Autor Tópico: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)  (Lido 17064 vezes)

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FragaCampos

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Re: Mas será que é possível?
« Resposta #20 em: Terça, 22 de Janeiro, 2008 - 19h38 »
Sim, penso que aborda o assunto de uma forma bastante lúcida e clara sobre questões aqui já debatidas.
E uma vez que os links para o Ciberdúvidas não parecem perdurar muito tempo, deixo aqui um outro artigo que me parece importante:


O editorial do Expresso de 1 de Dezembro estranha aquilo a que chama a minha defesa do proteccionismo como modelo, no tocante ao Acordo Ortográfico. E, face ao lead que o encima, terei de ver a minha posição displicentemente catalogada nos "nacionalismos balofos".

Se defender a preservação, a valorização e a divulgação da língua portuguesa como elemento identitário, meio de criação e expressão cultural ao longo de séculos, instrumento de comunicação quotidiana, traço de união entre Portugal e o resto do mundo corresponde a ser proteccionista, devo dizer que tenho a maior honra em sê-lo, tanto no plano nacional como no internacional.

E se se entende por proteccionismo o propósito de acautelar legitimamente os não menos legítimos interesses da edição portuguesa que, pelo seu mérito, qualidade e capacidade de resposta, tem batido a concorrência dos grandes grupos internacionais nos países africanos, também faço questão de apoiar as modalidades adequadas de salvaguarda desses interesses também geostratégicos, chamem-lhe proteccionismo ou apito. Nem percebo o que é que o Expresso acha de criticável nisso. Temos ou não temos determinados interesses vitais a defender?

"Se Portugal não se preparou, devia tê-lo feito", diz o editorial. O que é que isto quer dizer? Que se devia ter posto o carro à frente dos bois e feito uma preparação ruinosa, demorada e inútil quanto a uma trapalhada que ninguém podia levar a sério nem acreditar viesse a entrar em vigor?

Saberá o Expresso que na grafia brasileira se optou por suprimir as consoantes mudas na esteira de intelectuais empenhados na construção de uma brasilidade autóctone e distanciada, quando não rejeitadora, de raízes e matrizes portuguesas? Lembro-me de um texto de Mário de Andrade em que o autor de Macunaíma anunciava passar a escrever desse modo.

Só posso ver na concepção subjacente ao editorial em apreço um darwinismo sociocultural mais do que ultrapassado e que pode traduzir-se assim: temos de sujeitar-nos à lei do mais forte, pois, de outro modo, "se Portugal não avançasse para um acordo com o Brasil (.), em breve o português de Portugal não seria mais do que uma bizarria falada por uns meros 10 milhões de pessoas".

Isto é deveras extraordinário, quando não balofo: há mais de 60 anos que o Brasil não dá cumprimento ao acordo anterior e há perto de vinte que se vive sem o acordo de 1990. Em tantas décadas, acaso o português de Portugal se tornou uma bizarria? É assim que o Expresso vê o estado actual da nossa língua? É assim que encara as nossas relações com os PALOP nesse plano?

Por ironia do destino, o suplemento Actual da mesma edição de 1.12.07 publica um artigo muito interessante sobre a língua inglesa no mundo e as suas múltiplas e significativas variantes. Não consta que haja qualquer veleidade de negociar acordos ortográficos e também não se afigura que o inglês de Inglaterra esteja em risco de se transformar numa "bizarria" falada por muito menos milhões de pessoas do que a totalidade dos falantes de inglês à escala do planeta. O mesmo se diga do espanhol.

Nem vale nada a invocação dos programas informáticos e do software dos correctores, ou então os computadores de língua inglesa não poderiam operar com termos como action ou exception e coitados dos alemães e dos franceses! O Expresso não entendeu que são as relações da grafia com a etimologia e com a pronúncia, e mais nenhumas, que estão em discussão.

Mas o mais absurdo, e nisso o editorial acompanha as luminárias que engendraram o Acordo, está em se pensar que cerca de 1,5% de vocábulos do português de cá e cerca de 0,5% de vocábulos do português lá, desde que alterados, asseguram a unidade da língua. Nem parece do Expresso supor uma coisa dessas! É evidente que não contribuem absolutamente para nada, a não ser para que ela seja desfigurada e para aumentar exponencial e inutilmente confusões, dificuldades e custos de toda a espécie, pelo menos do lado português.

Terá o Expresso o provinciano complexo de inferioridade de pensar que o que acontece no mundo com o inglês e com o espanhol não pode acontecer com a língua portuguesa? Mas pode sossegar: felizmente, não corre o risco de ser publicado em "bizarrês".
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Re: Mas será que é possível?
« Resposta #21 em: Quarta, 26 de Março, 2008 - 01h59 »
Ontem calhou ver o programa "Notas Soltas" na RTP com António Vitorino, em que ele abordou este assunto, que ao que parece esteve sobre a mesa na visita que Cavaco Silva fez a Moçambique.
Não se alongou muito sobre o assunto, mas deu para tecer alguns comentários.
Referiu por exemplo que o Espanhol e o Inglês são línguas globais e não precisaram de acordos ortográficos para o efeito. Pelo contrário, cresceram e tornaram-se no que são hoje muito graças à "expansão" da língua, falada fora das suas metrópoles de origem, por outros povos, que a enriquecem, que a moldam com imaginação, com a sua própria cultura e estatuto social. É exactamente essas diferenças que enriquecem a língua e não a uniformização, como fez, ou tentou fazer, a França com o francês, que resultou numa língua sem expressão a nível global e que se "perdeu no tempo".

Penso que apesar de curta, não deixa de ser uma reflexão interessante, que vem apoiar a desconfiança e desconsideração que tenho por todo este processo, principalmente com a forma como está a ser conduzido.
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Re: Mas será que é possível?
« Resposta #22 em: Sexta, 11 de Abril, 2008 - 17h42 »
Perguntas e respostas sobre o Acordo Ortográfico


1. Porquê fazer um Acordo Ortográfico?

    Porque o Português é língua oficial em oito Estados soberanos mas tem
    duas ortografias, ambas correctas, a de Portugal e a do Brasil. Existem
    desvantagens na manutenção desta situação e a língua será
    internacionalmente tanto mais importante quanto maior for o seu peso
    unificado.

    A existência de dupla grafia limita a dinâmica do idioma e as diferenças
    criam obstáculos, maiores ou menores, em todos os incontáveis planos em que
    a forma escrita é utilizada: seja a difusão cultural (literatura, cinema, teatro); a
    divulgação da informação (jornais, revistas, mesmo a TV ou a Internet); as
    relações comerciais (propostas negociais, textos de contratos) etc., onde o
    Português escrito é utilizado. Isto, se considerarmos apenas as relações
    intracomunitárias (nos oito países da CPLP).

    Nas relações internacionais, recorde-se que existem quatro grandes línguas
    (Inglês, Francês, Português e Espanhol) e que o Português é a única com duas
    grafias oficiais.

    Assim, no plano intracomunitário, a dupla grafia dificulta a partilha de
    conteúdos, no plano internacional, limita a capacidade de afirmação do idioma,
    provocando, por exemplo, traduções quer literárias quer técnicas diferentes
    para Portugal e Brasil.

