eram todos oleiros e do lado do meu pai eram todos vendedores de loiça”.

A “loiça da Vila”
Desde a extracção do barro em Santa Maria, até ser pisado nas “tendas”, ir para a roda, ser cozida nos grandes fornos comunitários e ser vendida, o documentário recolhe também testemunhos – em São Miguel e Santa Maria – sobre estas vivências e sobre o papel da “loiça da Vila” no quotidiano de outros tempos. João “da Rita”, o último oleiro de Vila Franca do Campo, lembrou a sua vida passada a pisar barro enquanto ainda criança e mais tarde na roda, aprendendo por sua iniciativa de tanto ver os “mestres” darem à roda. Para a câmara, recordou como era feito depois o cozimento da loiça e como eram dispostas as peças nos fornos, advertindo que “no forno grande a loiça coze de cima para baixo e nos mais pequenos coze de baixo para cima”, para justificar a disposição das obras que saiam das rodas dos muitos oleiros que exerciam actividade na freguesia de São Pedro. Entre eles os dois irmãos mais conhecidos na arte – os mestres António e José Batata – que também não podiam ficar de fora deste documentário. Aliás no filme, cuja antestreia aconteceu na Segunda-feira e que foi ontem divulgado online na página da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, há imagens inéditas dos dois irmãos e que só agora são vistas. Estiveram durante muitos anos - e até agora - incógnitas no Museu da Olaria de Barcelos sem que fossem conhecidos os protagonistas das bobinas que foram doadas pelo micaelense Eduíno Borges Garcia ao Museu, depois de registadas as imagens dos dois irmãos na olaria na década de 70 ou 80.

Recuperar o património da Vila
Telma Silva, Directora do Museu Municipal de Vila Franca do Campo, disse ter tido conhecimento das ditas bobinas e depois de terem conseguido converter as imagens para serem correctamente visualizadas “apesar de não ter conhecido pessoalmente os irmãos Batata, soube logo quem era que estava naquelas imagens”. E depois de convertidas as bobinas, também o Museu da Olaria de Barcelos pode enriquecer o seu acervo, dando um nome aos protagonistas dos curtos filmes.
Para a responsável pelo Museu Municipal de Vila Franca do Campo, também ela uma amante da olaria, este documentário surge no seguimento do trabalho de investigação e do trabalho de campo que foi realizado no âmbito do recém-inaugurado, em Dezembro do ano passado, Roteiro das Olarias.
Trata-se de uma peça fundamental para “o registo e salvaguarda de um património cultural imaterial que precisa de ser registado e salvaguardado”, para que a história da afamada “loiça da Vila” e do próprio quotidiano dos Açores não se perca.
Isso mesmo considerou também o Presidente da Câmara Municipal de Vila do Campo, Ricardo Rodrigues, que considerou este documentário como “uma lufada de ar fresco para revisitar o património”. Um património cuja actividade ligada à olaria remonta ao tempo do terramoto de 1522, naquela que era à época a capital da ilha de São Miguel.
Este documentário “traz uma narrativa muito interessante” da actividade económica que foi muito importante para Vila Franca do Campo mas também para Santa Maria “de onde era tirado o barro”. Um registo para a posterioridade que aborda também a importância “dos vendilhões de loiça” que distribuíam depois a famosa loiça de barro por toda a ilha.
Além deste documentário, Ricardo Rodrigues fez também referência ao Roteiro das Olarias de Vila Franca do Campo que recuperou e tornou visitáveis duas antigas olarias, um forno comunitário e uma outra olaria “junto à praia das Guias, quase exclusivamente para workshops ou para quem queira simplesmente interagir com o barro e as rodas, que são ainda as originais”.

A homenagem a João “da Rita”
Naquele pouco tempo em que pode recordar outras vivências, João “da Rita” viu pela primeira vez o documentário que é também uma homenagem a todos os oleiros da Vila. Ao lado da esposa e do filho, que agora é quem bamboleia a roda na “tenda”, João “da Rita” deu o veredicto: “está muito bem feito”. Quanto à homenagem “é muito bonita. Gostei muito”.
Com 65 anos, gostou de ver e de recordar “as coisas antigas” e acredita que é importante “para se saber como eram os tempos antigos. Agora, é tudo moderno e ninguém quer saber. Mas fico contente por ainda haver uns poucos que gostem de saber coisas desse tempo e façam estas coisas para recordar”.
Mas nem tudo é bom de recordar, pois aos oito anos ter de “pisar barro para os meus tios” quando a praia ficava ali mesmo ao lado, é algo que lamenta. Isso e ter começado tão novo a lidar com “o frio” do barro e depois ir para o forno onde apanhava o calor do lume. “Agora estou padecendo”, avança apontando para as canadianas que o ajudam a deslocar-se enquanto revela que agora “o meu filho é que está a trabalhar na tenda”. João Carroça lembra que era preciso “trabalhar muito” o barro para que ficasse sem impurezas e pronto a ser usado pelos oleiros mais velhos e só muitos mais tarde “quando eles iam almoçar” é que se aventurou a tentar sentar-se na roda.
Mas ainda vai à olaria? O último oleiro da Vila responde que “ainda vou de vez em quanto”, e indica que sempre aproveita para “explicar alguma coisa que ele [o filho] não saiba” e recordar como era o empurrar da roda e ver nascer as peças de barro que eram fundamentais em todas as casas açorianas.

Roteiro das olarias
O Roteiro das Olarias foi um projecto idealizado pela Junta de Freguesia de São Pedro e que a Câmara Municipal de Vila Franca do Campo depressa acarinhou. Este roteiro, que implicou a recuperação e modernização de duas olarias existentes, de um forno colectivo e da olaria-museu, é um percurso expositivo e interactivo que começa na Olaria Mestre João “da Rita”. Ali, há uma recepção aos visitantes e também uma loja onde serão vendidos produtos e materiais relacionados com a temática da cerâmica, e onde artesãos podem apresentar e escoar os seus produtos.
Depois do primeiro espaço, o roteiro indica o Forno Manuel Jacinto Carvalho, que outrora funcionou como forno colectivo e era alugado aos oleiros para cozerem as suas peças. Ali é apresentada uma animação para crianças, sobre o fabrico das peças de louça e contando também a importância da louça da Vila que era vendida em toda a ilha.
O terceiro espaço deste roteiro diz respeito à olaria do Mestre José Batata. A vida e obra de Mestre José Batata está patente nesse espaço. A obra através de um expositor com algumas das suas peças, e a vida, comentada através de uma entrevista gravada com o artista Tomás Borba Vieira. O quarto espaço do roteiro é a Olaria-Museu Mestre António Batata, que antes da reestruturação era usada pelo Museu para realizar workshops e permitia que artesãos que trabalham o barro ali dessem uso às três rodas originais que ali permanecem. O espaço mantém a traça original com o chão de terra batida e paredes em alvenaria. Há também uma mufla, um forno de cozer barro, que é comunitário e está disponível para quem ali vá trabalhar o barro.

Em "Correio dos Açores"

https://youtu.be/UMc40OLds7Y

« Última modificação: Sexta, 12 de Maio, 2023 - 17h32 por VitDoc »
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Re: O Último Oleiro Da Vila (2021)
« Resposta #1 em: Sábado, 30 de Outubro, 2021 - 05h23 »
Obrigada!  :reverence:
:eye:  À informação que acumulamos chamamos de CONHECIMENTO. Ao CONHECIMENTO compartilhado, de SABEDORIA." Alan Basilio



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