2. Mas como se explica que exista mais do que uma ortografia?

    No rescaldo da Implantação da República em Portugal, deu-se a 1ª
    Reforma Oficial da Ortografia Portuguesa que, em 1911, estabeleceu uma
    ortografia simplificada, consagrada nos textos oficiais de ensino.
    Esta profunda reforma não foi concertada na altura com a República
    Brasileira, e desde essa data a língua tem comportado duas grafias.
    Sucede que a língua, como realidade dinâmica que é, está sujeita a
    evolução. A ortografia do Português não é excepção e as duas ortografias
    então existentes trilharam caminhos diferentes, não obstante várias iniciativas
    dos dois países, singulares e concertadas, no sentido da unificação.

3. Quais são os Estados signatários (partes) do Acordo Ortográfico?

    Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São
    Tomé e Príncipe. O Acordo encontra-se aberto à adesão de Timor-Leste que
    em 1990 ainda não tinha reconquistado a independência.

4. Qual a estimativa de pessoas no mundo que falam a língua
portuguesa?


    Calculam-se em mais de 200 milhões as pessoas que falam Português em
    todo o mundo.

5. O Acordo foi assinado em 1990, mas só entraria em vigor com a
ratificação de todos os países? O que mudou com os Protocolos
Modificativos ao Acordo?


    O Acordo Ortográfico na sua versão original, de 1990, previa entrada em
    vigor apenas quando se verificasse a ratificação (recepção do Acordo no
    ordenamento jurídico interno do Estado) por todos os signatários.
    Os Protocolos Modificativos alteraram apenas a modalidade de entrada em
    vigor do Acordo. O conteúdo, i.e., as alterações ortográficas do Acordo Original
    mantém-se.

6. Por que foi necessário um segundo Protocolo? O primeiro não tem
valor?


    Foi necessário um Segundo Protocolo Modificativo pois a alterações
    produzidas pelo primeiro (alargando o prazo para entrada em vigor)
    demonstraram-se ineficazes. A assinatura do 2º Protocolo estabelece que, o
    Acordo Ortográfico entrava em vigor com a ratificação por três dos Estados
    signatários (naturalmente, para os Estados que procedessem à ratificação).
    O Primeiro Protocolo Modificativo, não apresenta hoje qualquer conteúdo
    prático.

    Saiba mais sobre o tema em http://www.cplp.org/comunicados.asp

7. O Acordo Ortográfico já está em vigor? Em que países?

    Sim, na ordem jurídica internacional e no Brasil, em Cabo Verde e São
    Tomé e Príncipe, por força da ratificação pelos três Estados do Acordo
    Ortográfico e do Segundo Protocolo Modificativo.

    O terceiro signatário a ratificar, S. Tomé e Príncipe, depositou os
    documentos correspondentes em Dezembro de 2006 e, por esse efeito fez com
    que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrasse em vigor no dia 1 de
    Janeiro de 2007.

    Saiba mais sobre o tema em http://www.cplp.org/comunicados.asp

8. Porquê da demora na ratificação por parte dos demais países
signatários?


    As razões que cada um dos signatários do Acordo Ortográfico tem para
    proceder ou não à sua ratificação são matéria do foro interno de cada Estado.
    A CPLP remete assim para os Estados a divulgação de informações quanto
    a esta questão.

9. Foi definida data para os Estados signatários ratificarem o Acordo?

    O Acordo, na sua redacção original (1990), previa a entrada em vigor a 1 de
    Janeiro de 1994, após o depósito dos instrumentos de ratificação de todos os
    Estados signatários. Esta disposição tornou-se letra morta quando a data foi
    ultrapassada sem terem sido efectuadas as ratificações.

    Esta redacção foi alterada pelos Protocolo Modificativos e em bom rigor,
    visto que não se extrai dos textos qualquer outra data, não existe um prazo
    para ratificação do Acordo.

10. O que acontece à ortografia do Português nos países que não
ratificarem?


    Nada. Caso não seja ratificado, o Acordo Ortográfico não se torna parte dos
    ordenamentos jurídicos nacionais dos signatários e assim as alterações que
    estabelece não se verificarão na ortografia desses países.

11. Mas podem uns países avançar com a implementação do Acordo
Ortográfico sem os demais?


    Sim, dado que está prevista a entrada em vigor desde que ratificado por
    três Estados, o que já aconteceu. Todavia, é de lembrar que o objectivo é
    unificação, e que o ideal seria que todos os países avançassem em uníssono.
    Com efeito, a medida do sucesso do Acordo Ortográfico depende da sua
    ratificação e implementação por todos os Estados signatários. Só com todos
    poderá atingir o pleno dos seus objectivos originais.

12. Existe uma estimativa quanto ao número de palavras alteradas?

    Segundo os dados disponibilizados pela Academia de Ciências de Lisboa, à
    data da celebração do Acordo, o número de palavras cuja ortografia seria
    alterada não ultrapassaria os 2 por cento! Pouco mais de 2.000 palavras num
    Universo de 110.000.

    Não estão contabilizadas: as alterações à utilização do hífen e as
    resultantes da supressão do trema, diminutas em número e de fácil apreensão.

13. Quais foram os critérios utilizados para desenvolver as novas
normas ortográficas?


    Segundo o próprio Acordo, o esforço de unificação da grafia foi presidido
    por um critério fonético, isto é, a ortografia das palavras é alterada no sentido
    de as aproximar à forma falada. (ex.: abolição das consoantes mudas).

14. Mas se o critério fonético está subjacente às alterações, o
Português falado é alterado?


    Não. A forma falada do Português não sofrerá qualquer alteração no curto
    prazo (embora não seja de excluir que, no futuro, o “p” que os portugueses
    utilizam em baptismo e pronunciam muito levemente, venha a desaparecer).
    Repare-se que no cenário actual de duas grafias, portuguesa e brasileira,
    mesmo dentro dos limites territoriais de cada um destes dois Estados, existem
    diferentes formas de falar o português, não obstante cada um dos países ter
    apenas uma ortografia.

    No mesmo sentido, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, que
    usam a ortografia portuguesa, falam o português de forma diversa, quer entre
    si, quer da falada em Portugal ou no Brasil.

    Os cambiantes da língua falada não serão afectados pelo Acordo.
    Altera-se a ortografia no sentido de a unificar, utilizando a fonética apenas
    como um dos instrumentos dessa unificação ortográfica.

15. Quais os prazos e custos para a implementação das alterações?

    O Acordo ocupa-se apenas das regras ortográficas e define um patamar de
    compromisso em termos ortográficos. Cabe a cada um dos Estados envidar
    esforços no sentido de chegar a esse patamar. O processo de implementação
    não se encontra definido no Acordo.

    Entende-se assim que caberá a cada Estado estudar as suas necessidades
    específicas e definir o plano de acção nacional, no sentido de concretizar o
    Acordo. Assim, remete-se para as autoridades nacionais qualquer informação
    sobre prazos e custos.

16. Quando se começarão a sentir os efeitos práticos? Será imediato
ou faseado?


    Sendo que cada país definirá o seu plano de acção, os efeitos do Acordo
    começarão a sentir-se à medida que as autoridades nacionais avançarem com
    a sua implementação.

    Assim, será o plano de acção nacional de implementação de cada Estado
    que definirá as áreas (ensino, administração pública, comunicação social, etc.)
    onde as alterações se farão sentir em primeiro lugar.

    Dada a complexidade relativa em termos técnicos (Ex. manuais escolares)
    e financeiros, cada Estado adoptará, provavelmente, planos de acção
    faseados.

    Recorda-se que não será a entrada em vigor, per se, do Acordo que levará
    os cidadãos a respeitarem as novas regras ortográficas. Existe uma nova
    ortografia, mas a sua implementação não é instantânea. Serão possivelmente
    definidos, pelos próprios Estados, períodos de transição para as áreas onde tal
    faça sentido, ex.: manuais escolares, gramáticas e dicionários, formulários de
    serviços públicos, contratos, etc.

17. É isto que se entende por “moratória” de aplicação do Acordo?

    Tem sido por vezes referido na imprensa que o Acordo prevê uma
    “moratória” para a sua aplicação. Tal informação é incorrecta.
    Não obstante, e como já foi abordado acima, a introdução das alterações
    ortográficas dificilmente será instantânea.

    Naturalmente existirá um período de convivência entre as duas grafias, que
    será diferente consoante o contexto. Isto é, qualquer livraria terá, durante os
    anos vindouros, livros nas suas prateleiras escritos nas duas grafias, mas
    dificilmente se encontrará, uma vez implementado o Acordo, um jornal diário
    que não reflicta as alterações.

    Por este exemplo se vê que as diferentes manifestações da língua escrita
    terão, pelos seus ciclos naturais, diferentes prazos para absorver as alterações.

Fonte: Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa
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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #23 em: Sábado, 12 de Abril, 2008 - 22h18 »
Penso que estes são dois textos essenciais para analisar mais profundamente esta polémica em redor do Acordo Ortográfico.

Opiniões contra e a favor, de Vasco Graça Moura e Carlos Reis, respectivamente.
« Última modificação: Domingo, 13 de Abril, 2008 - 17h59 por FragaCampos »
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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #24 em: Sábado, 12 de Abril, 2008 - 23h09 »
Nem de propósito, o assunto vai ser discutido no Prós e Contras na próxima 2ª-feira. Pode ser tardia, mas é uma discussão que se impunha.

Netyon

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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #25 em: Domingo, 13 de Abril, 2008 - 10h02 »
Opiniões pró e a favor, de Vasco Graça Moura e Carlos Reis, respectivamente.

Contra e favor, talvez, não?  :P

FragaCampos

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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #26 em: Domingo, 13 de Abril, 2008 - 17h59 »
 :shy: :shy: :...2: :tth:
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JRoqueDias

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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #27 em: Quarta, 16 de Abril, 2008 - 11h57 »
A minha opinião contra o malfadado acordo está nesta página do meu site:
http://www.jrdias.com/jrd-acordo-nao.htm

cab

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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #28 em: Quarta, 16 de Abril, 2008 - 15h15 »
Depois de ler grande parte da excelente explanação, na mesma fiquei em relação ao que constantemente sinto naqueles que defendem a posição contrária ao acordo ortográfico. Não será apenas uma reacção institiva de defesa da soberania linguística tipo imperialismo inato que os séculos enraizou na forma dos portugueses olharem para as suas antigas colónias? A humildade é a base dos entendimentos entre várias facções (Facções, porque por vezes parece uma guerra).
Citar
Saramago (...) «se for preciso, sentem-se outra vez à mesa, puxem as esferográficas e avancem»Citação retirada daqui
Como considero ser normal em todos os casos em que seres humanos tenham de tomar decisões que mais e melhores soluções possam existir que ainda não tenham sido exploradas, não consigo concordar com o extremar de posições em relação a algo que no seu cômputo geral benificia um colectivo em relação a um individual. Portugal sendo um estado soberano, que pode tomar as suas decisões com base nos seus interesses particulares, a meu ver, não deve afastar-se em demasia do colectivo em que se tornou a vivência dos mercados comuns, vulgo "interesses comuns". Penso ser de interesse nacional essa mesma aproximação entre escritas do português.
Há debates que devem ser efectuados? Há.
Há pontos em que o dito acordo não está correcto? Há.
Há falta de humildade no seu debate? Há.
Somos apenas humanos e como tal erramos. Sentemo-nos e melhoremos o que houver para melhorar (aproximar de posições) e não neguemos apenas... porque é muito mais fácil simplesmente negar que avançar...
« Última modificação: Sexta, 18 de Abril, 2008 - 00h22 por cab »
O conhecimento governará sempre a ignorância...

kirin

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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #29 em: Segunda, 21 de Abril, 2008 - 22h30 »
Demorou a ler tudo, mas finalmente está feito. :)

Não havendo nada que me pareça novo, o que é natural num assunto com quase 100 anos e, quanto a mim, discutido demais quando tudo poderia (deveria?) estar calmo e discutido de menos quando alguém o ressuscita, penso que o texto resume muito bem os argumentos contra o acordo. Também há, obviamente, argumentos a favor, e a opinião que já aqui manifestei leva-os em conta.

Não sou contra a evolução da língua. Muito pelo contrário, penso que a estamos a menosprezar ao absorver alegremente todos os estrangeirismos que têm surgido nos últimos anos. E quando tal não acontece, é pior a emenda que o soneto, criando-se uma nova palavra de acordo com a fonética e não com a etimologia, como "dossiê", "stresse" ou, a cereja no topo do bolo, "brífingue".
Tenho a maior simpatia por qualquer movimento, não motivado por razões políticas ou económicas, que defenda a língua e que proponha acções concretas para a sua defesa e actualização. Estou, inclusivamente, a favor de várias alterações propostas no acordo, como a introdução das letras K, X e Y (o que é diferente de dizer que novas palavras as devam usar incondicionalmente). Poderei mesmo estar de acordo com a eliminação de algumas consoantes mudas, mas tendo em conta a origem da palavra, e evitando as confusões que advêm das milhentas excepções ou de situações estranhas como as de "Egito" e "egípcio".
Quanto a alterações como as das minúsculas em meses e pontos cardeais, não tenho nada particularmente contra. Mas acho que quase se podia falar em ónus da prova. Acho que "ninguém ter nada contra" não é um motivo para alterar a língua. Alterá-la "para ser igual aos outros" não me parece melhor. Quando digo que quero defender o português, apenas o faço na medida em que falo essa língua e estou ligado à sua história. A defesa do português do Brasil ou de Moçambique é algo que não me diz absolutamente nada. Eles seguiram o seu caminho, e adaptaram a língua conforme achavam desejável. Isso é que, para mim, é a verdadeira defesa da língua, e é com essa que me identifico.

Dito isto, resta-me referir os dois (com a quantidade de opiniões manifestada, são muito poucos) pontos com que menos concordo no texto.
Em primeiro lugar, o pouco destaque que é dado àquele que sempre me pareceu o argumento mais forte, e a favor do qual nunca ouvi qualquer justificação digna de crédito - a politização e a "economização" da língua.
Em segundo lugar, em alguns momentos, o que me parece ser a excessiva personalização da crítica. Eu critico o acordo e quem o defende por motivos "ocultos", mas não (pelo menos destrutivamente) quem o defende porque realmente acha ser a melhor solução. Não conheço o Professor Malaca Casteleiro, e não sei o que o move. Discordo da sua opinião, mas respeito-a, até porque denota coerência com o seu trabalho anterior, nomeadamente no dicionário da Academia de Ciências referido no texto. E respeitando o seu trabalho, reservo-me também o direito de o ignorar, pelo que dificilmente me verão a escrever palavras como as que já referi em cima, já para não dizer "bué".

E bem-vindo à docsPT  :hand:
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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #30 em: Terça, 22 de Abril, 2008 - 02h07 »
Já escrevi isto algures...  :D

Acho que se está a dar demasiada importância às "pequenas" alterações que são apresentadas no acordo ortográfico.

Está para vir o dia em que as normas de escrita alterem a cultura de um povo.
A forma como se aplica uma escrita é influênciada pela cultura de um povo e não o inverso. Não é como se escreve as palavras mas sim as contextualizações com elas criadas que é a real identidade da escrita de um povo. Não será por se escrever "ação" em Portugal que a cultura portuguesa será colocada em causa. Até todos os povos falantes do português podem vir a escrever de forma igual "ação" que a aplicação dessa "norma" de escrita variará quase sempre, no seu sentido frásico, consoante a cultura de cada povo. (Ação--- apenas como exemplo)
Os portugueses de Portugal só perderão parte do seu "orgulho nacionalista", mas quase nada, - atrevo-me até a dizer - ou nada, daquilo que é a sua cultura linguística e frásica... :assob:

Se isso é um problema, então o que dizer da errónea transcrição do português falado para o escrito? São inúmeros os exemplos que se podem dar...
Vou colocar apenas alguns:
Coelho --- "Ninguém" soletra coelho mas sim cuelho...
Acção --- "Ninguém" soletra aceção, nem áqueção, nem aqueção mas sim áção ...
Qual a diferença entre a pronuncia do "á" de água e o "a" de acção?
Etc., etc., etc.
Ainda acham que, pelo menos, não está na altura de se fazer uma revisãozinha?  :assob:

Lembrei-me dos tempos do meu avô: Pharmacia --- Será que também "lutaram" tanto contra a a alteração do "PH" para "F"? Será que essa alteração mudou a cultura dos portugueses? Será que se passou a pronunciar farmácia de forma diferente? Será que causou alterações na sua aplicação frásica? Não!
Então tantas reticências em relação ao quê? Ao mudar? Ao evoluir?
Para é morrer! :assob:
« Última modificação: Terça, 22 de Abril, 2008 - 02h13 por cab »
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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #31 em: Terça, 27 de Maio, 2008 - 15h21 »
Já agora, e para que conste:


Acordo Ortográfico foi aprovado no Parlamento

O Parlamento aprovou hoje, com os votos favoráveis do PS, PSD, Bloco de Esquerda e sete deputados do CDS, o Segundo Protocolo do Acordo Ortográfico, mas Manuel Alegre (PS) e dois deputados do PP e Luísa Mesquita votaram contra.

Três deputados do PSD, Henrique Freitas, Regina Bastos e Zita Seabra – que invocou “conflito de interesses” por ser editora –, além de Matilde Sousa Franco, do PS, abandonaram o hemiciclo antes da votação.

Apesar de não o ter anunciado em plenário, o deputado do Movimento Partido da Terra (MPT) Pedro Quartin Graça, eleito pelas listas do PSD, disse posteriormente à Lusa que também se ausentou do hemiciclo para não participar na votação.

O acordo teve a abstenção das bancadas do PCP, PEV e dos deputados Paulo Portas, José Paulo Carvalho e Abel Baptista (CDS-PP).

Contra votaram Manuel Alegre, PS, Nuno Melo e António Carlos Monteiro (CDS) e a deputada não inscrita Luísa Mesquita (ex-PCP).

Paulo Portas e o deputado João Oliveira anunciaram declarações de voto.

O protocolo abre a possibilidade de adesão da República Democrática de Timor-Leste, que à data do Acordo (1990) ainda não era um Estado soberano.



16.05.2008 - 14h59 Lusa
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FragaCampos

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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #32 em: Sábado, 21 de Junho, 2008 - 17h43 »
Já agora, falamos tanto do dito cujo e nem sequer olhamos para ele :D
Podem encontrá-lo aqui.
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mahoutsukai

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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #33 em: Segunda, 30 de Junho, 2008 - 15h56 »
Pelo amor de Deus. Todos nós só temos a ganhar com tudo isso. Imaginem: será muito mais fácil lermos um livro escrito em Portugal no Brasil e vice-versa. Até as legendas serão mais fáceis de ser compreendida!

E lembrem-se, o português do Brasil também sofrerá modificações que não agradam muito. Mas creio que seja um mal que trará coisas boas no futuro.

 :hand:

cab

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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #34 em: Segunda, 30 de Junho, 2008 - 17h42 »
Mas creio que seja um mal que trará coisas boas no futuro.

 :hand:

Total e absolutamente de acordo  :cool:
O conhecimento governará sempre a ignorância...

csx


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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #35 em: Segunda, 31 de Maio, 2010 - 00h00 »
Pelo amor de Deus. Todos nós só temos a ganhar com tudo isso. Imaginem: será muito mais fácil lermos um livro escrito em Portugal no Brasil e vice-versa. Até as legendas serão mais fáceis de ser compreendida!

E lembrem-se, o português do Brasil também sofrerá modificações que não agradam muito. Mas creio que seja um mal que trará coisas boas no futuro.


Não creio, vivemos e dialogamos perfeitamente pela diversidade e não pela igualdade, é impensável julgar-se que vai ser mais fácil ler por ser tudo a mesma escrita, só se for para ler o codigo da vinci. Quem lê regularmente filosofia entre outros sabe que precisamos é de diversidade na lingua do que uniformidade. Gostava de ter mais tempo para explicar direitinho, mas aproveito para dizer que este acordo vai ser revogado, o movimento já está em marcha, ou fazem parte dele, ou fazem parte do rebanho que não pensa e vai atrás de tudo o q é mais fácil.

Links para a Iniciativa Legislativa de Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico:

Movimento de cidadãos:    http://ilcao.cedilha.net/
Texto da Iniciativa:          http://ilcao.cedilha.net/?page_id=92
Video da entrevista no JOrnal das 9: http://ilcao.cedilha.net/?p=239


« Última modificação: Segunda, 31 de Maio, 2010 - 00h02 por csx »

csx


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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #36 em: Segunda, 31 de Maio, 2010 - 00h03 »
O Novo Acordo Ortográfico

Contributo para uma reflexão necessária
(2.ª versão, com supressão do Anexo e do Apêndice)

Sendo portuguesa e tendo dedicado trinta e quatro anos da minha vida profissional a ensinar Português, oito dos quais na Universidade de Paris III, sinto-me com direito a exprimir publicamente o meu ponto de vista.

1. Antes de mais, e para não corrermos o risco de falar à toa, parece-me importante que todos conheçamos a atribulada história dos acordos e desacordos ortográficos entre Portugal e o Brasil.

Seguindo a “Gramática Portuguesa” de Pilar Vásquez Cuesta y Maria Albertina Mendes da Luz, Editorial Gredos, S. A., Madrid, 3.ª edição, 1971, que prefiro traduzir, para que não haja perda de eficácia, gostaria de destacar no “período das reformas ortográficas” (o 3.º da história da ortografia portuguesa) os seguintes momentos, por ordem cronológica:

1907 – a Academia Brasileira de Letras efectua uma reforma ortográfica, “mas o sistema por ela proposto foi combatido inclusive dentro da própria Corporação”.

1911 – é nomeada pelo governo português “uma Comissão de filólogos, entre os quais se destacava Gonçalves Viana, a fim de estabelecer as bases da denominada Nova Ortografia, que foi implantada oficialmente cinco anos mais tarde, em 1916, sofrendo ainda em 1927 ligeiras modificações.”

“Ao entrar em vigor em Portugal a Nova Ortografia, alguns brasileiros, como Mário Barreto, propugnaram a sua implantação na antiga Terra de Santa Cruz, não conseguindo, no entanto, ver realizados os seus desejos.”

1930 – 1931 - “o problema da reforma ortográfica volta de novo no Brasil ao primeiro plano da actualidade, sendo discutido pela própria Assembleia Legislativa. Por fim decreta-se um Acordo Ortográfico com Portugal, que é assinado a 15 de Junho de 1931.”

1940 – “aparece em Lisboa um Vocabulário Ortográfico organizado por Rebelo Gonçalves.”

1943 – “é publicado o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras.”

“Ambos diferem, no entanto, em pequenos detalhes, sobretudo na questão dos acentos. No Brasil além disso continuava a usar-se a ortografia antiga, denominada mista ou usual.”

1944 – “por decreto de 1 de Junho […] as repartições do Estado foram obrigadas a observar o Acordo com Portugal.”

“Mas a imprensa continuou a velha tradição ortográfica.”

“Para resolver as diferenças entre os dois Vocabulários Ortográficos, português e brasileiro, seria nomeada outra Comissão, que se reuniu em Lisboa, examinando pacientemente em 27 sessões as divergências existentes entre a língua falada de um e de outro lado do Atlântico.”
1945 -  “Depois de inteligentes e generosas concessões por parte das Delegações dos dois países de língua portuguesa foi assinado o Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro de 10 de Agosto de 1945.”

“No Brasil foi aprovado este Convénio por decreto-lei de 5 de Dezembro de 1945, mas não foi aceite pela imprensa nem pelos particulares, e a própria Constituição – publicada em 1946 – segue a ortografia de 1943 em vez da unificada. Por fim, e perante os múltiplos protestos que se levantavam contra ele, a Assembleia Legislativa revogou o decreto-lei que oficializava o Convénio de 1945, voltando-se outra vez à ortografia de 1943.”

1947 – é publicado pela Academia das Ciências de Lisboa, “em fraterna colaboração com a Academia Brasileira de Letras”, o Vocabulário Ortográfico Resumido, que desenvolve os princípios do Acordo de 1945.

Para completar esta panorâmica histórica da ortografia até agora em vigor, nas suas duas modalidades oficiais, falta referir uma última alteração, do início dos anos 70.  Em “Saber Escrever, Saber Falar” (Edite Estrela e outros, edição Dom Quixote, 2003), pode ler-se:


“Foram abolidos os acentos circunflexos e os acentos graves com que se assinalavam as sílabas subtónicas dos vocábulos derivados com o sufixo –mente e com os sufixos iniciados por z. “

Entrada em vigor destas alterações:

1971 –  no Brasil.
1973 -  em Portugal, com o Decreto-Lei n.º 32/73 de 6 de Fevereiro.


2. Em função do percurso histórico referido no ponto anterior, parece-me legítimo concluir:

2.1. O facto de existirem duas ortografias consolidadas e oficiais para a língua portuguesa resulta da opção sistematicamente feita pelo Brasil, no exercício da sua soberania, de não aceitar os acordos assinados pelos nossos dois países.

2.2. Em Portugal – e até agora nos restantes países lusófonos – a ortografia em vigor decorre, no essencial, do Acordo Luso-Brasileiro de 1945. Parece-me que ela  funciona perfeitamente, pois traduz um saudável compromisso entre a tendência etimológica, que mantém o português próximo das outras línguas românicas, e a tendência fonética, que não se pode confundir com a pura transcrição fonética da língua falada.

2.3. A dupla ortografia da nossa língua não impede, como não impediu até agora, nem a sua unidade, no respeito pelas suas variantes, nem a sua projecção universal, nem a sua difusão através do mundo.

Em abono do que afirmo, passo a citar:

- “… esta Gramática pretende mostrar a superior unidade da língua portuguesa dentro da sua natural diversidade …” (Prefácio da Nova Gramática do Português Contemporâneo,  Celso Cunha e Lindley Cintra, Edições João Sá da Costa, 1ª edição 1984);
- e uns excertos do Manuel de Langue Portugaise – Portugal-Brésil , Paul Teyssier, Éditions Klincksieck, 1976, que traduzo do original francês, (o destaque a negro é meu):

«Ninguém hoje em dia tem dúvidas: o português é uma das grandes línguas do mundo. Falado em Portugal, no Brasil e em diversos países da África e da Ásia agora soberanos, o português ocupa vastas zonas do globo. Figura em boa posição no grupo das línguas com vocação internacional. […]


Por fim – e essa é, em nosso entender, a principal originalidade da presente obra -, considerámos o português como um todo, apesar das diferenças que separam a sua forma brasileira da sua forma europeia. A maior parte das gramáticas […] descreviam a língua segundo uma das duas normas apenas […] devido às divergências ortográficas que existiam entre Portugal e o Brasil. Mas há pouco tempo os dois países aproximaram as suas ortografias de tal maneira que, sem ser ainda completa, não deixa de ser decisiva. Pode-se portanto agora, pela primeira vez desde há muito, redigir uma gramática portuguesa sem ficar embaraçado com o problema ortográfico. […] Nem é preciso dizer que foram assinalados os pequenos detalhes para os quais a unificação da língua ainda não é total. […]


Existe de facto, com toda a evidência, uma unidade da língua portuguesa.»


Na Introdução desta mesma obra:

- veja-se ainda algo que contraria, por um lado, a ideia de que as diferenças ortográficas constituem um problema insolúvel no que toca ao ensino do português no estrangeiro, e por outro, a convicção de que uma ortografia “unificada” (?) aplanaria as dificuldades inerentes ao facto de haver, com toda a legitimidade, duas normas realmente distintas: 

«Existem diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil. Estas diferenças dizem respeito a todos os aspectos da língua, - fonética, vocabulário, morfologia, sintaxe. A própria ortografia não está ainda totalmente unificada. […] Há assim duas normas do português, formando cada uma delas um sistema autónomo e coerente. O estrangeiro que aprende a língua terá portanto de optar à partida quer pela norma portuguesa quer pela norma brasileira, e não sair dela. Mas todo aquele que quiser verdadeiramente dominar o português deverá, depois de possuir os mecanismos inerentes à norma que tiver escolhido, adquirir um certo conhecimento das principais características da outra. […]

- saliente-se também uma vantagem reconhecida à norma de Portugal, porque mais clara, consolidada  e definida, características que facilitam o ensino/aprendizagem da língua no estrangeiro:

A norma de Portugal é bastante fácil de definir, pois ela goza de um vasto consenso e foi muitas vezes estudada. A do Brasil, pelo contrário, coloca um problema específico, pois está longe de ser universalmente reconhecida pelos próprios brasileiros. Enquanto esperamos que, como em Portugal, um consenso se estabeleça no Brasil, a apresentação da norma brasileira terá de permanecer
muitas vezes incerta e imprecisa.»

3. Qual é então o problema que este Acordo Ortográfico supostamente iria resolver?

Verificámos ser aceite por todos que – independentemente da sua unidade – a língua portuguesa tem duas normas padrão, uma americana e outra europeia, esta até agora também em uso nos países lusófonos da África e da Ásia, embora com as suas próprias variantes, o que só lhe acrescenta vida e riqueza. A dimensão universal do português está aí, reconhecida por todos – e com a ortografia dupla, o que não impede coisa nenhuma.

Vem a propósito dizer que, quando leccionei português em Paris III (1972-1980), os alunos escolhiam à partida qual a norma que pretendiam, havendo professores para cada uma delas, e que isso era perfeitamente pacífico.

Mas aqui é que intervém de facto uma questão de ordem política responsável pela tão desejada projecção universal da nossa língua:
- em que medida está o nosso país disposto a investir economicamente  na difusão da língua e da cultura portuguesa, na sua defesa nas instituições internacionais, na investigação linguística e literária, na formação de tradutores, na produção de obras, inclusive de bons dicionários (não temos um único que se possa comparar, por exemplo, com o “Petit Robert”), na qualidade dos métodos, gramáticas e outras obras didácticas para o ensino do português no estrangeiro, na formação de professores, na criação e apoio aos Leitorados…? De que meios dispõe, por exemplo, o Instituto Camões?

E mais: para quando a mudança de mentalidades tendente a valorizar o conhecimento e a aquisição da nossa língua, fora (incluso colaborando com os países lusófonos que assim o desejarem) e dentro do país (ninguém parece preocupado com o analfabetismo galopante dos portugueses)?

Recordo que, em Paris, os Leitores de Português, numa reunião com um alto representante da instituição portuguesa de que dependiam, tendo-se queixado da falta de apoio linguístico que dificultava e limitava a sua eficácia, ouviram a seguinte resposta: “Ensinar a língua não é uma tarefa de docente universitário”! Traduzindo: os pergaminhos dos nossos universitários não se compadecem com questões de tão diminuta importância!

É este preconceito, ainda hoje profundamente enraizado no espírito de muitos intelectuais e políticos portugueses, que faz com que se procure dar visibilidade e universalidade à nossa língua através de “gestos espectaculares” - como esta proposta de Acordo - a milhas de distância do trabalho de gabinete e de campo que deveria ser feito.

Vem a propósito, porque este nosso vezo já vem de longe, transcrever umas passagens do Prefácio ao “Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea”, da Academia das Ciências de Lisboa, Editorial Verbo, 2001:

“A Academia das Ciências de Lisboa deve ser talvez, de todas as suas homólogas europeias fundadas no século XVIII, uma das poucas que, na sua já longa existência de 222 anos, não conseguiu publicar um dicionário completo do seu próprio idioma. É verdade que editou logo nos seus primórdios (em 1793) um poderoso volume in-folio com o léxico português da letra «A». Em 1976 publicou novamente, com a modernização indispensável, um tomo relativo à mesma letra. Dir-se-ia que um insuperável obstáculo impedia os académicos de se adentrarem pelas restantes letras do alfabeto. […]
Para publicar um dicionário do idioma português contemporâneo eram indispensáveis fundos que bastassem para remunerar linguistas bem preparados trabalhando a tempo inteiro, sob a orientação de um filólogo competente. O orçamento da instituição mal chega para a sua sobrevivência.»
     (José Vitorino de Pina Martins, Presidente da Academia das Ciências, 15/12/2000)

Finalmente, com o apoio – decisivo - da Fundação Calouste Gulbenkian, foi possível a realização deste dicionário.
O que seria da nossa cultura sem esta poderosa instituição?

Voltando à discussão sobre o Novo Acordo Ortográfico, recordemos algumas posições públicas salientando a importância destes aspectos para uma verdadeira política da língua.

Dizia no último “Prós e Contras” (14/04/08), a escritora Lídia Jorge, defensora do dito Acordo: “só o Acordo não fará nada; é necessária uma política da língua; não há estratégia; o Instituto Camões precisa de meios” (cito de memória). Também a Professora Alzira Seixo, que se opõe ao Acordo, salientou – e foi muito aplaudida - a importância de se investir no ensino do português, sendo aí que reside a verdadeira valorização da língua.

4. A quem aproveitaria este Acordo, pergunto eu, como se costuma fazer em relação ao crime perpetrado, nos romances policiais?

Há pequenos detalhes, aparentemente insignificantes, que me parece importante assinalar.

No acima referido programa de televisão, depois de a apresentadora afirmar convictamente, “não é a pronúncia que vai ser alterada, é a escrita que vai ser alterada”, foi mostrada uma peça introdutória, a preto e branco, visivelmente destinada a dar a perspectiva histórica da questão ortográfica. Resumia-se mais ou menos a isto: em 1911, a recente República Portuguesa aprova unilateralmente uma reforma ortográfica e assim a língua portuguesa ganha duas faces, uma para Portugal e outra para o Brasil; os anos passam sem que haja uma unificação ortográfica; no final da 2.ª guerra mundial, falha a primeira tentativa de acordo, o que se repete após a adesão de Portugal à União Europeia; em 1990, surge finalmente o Acordo Ortográfico da língua portuguesa.

Se isto não é desinformação, então não sei o que isso seja! Veja-se nos pontos 1. e 2. o histórico desta questão e a responsabilidade do Brasil nesta matéria!

Mas há mais: no mesmo programa, o Professor Carlos Reis, soberanamente seguro, referiu a certa altura que “as quezílias não interessam, porque hoje não são só dois países, são oito” – outra maneira de minimizar a responsabilidade histórica do Brasil, procurando ainda insinuar que há quem esqueça os outros países da CPLP, desrespeitando a sua soberania, o que só pode ser sinónimo de reflexos neocolonialistas.
   

Vejamos agora a “Breve notícia histórica” no recém-publicado livrinho que apresenta “as novas alterações” a introduzir pelo Novo Acordo Ortográfico, da autoria de J. Malaca Casteleiro e P. Dinis Correia, da Texto Editores.
 
Como, usando uma expressão bem antiga, não convém “pôr o carro adiante dos bois”, e porque recuso, por a considerar desonesta, o recurso à táctica do “facto consumado”, passo a citar, corrigindo a ortografia, de acordo com o que está em vigor para a norma portuguesa:

   “A questão da unificação ortográfica da língua portuguesa arrasta-se desde 1911. Nesta data foi adoptada em Portugal a primeira grande reforma ortográfica. Ora, fixar legislativamente a ortografia de uma língua constitui um acto de soberania, acto praticado por Portugal, sem a participação do Brasil (então o outro grande país de língua portuguesa), o qual não acatou aquela reforma “(o sublinhado é meu).

Comentário:
 
Recordo (v. ponto 1.) que em 1907 já o Brasil tinha efectuado uma reforma ortográfica; além disso, esta passagem mostra que se ignora totalmente a época, o contexto histórico, tanto no nosso próprio país, como no que toca às relações políticas e culturais entre os dois países. É como se tudo tivesse acontecido agora, no contexto e com os valores actuais. Não será isto uma maneira tendenciosa de apresentar os factos?
Esquece-se quão recente era ainda a independência do Brasil (1822), com tudo o que isso significa de necessidade de afirmação, de distanciamento, em relação a Portugal, inclusive no respeitante à língua. E se puséssemos a questão ao contrário: não seria sentida como um desrespeito pela sua soberania uma tentativa de aproximação das duas ortografias da iniciativa da antiga “metrópole”? 

Mas continuando a citação:

“Durante todo o século XX foram várias as tentativas, entre Portugal e o Brasil, para se chegar a uma ortografia comum. Essas tentativas ocorreram em 1931, 1943, 1945, 1971/1973, 1986 e 1990. Nestas duas últimas tentativas participaram já os novos países africanos, emergentes da descolonização portuguesa.”

Comentário:

Compare-se a ideia dos factos dada por este resumo com o historial dos mesmos apresentado no ponto 1. e com o exposto no ponto 2. Os factos mostram que, se todas as tentativas de aproximação falharam, foi porque os brasileiros – no exercício da sua soberania - fizeram pressão para que isso acontecesse. E aí, deram-nos uma lição de resistência que talvez devamos aproveitar.
O objectivo do parágrafo transcrito é informar ou desinformar, pergunto eu?
Já agora, lembremos o poeta modernista brasileiro, Manuel Bandeira, em “Evocação do Recife”, defendendo “como norma a língua errada do povo / língua certa do povo / porque ele é que fala gostoso / o português do Brasil. / Ao passo que nós / o que fazemos / é macaquear a sintaxe lusíada.” (v. Gramática Portuguesa, Pilar Vasquez Cuesta y Maria Albertina Mendes da Luz, já anteriormente citada).

No mesmo livrinho, mais adiante diz-se:

“Em Julho de 2004, numa reunião da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), […] foi aprovado, por unanimidade, e já com a participação de Timor-Leste, um protocolo modificativo do Acordo, segundo o qual este entraria em vigor, desde que ratificado apenas por três países. “

Comentário dirigido à CPLP:

Para quem vem apoiando a defesa do Acordo no respeito pela soberania de todos os povos que usam a língua portuguesa, considero este ponto, no mínimo, surrealista. Gostaria mesmo de saber de qual dos países partiu esta brilhante ideia. Três países podem decidir do que diz respeito a oito? Tanta preocupação com a soberania dos povos prescinde da unanimidade numa questão vital como esta? Está-se a abrir caminho à táctica da imposição do “facto consumado”? E quem tem poder económico para impor o “facto consumado”? E não se chama a isto “traição”?
E quem é que já efectuou «esta nova ratificação» (ibid.)? O Brasil, evidentemente,  Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Dá que pensar!...

Em função destas considerações, concluo que há quem esteja muito interessado e agora muito apressado na concretização deste Acordo (por questões de imperialismo, de prestígio nacional, de gloríola pessoal, de grandes lucros em perspectiva, e outras mais certamente – que não a defesa da língua portuguesa, nem da sua universalidade, que, como já vimos, não precisa deste Acordo para nada).
 
Concluo também que alguém está sabendo muito bem tirar partido de algumas características nacionais, para melhor manipular a opinião pública, a saber:

- a atracção pelas modas, todas, inclusive as de linguagem (veja-se como tantos já optaram por escrever “dossiê”, “ateliê”, “robô” e outras grafias propostas recentemente para galicismos até agora sempre usados com a grafia original, respectivamente dossier, atelier, robot);

- o pavor de parecer antiquado, imobilista, conservador, sem coragem para mudar, incapaz de modernidade;

- depois da Revolução de Abril, o pânico de ser considerado neocolonialista ou apologista do “orgulhosamente sós”;

- uma certa falta de espírito crítico, de convicção e de coragem, o que leva muitos a antecipar atitudes, comportamentos, opiniões, que lhes parecem poder agradar aos poderosos do momento;

- uma boa dose de ignorância, associada à capacidade de opinar, com jactância e sem complexos, sobre aquilo de que não se percebe nada.

 5. Porque estou a ter tanto trabalho a reflectir sobre este Acordo?

Antes de mais, porque sou uma cidadã portuguesa e, como tal, considero a minha língua algo que faz parte da minha identidade, da minha construção e existência como pessoa, individualmente e na minha relação com os outros.

Em segundo lugar, porque me aflige ver o alheamento e a passividade de um grande número de portugueses, perante uma questão que se me afigura vital para todos nós: talvez consiga ajudar os outros a pensar.

Depois, porque somos todos responsáveis, à escala planetária, pela preservação do riquíssimo e variado património linguístico da humanidade, reagindo à lei do mais forte, uniformizadora, tendendo a impor-se, em detrimento dos mais fracos.

E, finalmente, porque sou contra este Acordo desde 1990, pelos motivos que apresentarei mais abaixo.
?Antes disso, porém,  quero lembrar as razões avançadas por quem o defende.

Voltando ao livrinho da Texto Editores, encontramos três razões:
- “de natureza histórica” – “pôr cobro a uma deriva ortográfica de quase um século”;

- “de âmbito lusófono e internacional” – sendo uma língua de comunicação tão espalhada, com tantos falantes e usada em várias organizações internacionais, é “urgente que disponha de uma só ortografia unificada”;

- “de natureza pedagógica e também internacional” – uma só ortografia “facilita a aprendizagem”.

Tendo em conta tudo o que tenho vindo a dizer, considero estas razões inconsistentes e respondo-lhes do seguinte modo:

- “a deriva ortográfica” tem explicações históricas, como vimos, e a história não se reescreve;

- a dupla ortografia não impediu que a língua ganhasse a dimensão que agora tem, nem é impeditiva de que continue a tê-la (já referi muitos dos factores que são decisivos para isso e que não têm nada a ver com a ortografia  - v. ponto 3.);

- a unificação (?) da ortografia não “facilita a aprendizagem” porque:

- as crianças dos países lusófonos não são menos capazes do que as outras, que têm por vezes de enfrentar ortografias bem mais complicadas (olhemos, para não sair das línguas românicas, para o francês, com uma ortografia marcadamente etimológica e gramatical e o italiano, carregado de consoantes duplas - como em ottimo, em que o p não desapareceu, antes foi assimilado ao t) ;
 
- a aprendizagem da língua materna não depende da ortografia e começa muito antes da aprendizagem da leitura e da escrita, nomeadamente no meio familiar e nas instituições pré-primárias; pelo contrário, segundo o linguista francês Alain Bentolila, conselheiro científico do “Observatoire de la lecture” (Observatório da leitura), o que facilita ou dificulta a aprendizagem da leitura é “o dicionário mental”, isto é, a extensão e a qualidade do vocabulário de que a criança dispõe ao abordar essa fase da escolaridade (citado pelo jornal Le monde, consultado na Internet em 12-12-2005);

- quanto à aprendizagem do português pelos estrangeiros, já vimos como a norma e a ortografia europeias têm vantagens, porque mais consolidadas, sendo objecto de um largo consenso  (v. Paul Teyssier, designadamente, ponto 2.). O problema está na convicção com que nós, portugueses, investimos na difusão do português no estrangeiro (v. ponto 3.) e no modo como defendemos e impomos a nossa língua, no nosso próprio país (ver, por exemplo, como se comportam os ingleses em Portugal).

Em suma, os argumentos dos defensores do Acordo não me convencem. Sem querer diabolizar a questão, acho mesmo que há interesses de outra ordem que não são claramente assumidos, mas que não têm nada a ver com a defesa da unidade e prestígio da língua portuguesa.

Sou contra este Acordo designadamente pelas seguintes razões:


- porque é desnecessário, como resulta do que disse atrás, já que a dupla ortografia não impediu em nada a projecção universal da língua;

- porque é inútil, visto que não unifica nada, mantendo-se divergências importantes e duplas grafias em numerosos vocábulos, em Portugal e no Brasil;
- porque aumenta o número de vocábulos em que é possível mais do que uma grafia, dentro da mesma norma e no mesmo país (veja-se o que já acontece no caso dos galicismos atrás referidos –dossier /dossiê – por influência do Dicionário da Academia das Ciências);

- porque altera essencialmente as palavras da norma europeia que mantêm, por razões etimológicas e de pronúncia, as tais consoantes mudas que o Brasil já suprimiu;

-  porque essas alterações desfiguram a nossa norma, dando-lhe um aspecto de coisa escrita “de ouvido”, o que lhe faz perder as raízes que a aparentam às outras línguas românicas e que são também factor facilitador da sua aprendizagem no estrangeiro e da compreensão mútua;

- porque é perigoso, dado que viria a ter forçosamente consequências a nível da nossa pronúncia, sobretudo junto das gerações mais novas e em zonas mais afastadas, do país ou do globo;

-  porque sendo de prever, graças aos meios de que dispõe, a predominância do Brasil, no que toca à edição, difusão e circulação de textos de toda a ordem, inclusive das suas traduções, assim como no imenso universo das novas tecnologias, corremos o risco de, por influência, não só na  pronúncia mas também noutros aspectos (nomeadamente na sintaxe, no vocabulário), a nossa norma se descaracterizar.
Note-se, por exemplo, a influência das telenovelas brasileiras na linguagem falada de jovens e não só – eu disse a ele; ela falou que vinha; eu ajudei-lhe / convidei-lhe; estive três horas na fila, por “estive três horas na bicha” - e os miúdos já corrigem os mais velhos!   

- porque a desagregação previsível da norma europeia seria grave, pois esta deve manter-se como a matriz, a referência que salvaguarda a unidade da língua, na sua diversidade e nas suas variantes, inclusive africanas e asiáticas;

- porque, dito de outro modo, uma língua viva evolui e resiste mercê do equilíbrio entre  duas forças opostas: conservação e inovação; e é à norma europeia usada em Portugal, porque mais estável, mais consolidada e mais limitada no espaço, que cabe a responsabilidade pela coesão entre todas as variantes espalhadas pelo planeta e sujeitas às mais diversas influências;
 
- porque defender a norma europeia, que é a nossa, é um dever imprescritível, para nós, que somos europeus;

- porque se nós, portugueses, não somos os “donos da língua” que espalhámos pelo mundo e que agora partilhamos com outros povos soberanos, também não perdemos o direito a ela, nem o dever de preservar a sua integridade, para que os vindouros a recebam clara e límpida, mais rica, forte e bela, como os melhores no-la deixaram;

- porque é a qualidade do ensino disponibilizado a todos os cidadãos que garante o prestígio da língua;

- porque este Acordo iria trazer uma instabilidade acrescida ao nosso já tão atribulado e pouco eficaz sistema de ensino, quando precisamos, como do pão para a boca, de reunir esforços para vencer a batalha contra a iliteracia; é por aqui que passa o futuro do país e não por serôdios sonhos imperialistas;

- porque esta “reforma da ortografia” teria para os países que usam a norma europeia custos humanos e materiais incalculáveis;
- porque, enfim, tanto nós como os outros países lusófonos, incluindo o rico, imenso, populoso Brasil, deveríamos ter como prioridade a erradicação do analfabetismo e da miséria.



Conclusão


Remeto para a leitura dos argumentos apresentados em artigos, textos, opiniões, estudos, análises que têm vindo a lume sobre esta matéria e ainda para os debates que tem suscitado. Pessoas bem mais competentes do que eu, escritores, professores, linguistas, estudaram detalhadamente o que muda e o que está em causa - é preciso ouvi-las e lê-las.

Não posso deixar de referir, muito especialmente, o incansável Dr. Vasco Graça Moura, um opositor da primeira hora, que muito nos honra e à nossa língua, pela sua obra multifacetada, e cujo talento de tradutor foi agora reconhecido pela Itália, atribuindo-lhe o Prémio de Tradução 2007.

Antes de terminar esta minha reflexão, mais uma questão que me importuna:

-  Porquê esta pressa em ratificar e fazer aplicar este Acordo?

- E porquê justamente agora, no momento em que Portugal e a nossa língua ganharam prestígio e visibilidade, a nível europeu e mundial, por mérito próprio, e graças ao modo como assumimos a Presidência da União Europeia – recorde-se o Tratado de Lisboa e as Cimeiras com o Brasil e depois com a África?

- E já agora, o que fizemos com o nosso Prémio Nobel, José Saramago, um escritor universal, uma verdadeira glória, para nós e para a humanidade? Se não fossem os espanhóis, que sabem que a cultura não tem fronteiras, quem sabe, talvez o país o conseguisse completamente esquecer?...

Seremos nós masoquistas? Ou, mais uma vez, repetindo erros passados, estaremos nós a tentar matar “a galinha dos ovos de ouro”? Ou será que, como o cuco, vamos pôr os ovos no ninho alheio, para não termos de nos ocupar deles?


Resta-me apelar aos nossos responsáveis políticos – Presidente da República, Governo, Assembleia, Autarquias, Deputados Europeus -  para que não se precipitem, pois  têm em mãos uma tremenda responsabilidade, que infelizmente nem todos terão condições para assumir em perfeita consciência.



Lagos, 25 de Abril de 2008



                                             Maria José Abranches Gonçalves dos Santos

csx


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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #37 em: Segunda, 31 de Maio, 2010 - 00h16 »
E em jeito de conclusão, se alguns ainda serem da côr do acordo ortográfico e não valorizarem nem têm orgulho em quem são, sempre podem ir mais á frente e pedir um acordo Portunhol, Português com espanhol, que é esse que fala o nosso primeiro ministro. Tornava-se logo a língua mais falada do mundo :)

noob

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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #38 em: Segunda, 31 de Maio, 2010 - 00h36 »
Sinceramente não percebo para quê tanta coisa com os acordos ortográficos. Os dois países já falam e escrevem de maneira diferente à centenas de anos, porque e' que agora e' que se foram lembrar (pelos vistos novamente, depois das inúmeras tentativas falhadas no passado, segundo o texto postado acima) disto?

Tudo bem que as línguas evoluem mas evoluem pelo falar do povo, que e' quem a usa no dia-a-dia, e não pela "obrigação" de o fazer devido a acordos assinados.

Fiquem bem :D
« Última modificação: Segunda, 31 de Maio, 2010 - 00h38 por noob »

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Re: Mas será que é possível? (ou o Novo Acordo Ortográfico)
« Resposta #39 em: Segunda, 31 de Maio, 2010 - 03h45 »
Brasileiros burros , português é a língua de Portugal !
O Brasil deve tomar vergonha na cara e banir o português como lingua oficial , deve se fazer uma transição usando a língua inglesa e adotar o verdadeiro idioma do Brasil que é Tupi Guarani língua dos índios nativos do Brasil que foram massacrados pelos colonizadores europeus , o Brasil diz não ser mais colônia de Portugal mais continua usando o português como língua ,atitude típica de brasileiro mesmo povo acomodado e preguiçoso ainda venera e bajula seus colonizadores .